Celso Oliveira está num momento de franca experimentação na carreira. Ao ministrar aulas para turmas iniciantes na fotografia – cujos integrantes têm procurado a arte de modo a fomentar diferentes apelos do cotidiano – considera estar mergulhando em outros terrenos.
“Para mim, tudo tem sido novo. Parece que estou aprendendo novamente”, confessa o veterano. “São vivências, uma troca constante”.
Esse espírito colaborativo e de perene intercâmbio na rotina do premiado fotógrafo sintoniza-se bem com a mostra que terá abertura hoje (19), às 19h, no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc-UFC). Trata-se da exposição “Alusão: livre criação sobre um olhar fotográfico”, em que os registros de Celso ganham nova leitura a partir do trabalho de 13 artistas visuais.
Os suportes e técnicas que englobam o projeto são variados e fascinam pela criatividade. Da pintura à escultura, passando pela cerâmica, xilogravura e desenho, são plurais os modos de traduzir a essência das imagens captadas por Oliveira – notadamente marcadas por um apreço pela cultura popular e as festas religiosas do Norte e Nordeste do Brasil.
“Celso Oliveira sempre teve uma relação amistosa conosco, e essa aproximação fez surgir uma disponibilidade dele e um interesse da gente de fazer uma interpretação do olhar fotográfico dele”, explica o designer e artista visual Túlio Paracampos, integrante do Grupo Matrix, à frente da iniciativa, com sete participantes na mostra.
Os outros seis são nomes recentes no ramo das Artes Visuais do Estado. Apesar do pouco tempo na área, têm refletido o esmero técnico necessário para dar vazão à proposta da exposição.
Rompimento
25 obras ganham as vistas do público em “Alusão”. Elas foram gestadas pelas mãos de Francisco Bandeira, Sérgio Lima, Nauer Spíndola, Diego Sann, Francelino Eduardo, Karine Garcêz, Túlio Paracampos, Wilson Neto, Marcelo Silva, Rafaela Teixeira, Abelardo Brandão, Ricardo Vieira e Tereza Joca.
Tomando como ponto de partida apenas as fotografias de Celso, escolhidas livremente por cada um, os artistas rompem padrões e deixam ganhar fôlego a inventividade, propondo um interessante diálogo entre o ofício do homenageado e as diferentes formas de expressão.
Não à toa, ao lado de cada peça exposta, há a imagem original que inspirou o feito, auxiliando na apreensão completa da essência das obras.
Diego Sann, no texto de apresentação da mostra, sublinha esse relevante aspecto de permuta. “É propiciado ao público a reflexão crítica sobre a capacidade humana de captar poeticamente a luz da fotografia de Celso de Oliveira para criar novos olhares”, situa, destacando ainda que a mostra “busca valorizar a produção de artistas com reconhecimento e experiência artística internacional e propicia a emergentes espaço em um dos museus mais aclamados de Fortaleza”.
Por sua vez, da parte de Túlio Paracampos, talvez o maior legado que a exposição deixa é a celebração da parceria entre artistas, algo cada vez mais observado na dinâmica contemporânea de trabalho. Segundo ele, “observo que é algo que está acontecendo, que tem sido retomado, e é bastante motivador, tendo em vista que seu ofício pode inspirar outras pessoas no ramo e reflete um processo bastante colaborativo, em que um contribui no fazer do outro”.
Arte democrática
A homenagem foi recebida com entusiasmo e surpresa por Celso Oliveira, que afirmou estar bastante feliz pela oportunidade de fazer com que distintos saberes possam convergir na mostra. Na ótica do fotógrafo, essa versatilidade no trato com seus registros reflete algo muito maior acerca do próprio ofício que executa.
“A primeira coisa que sinto quanto à fotografia é que ela é uma das artes mais democráticas que existem. Qualquer pessoa pode fotografar, até com celular consegue fazer isso. O que falta, em muitos casos, é a questão do olhar, de como você enxerga, percebe e sente as coisas”, considera.
E completa: “Hoje, a fotografia se estende para vários campos e, para muita gente, é difícil entender isso, essa mudança no ramo. Acredito que ainda vai demorar muito para uma boa quantidade de pessoas superar essa época”.
Talvez realmente custe. Contudo, a experimentação e o gosto pelo inovar está tanto no seio do trabalho desenvolvido por Celso quanto na gênese do Grupo Matrix – criado em outubro de 2014 em Fortaleza e, desde a data, firmado como um do mais influentes no ramo – o que abre precedentes para que novas incursões sejam cada vez mais oportunizadas no Estado.
O resultado certamente poderá ser sentido aos poucos, quebrando, com eficácia e originalidade, padrões hegemônicos de representação estética.
É feito escreve Diego Sann: “Para surgir novas possibilidades poéticas, dialogar é fundamental: estar junto – observar, conversar, construir”, matizes aparentemente simples, porém seminais na construção de novas perspectivas.
É feito também a fala de Celso Oliveira quando demonstra a potência de fazeres que, sob o jugo da fotografia, espalham-se para outros formatos. “Daqui para a frente, vamos avançar ainda mais. Com boa vontade, pequenos ensinamentos e criatividade, tudo é possível”. “Alusão” está aí para provar que é mesmo verdade.
Serviço
Abertura da exposição “Alusão: livre criação sobre um olhar fotográfico”
Nesta terça-feira (19), às 19h, no Museu de Arte da UFC (Av. da Universidade, 2854, Benfica). Em cartaz até 20 de dezembro. Visitações: de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h; aos sábados, somente mediante agendamento. Acesso gratuito. Contato: (85) 3366-7481