Espetáculo 'Pintosas' mistura dança, resistência e liberdade de corpos gays, pretos e afeminados

Apresentações acontecem de forma gratuita nesta sexta-feira (7) e no dia 20 de junho em celebração ao mês do Orgulho LGBTQIAPN+

Todos temos direito à vida. É lei, está na Constituição. Mas a realidade da comunidade LGBTQIAPN+ ainda está longe de refletir essa urgência. Felizmente, espetáculos como “Pintosas” põem o dedo na ferida de modo a bradar, em alto e bom tom, o quanto é preciso respeito, liberdade e dignidade, sobretudo para corpos gays, pretos e afeminados.

A montagem será apresentada nesta sexta-feira (7), às 19h, no Cineteatro São Luiz, e no dia 20 de junho, às 20h, no Teatro São José. À frente da performance estão Jessi Almeida e Anderson Vieira. Ambos bailarinos pretos, periféricos, gays e afeminados, naturais de Aquiraz (CE), empreenderam pesquisa para validar a potência do próprio fazer artístico.

“O processo do espetáculo veio a partir de uma auto vivência e uma auto necessidade de se afirmar em sociedade – não somente como artista, mas principalmente como pessoa viva, LGBT, às margens da sociedade, criticada e colocada como um padrão fora do padrão”, reflete Jessi. O ponto-chave de entendimento do trabalho, assim, é a busca de defesa.

Defesa não apenas em dimensão pessoal, mas abarcando todo o projeto de uma comunidade. No palco isso se traduz em força desde o ano passado, quando da estreia do número. Com virtuosismo e descontração, a dupla de bailarinos – dirigida por Circe Macena – aborda as próprias narrativas e encenam memórias da infância e da vida adulta em meio a denúncias de fatos envolvendo figuras históricas da cultura LGBTQIAPN+.

“Acredito que a maior reflexão do Pintosas é fortalecimento, união e colocar esses corpos em evidência viva. Afirmar ‘estamos aqui, vivos e presentes’”. Um colocar-se à vista por tantos que já tiveram as vidas ceifadas por serem quem são e para mostrar que o mundo e estar no mundo é coisa preciosa e de direito.

Palco aberto para a identidade

Nascido em 2019 durante o percurso formativo da VI Turma do Curso Técnico em Dança (CTD), da Escola Porto Iracema das Artes, “Pintosas” encanta justamente pela honestidade dos artistas em cena. Jessi e Anderson se permitem quebrar o invólucro social a fim de mostrar que todos precisamos, em meio ao caos, dançar para sobreviver.

“A montagem tem uma reflexão muito forte no sentido de se colocar como uma das ferramentas capazes de colocar a bicha-preta-afeminada, e também a bicha, a preta e a afeminada – bem como toda a comunidade – em um palco. E esse palco será visto, essas pessoas serão, sim, aplaudidas, por serem quem são”.

Para ele – com formação em técnica clássica e dança contemporânea, além de bailarino e professor da Companhia de Dança Edisca e de vários outros espaços – pessoas LGBTQIAPN+ trazem ativismo e defesa nas próprias veias. Possuem missão de continuar em movimento, logo, dançando, interpretando e cantando a existência.

“A importância do ‘Pintosas’ neste momento é de continuar vivo e colocando em cena que pessoas feito nós existimos. E vivenciando o que a gente vive diariamente – encarando gente que cada vez mais quer destruir nossos direitos. Talvez assim o Brasil e, quem sabe, o mundo, consiga entender que temos direito à vida”.

 

Serviço
Espetáculo “Pintosas”, de Jessi Almeida e Anderson Vieira
Nesta sexta-feira (7), às 19h, no Cineteatro São Luiz (R. Major Facundo, 500 - Centro), e no dia 20 de junho, às 20h, no Teatro São José (R. Rufino de Alencar, 299-327 - Centro). Gratuito. Mais informações por meio das redes sociais do espetáculo