A artista cearense Verónica Valenttino, de 38 anos, venceu a categoria “Melhor Atriz em Musicais” da 9ª edição do prêmio Bibi Ferreira. A entrega aconteceu na noite de quarta-feira (21), em São Paulo.
Os mestres de cerimônia do evento foram os atores Alessandra Maestrini e Miguel Falabella.
Natural de Fortaleza, Verónica estudou Artes Cênicas no Instituto Federal do Ceará (IFCE), começando a carreira em 2004.
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O reconhecimento é pela interpretação da personagem Brenda Lee, protagonista na peça "Brenda Lee e o Palácio das Princesas", que ficou em cartaz entre julho e setembro deste ano na capital paulista.
O espetáculo
Ao Diário do Nordeste, Verónica contou um pouco sobre o espetáculo e a premiação.
A atriz explica que a trama traz a história de Brenda Lee, travesti dos anos 1980 que abriu a primeira casa de acolhimento para pessoas LGBTQIA+ e pessoas vivendo com HIV e aids.
Ela disse que participou de uma audição com travestis de todo o Brasi para a peça, que, inicialmente, teve de estrear em formato audiovisual em razão da pandemia de Covid-19.
“Era uma época em que a epidemia da aids matava muita gente, e o acesso à saúde para esses corpos era bem difícil, caótico até. E a Brenda, essa travesti pernambucana radicada em São Paulo, abre o espaço e começa a acolher essas vítimas do sistema”, detalha.
Verónica lembra que, naquele período, especialmente em 1987, ocorria a operação batizada de Tarântula, da Polícia Civil, para perseguir travestis e mulheres trans sob a justificativa de combate à aids.
"É muito importante ressaltar que a gente está mantendo viva uma memória", ressalta a atriz. Especialmente, ela conta, porque foi graças a Brenda Lee que todos os brasileiros conquistaram a distribuição gratuita de medicamentos contra HIV/aids pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
É importante que o Brasil saiba e reconheça esse feito, essa travesti, essa mulher, essa guerreira".
'Primeira travesti nordestina a receber o prêmio'
Verónica comemora a premiação, considerada o Oscar do teatro brasileiro.
“Ver o sucesso da peça, o reconhecimento do nosso trabalho, principalmente nesses tempos atuais, e vir desse prêmio, o maior prêmio de teatro musical do Brasil, e, pela primeira vez, atrizes travestis serem indicadas, eu, enquanto nordestina, ser a primeira travesti nordestina, cearense, a receber esse prêmio como a atriz revelação e musicais, é incrível. É uma legitimação muito forte do nosso trabalho”, comemora.
A ideia, segundo Verónica, é que o espetáculo percorra o Brasil. "A gente sente necessidade, e o Brasil precisa ouvir o que a gente tem a dizer".
A próxima temporada está prevista para janeiro de 2023.
Proporcionalidade
A atriz lembra que ainda é preciso lutar para garantir não só a representatividade como, também, a proporcionalidade de travestis nos espetáculos artísticos.
São seis travestis que contracenam na peça "Brenda Lee e o Palácio das Princesas", ela conta.
"É o primeiro musical brasileiro, original, falando de uma travesti e protagonizado por travestis. (...) É importantíssimo, pra além da representatividade, hoje, a gente reconhecer que a proporcionalidade também é muito importante. Que não basta ter só uma de nós fazendo e adentrando esses espaços, porque somos muitas e muitas talentosas".