15ª Mostra Unifor de Cinema exibe trabalhos universitários e reflete sobre Brasil
Com acesso gratuito, a Mostra exibe filmes durante quatro noites no Dragão do Mar.
Um espaço de formação, difusão, encontro, experimentação e — acima de tudo — afirmação do cinema universitário. A partir desta quarta (12) e seguindo até o sábado (15), será realizada a 15ª Mostra Unifor de Cinema (MUC), que traz 18 curtas e exibição especial do documentário “Cabra Marcado Para Morrer” (1984).
Os filmes produzidos no escopo do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza e o célebre longa dirigido por Eduardo Coutinho se ligam ao operador poético que norteia a edição deste ano, “Cinema em tempos de Brasil”.
O evento será realizado no Cinema do Dragão, com sessões diárias seguidas de debates, com início sempre a partir das 19h. O acesso é totalmente gratuito.
Veja também
A curadoria da edição é assinada por Ana Paula Vieira, Bruno Juru e Valdo Siqueira, docentes da formação da Unifor.
“São filmes muito diferentes entre si, mas que juntos formam uma espécie de retrato sensível do nosso tempo”, inicia a curadora e professora Ana Paula, que destaca a intenção curatorial de “abraçar de fato essa diversidade”.
“Nos selecionados, olhando para o conjunto, tem muitos filmes experimentais, que estão arriscando formalmente o cinema. Muitos, também, preocupados com território, memória, com o povo. Tem também certa possibilidade de pensar novas formas de fabular o real”, dá o panorama.
Os 18 curtas selecionados se dividem em três sessões, que foram organizadas pela equipe curatorial: "Transe da Subjetividade", "Imagens de Pertencimento" e "Mundos em Deriva".
O conjunto das produções universitárias, segue a professora, leva a “pensar o que é fazer cinema hoje nesse país e nesse contexto histórico”, em diálogo com a noção de “Cinema em tempos de Brasil”.
Exibição especial para discutir o Brasil
O operador poético, por sua vez, se faz presente na MUC também com a exibição especial do documentário “Cabra Marcado Para Morrer”, lançado em 1984 pelo cineasta Eduardo Coutinho (1933-2014).
O filme começou a ser pensado nos anos 1960 como uma ficção sobre o assassinato do líder camponês João Pedro Teixeira (1918-1962), com camponeses interpretando os personagens.
As gravações começaram em fevereiro de 1964, mas foram interrompidas quando a ditadura militar foi instaurada no Brasil. Lideranças do campo e membros da equipe foram presos, bem como materiais da produção foram apreendidos.
No começo dos anos 1980, foi possível retomar e lançar a produção, que se reconfigurou. Para Ana Paula, o longa mostra “como é que o cinema tem nos ajudado a compreender o Brasil”. “A escolha (de exibir) ‘Cabra Marcado Para Morrer’ é uma possibilidade de reafirmar a ligação entre a memória e o presente do País”, reforça.
“Esse filme é um marco político e, ao mesmo tempo, um exemplo do que é a potência pedagógica do próprio cinema, um filme que ensina a olhar, escutar e pensar o País e as lutas em curso”, segue a professora.
Além de evidenciado nos curtas e no longa, o operador poético da 15ª edição ainda abre diálogo com o título do livro “Brasil em tempos de cinema”, do professor e escritor Jean-Claude Bernardet (1936-2025).
O pesquisador, crítico e artista é dono de uma obra central para o pensamento sobre o audiovisual no País. “Ele sempre nos provocou a pensar o cinema como um espaço de invenção, de transformação”, aponta Ana Paula.
A escolha pelo tema da edição e os diálogos com Coutinho e Bernardet, segue a curadoria, refletem o “desejo de pensar o cinema contemporâneo brasileiro na sua força estética e política a partir do olhar desses novos realizadores que estão surgindo na universidade”.
Ao definir a mostra como espaço de “afirmação do cinema universitário”, a professora ressalta ainda a importância da relação entre o evento e essa produção com os próprios contextos nos quais estão inseridos.
“O mais importante de estar pensando a MUC como esse espaço de encontro, circulação desses filmes, talvez seja afirmar realmente o cinema universitário como parte essencial de um ecossistema audiovisual aqui no Ceará”, sustenta.
“É o impacto da mostra a partir dessa possibilidade que ela traz de troca, aprendizagem e de pensar como uma formação em audiovisual em Fortaleza pode se abrir para o diálogo com a cidade”, avança
15ª Mostra Unifor de Cinema
- Quando: de 12 a 15 de novembro, a partir das 19h
- Onde: Cinema do Dragão (rua Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema)
- Gratuito.
- Mais informações: @cinemaunifor
Programação completa
12/11, às 19h
Sessão 1 - Transe da Subjetividade
- “O dia em que fomos aos cinemas” (2024), de Gabri Lima
- “Ladainha” (2025), de Marcelo Marallo
- “Entre nós e linhas” (2024), de Ariel Arraes
- “Alpendre” (2025), de Pedro Rodrigues e Gabriel Pinheiro
- “Paralelas” (2025), de Igor Mota
- “Para César” (2025), de LP Arruda
13/11, às 19h
Sessão 2 - Imagens de Pertencimento
- “Vai ser sal” (2025), de JD Marques
- “O que nos resta” (2024), de Bruno Lobo La Loba
- “Tarot” (2025), de Thereza Dayanara
- “Koisa de preto” (2025), de Mariana Costa
- “Não vai ter milagre” (2025), de Andreza Ohana
14/11, às 19h
Sessão 3 - Mundos em Deriva
- “Red Hood & Big Bad Wolf” (2025), de Sarah Khaam
- “Haus of Mercury” (2025), de F. Oliveira e Thiago Neres
- “Ultravioleta” (2025), de Rafael Coelho
- “Quimérico” (2025), de Izaaaki
- “Brazil Simulator” (2025), de Renato Barros de Oliveira
- “Borboleta no aquário” (2025), de Valdir Gomes
- “Lascívia” (2025), de Júlia Moreira
15/11, às 19h
Sessão Especial
- “Cabra Marcado Para Morrer” (1984), de Eduardo Coutinho