15ª Mostra Unifor de Cinema exibe trabalhos universitários e reflete sobre Brasil

Com acesso gratuito, a Mostra exibe filmes durante quatro noites no Dragão do Mar.

Escrito por
João Gabriel Tréz joao.gabriel@svm.com.br
(Atualizado às 08:35)
Uma foto de grupo de 18 cineastas, jovens adultos e de adultos, posando em frente a um fundo de cor neutra com cortinas drapeadas. A maioria está sorrindo. O grupo inclui pessoas de diversas etnias e tipos de corpo, vestidas com roupas casuais, variando de camisetas e calças largas a tops e saias/calças estampadas.
Legenda: 18 curtas-metragens realizados no escopo do curso de Cinema da Unifor compõem a mostra em 2025.
Foto: Ares Soares / Divulgação.

Um espaço de formação, difusão, encontro, experimentação e — acima de tudo — afirmação do cinema universitário. A partir desta quarta (12) e seguindo até o sábado (15), será realizada a 15ª Mostra Unifor de Cinema (MUC), que traz 18 curtas e exibição especial do documentário “Cabra Marcado Para Morrer” (1984).

Os filmes produzidos no escopo do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza e o célebre longa dirigido por Eduardo Coutinho se ligam ao operador poético que norteia a edição deste ano, “Cinema em tempos de Brasil”.

O evento será realizado no Cinema do Dragão, com sessões diárias seguidas de debates, com início sempre a partir das 19h. O acesso é totalmente gratuito.

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A curadoria da edição é assinada por Ana Paula Vieira, Bruno Juru e Valdo Siqueira, docentes da formação da Unifor.

“São filmes muito diferentes entre si, mas que juntos formam uma espécie de retrato sensível do nosso tempo”, inicia a curadora e professora Ana Paula, que destaca a intenção curatorial de “abraçar de fato essa diversidade”.

“Nos selecionados, olhando para o conjunto, tem muitos filmes experimentais, que estão arriscando formalmente o cinema. Muitos, também, preocupados com território, memória, com o povo. Tem também certa possibilidade de pensar novas formas de fabular o real”, dá o panorama.

Uma imagem em estilo pixel art que se assemelha a uma tela de título de videogame. O título
Legenda: Imagem do filme "Brazil Simulator", de Renato Barros de Oliveira.
Foto: Divulgação.

Os 18 curtas selecionados se dividem em três sessões, que foram organizadas pela equipe curatorial: "Transe da Subjetividade", "Imagens de Pertencimento" e "Mundos em Deriva".

O conjunto das produções universitárias, segue a professora, leva a “pensar o que é fazer cinema hoje nesse país e nesse contexto histórico”, em diálogo com a noção de “Cinema em tempos de Brasil”. 

Exibição especial para discutir o Brasil

O operador poético, por sua vez, se faz presente na MUC também com a exibição especial do documentário “Cabra Marcado Para Morrer”, lançado em 1984 pelo cineasta Eduardo Coutinho (1933-2014). 

O filme começou a ser pensado nos anos 1960 como uma ficção sobre o assassinato do líder camponês João Pedro Teixeira (1918-1962), com camponeses interpretando os personagens.

Cena do documentário 'Cabra Marcado Para Morrer', de Eduardo Coutinho. Foto em preto e branco de um grupo de crianças e uma mulher segurando um bebê, próximos de uma porta e com expressões sérias.
Legenda: "Cabra Marcado Para Morrer" terá exibição especial na 15ª MUC.
Foto: Divulgação.

As gravações começaram em fevereiro de 1964, mas foram interrompidas quando a ditadura militar foi instaurada no Brasil. Lideranças do campo e membros da equipe foram presos, bem como materiais da produção foram apreendidos.

No começo dos anos 1980, foi possível retomar e lançar a produção, que se reconfigurou. Para Ana Paula, o longa mostra “como é que o cinema tem nos ajudado a compreender o Brasil”. “A escolha (de exibir) ‘Cabra Marcado Para Morrer’ é uma possibilidade de reafirmar a ligação entre a memória e o presente do País”, reforça.

“Esse filme é um marco político e, ao mesmo tempo, um exemplo do que é a potência pedagógica do próprio cinema, um filme que ensina a olhar, escutar e pensar o País e as lutas em curso”, segue a professora.

Uma fotografia colorida que captura um grupo de cinco homens posando para uma foto em um ambiente externo noturno, decorado com barracas à esquerda. Quatro homens estão em pé, lado a lado, enquanto um quinto está sentado em uma cadeira de plástico branca ao centro. Todos usam camisetas nas cores verde, amarelo, vermelho e preto com os dizeres 'Koisa de Preto - CARNAVAL 97'. Atrás do grupo, há um estandarte vertical com as mesmas cores e o nome do bloco. Um sexto homem, de chapéu de palha, está sentado em outra cadeira mais ao fundo, à direita.
Legenda: Imagem de arquivo que compõe o curta "Koisa de Preto", de Mariana Costa.
Foto: Divulgação.

Além de evidenciado nos curtas e no longa, o operador poético da 15ª edição ainda abre diálogo com o título do livro “Brasil em tempos de cinema”, do professor e escritor Jean-Claude Bernardet (1936-2025).

O pesquisador, crítico e artista é dono de uma obra central para o pensamento sobre o audiovisual no País. “Ele sempre nos provocou a pensar o cinema como um espaço de invenção, de transformação”, aponta Ana Paula.

A escolha pelo tema da edição e os diálogos com Coutinho e Bernardet, segue a curadoria, refletem o “desejo de pensar o cinema contemporâneo brasileiro na sua força estética e política a partir do olhar desses novos realizadores que estão surgindo na universidade”.

Um plano aproximado mostra um operador de cinema, visto de costas e em perfil, inspecionando o mecanismo interno de um projetor de cinema de cor azul-clara. O braço do operador, em movimento, está em primeiro plano à esquerda.
Legenda: Imagem do curta "O dia em que fomos ao cinema", de Gabri Lima.
Foto: Divulgação.

Ao definir a mostra como espaço de “afirmação do cinema universitário”, a professora ressalta ainda a importância da relação entre o evento e essa produção com os próprios contextos nos quais estão inseridos. 

“O mais importante de estar pensando a MUC como esse espaço de encontro, circulação desses filmes, talvez seja afirmar realmente o cinema universitário como parte essencial de um ecossistema audiovisual aqui no Ceará”, sustenta.

“É o impacto da mostra a partir dessa possibilidade que ela traz de troca, aprendizagem e de pensar como uma formação em audiovisual em Fortaleza pode se abrir para o diálogo com a cidade”, avança

15ª Mostra Unifor de Cinema

  • Quando: de 12 a 15 de novembro, a partir das 19h
  • Onde: Cinema do Dragão (rua Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema)
  • Gratuito.
  • Mais informações: @cinemaunifor

Programação completa

12/11, às 19h

Sessão 1 - Transe da Subjetividade

  • “O dia em que fomos aos cinemas” (2024), de Gabri Lima
  • “Ladainha” (2025), de Marcelo Marallo
  • “Entre nós e linhas” (2024), de Ariel Arraes
  • “Alpendre” (2025), de Pedro Rodrigues e Gabriel Pinheiro
  • “Paralelas” (2025), de Igor Mota
  • “Para César” (2025), de LP Arruda

13/11, às 19h

Sessão 2 - Imagens de Pertencimento

  • “Vai ser sal” (2025), de JD Marques
  • “O que nos resta” (2024), de Bruno Lobo La Loba
  • “Tarot” (2025), de Thereza Dayanara
  • “Koisa de preto” (2025), de Mariana Costa
  • “Não vai ter milagre” (2025), de Andreza Ohana

14/11, às 19h

Sessão 3 - Mundos em Deriva

  • “Red Hood & Big Bad Wolf” (2025), de Sarah Khaam
  • “Haus of Mercury” (2025), de F. Oliveira e Thiago Neres
  • “Ultravioleta” (2025), de Rafael Coelho
  • “Quimérico” (2025), de Izaaaki
  • “Brazil Simulator” (2025), de Renato Barros de Oliveira
  • “Borboleta no aquário” (2025), de Valdir Gomes
  • “Lascívia” (2025), de Júlia Moreira

15/11, às 19h

Sessão Especial

  • “Cabra Marcado Para Morrer” (1984), de Eduardo Coutinho
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