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Contra polarização, aliados da base e da oposição podem apostar em ‘terceira via’ no Ceará

Em uma disputa que parece polarizada, os partidos aliados de um lado e de outro ameaçam lançar novos pré-candidatos na disputa

Escrito por Igor Cavalcante , igor.cavalcante@svm.com.br
Chapas devem ser montadas até 5 de agosto, data limite para as convenções partidárias
Legenda: Chapas devem ser montadas até 5 de agosto, data limite para as convenções partidárias
Foto: Roberto Jayme/Ascom/TSE

Pelo menos quatro candidaturas podem ser lançadas no Ceará, nas próximas semanas, além da chapa liderada por um nome do PDT e da outra encabeçada por Capitão Wagner, do União Brasil. Em uma disputa que parecia polarizada, os partidos aliados de um lado e de outro ameaçam anúnciar novos pré-candidatos na disputa.

Conforme dirigentes partidários e consultores políticos, esse surgimento de “terceiras vias” no Ceará passa tanto pela necessidade de formar palanques estaduais quanto por uma estratégia de reduzir o potencial de voto das chapas do PDT e do União Brasil.

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“Cada um desses partidos, a seu modo, está tentando aumentar seu passe nas negociações de presença nas coligações dos candidatos a presidente e governador. E tem ainda a óbvia questão do fundo partidário, que entra em cena para determinar as orientações desses partidos, sobretudo no que diz respeito ao lançamento de candidaturas para deputado. Então são interesses bastante pragmáticos e legítimos de cada partido para se fortalecer no plano estadual olhando para os movimentos nacionais”
Emanuel Freitas
Professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará

Terceira via no Psol

Atualmente, a única pré-candidatura anunciada com alternativa a esses dois partidos é a da professora Adelita Monteiro (PsoL). Lançada por correligionários no dia 5 de fevereiro, a psolista é uma das fundadoras da sigla no Estado.

Presidente do Psol Ceará, Alexandre Uchôa aponta que a ideia é que a candidatura seja, de fato, uma alternativa à oposição liderada por Wagner e à situação liderada pelos irmãos Ciro e Cid Gomes (PDT). 

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“Temos uma tarefa a realizar que outros partidos do campo progressista não vão conseguir por estarem em uma grande coalizão, inclusive o PT e o PDT. O Psol não tem compromissos com esses arcos de alianças”, aponta. 

Segundo o dirigente, a sigla defenderá o nome do ex-presidente Lula (PT) para a presidência da República, no entanto, não tem pretensões de se aproximar de outros partidos a nível estadual.

“Nossa tarefa é derrotar o Bolsonaro e representar o presidente Lula no Ceará”, aponta. Conforme Uchôa, há ainda outras intenções em lançar uma candidatura própria.

"Vai ajudar a ampliar a nossa bancada estadual e também romper a cláusula de barreira, através da nossa federação com a Rede. Então, queremos aumentar a bancada, duplicar a bancada estadual e ter uma bancada federal”
Alexandre Uchôa
Presidente do Psol Ceará

Neste ano, pela primeira vez na eleição geral, não serão permitidas coligações na disputa pelo Legislativo. Assim, cada partido precisará lançar seus próprios candidatos a deputado. 

Para dirigentes partidários e consultores políticos, isso favorece o lançamento de nomes para disputar vaga no Executivo como uma forma de abrir palanque e dar visibilidade aos pré-candidatos ao Legislativo.

Chapa tucana

Sem deixar isso claro, mas de olho em ampliar a bancada legislativa, o PSDB Ceará foi o partido que mais recentemente cogitou lançar candidatura própria. Em entrevista ao Diário do Nordeste, o senador Tasso Jereissati disse que essa é uma possibilidade.

“Não descarto nada. Ainda não tive uma conversa com o (novo presidente do PSDB Ceará) Chiquinho Feitosa, mas nós vamos sentar, conversar e ver quais são suas ideias. Evidentemente, nós vamos ter, aqui, no Ceará, aquilo que for melhor para o Ceará”, disse.

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Entre os nomes cotados para liderar uma eventual chapa tucana, Tasso admitiu que o ex-secretário da Saúde do Ceará, Dr. Cabeto, pode ser um bom quadro para a função. “Cabeto é um filiado nosso, fez um magnífico trabalho à frente da Secretaria da Saúde. Foi o homem que dominou a pandemia no Ceará durante o Governo Camilo, é uma excelente alternativa, mas ele tem suas obrigações profissionais e isso tem que ser discutido”, concluiu.

De acordo com o cientista político Emanuel Freitas, o cálculo dos tucanos leva em conta a sobrevivência da sigla, que vem enfrentando seguidos enfraquecimentos nos últimos anos. 

“A questão aí é a preocupação com o futuro do partido, já que provavelmente não terá candidato à Presidência e isso já vai enfraquecer bastante as bancadas estadual e federal”, avalia.

No caso do Ceará, assim como o de São Paulo, a situação exige ainda mais atenção dos dirigentes tucanos, aponta Freitas.

“Agora, a preocupação é de que, perdendo em São Paulo, o desastre seja maior para o partido. Isso porque São Paulo e Ceará sempre foram vitrines do PSDB, agora corre esse risco de sair ainda mais perdedor do que vem saindo, por exemplo, aqui, no Ceará. Então o PSDB tenta minorar os prejuízos que já são grandes”
Emanuel Freitas
Professor de Teoria Política

À espera do PDT

O principal foco de tensão no grupo governista, no entanto, está nas possíveis reações ao candidato a ser escolhido pelo PDT. A sigla lançou quatro pré-candidatos ao Governo do Ceará: a governadora Izolda Cela, o ex-prefeito Roberto Cláudio, o deputado federal Mauro Filho e o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE), Evandro Leitão.

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Entre os próprios pedetistas a disputa acabou polarizada em torno de Izolda Cela e Roberto Cláudio. Vereadores do PDT de Fortaleza e o prefeito da Capital, José Sarto (PDT), defendem o nome do ex-prefeito.

A tensão surge porque três partidos que compõem o arco de aliança governista já declaram apoio ao nome da atual governadora. Para tensionar ainda mais, esses partidos ameaçam lançar candidaturas próprias caso ela não seja a indicada pelo PDT.

Conforme o consultor político Luiz Cláudio Ferreira Barbosa, um dos fatores que pesa na fragmentação do grupo governista é o engajamento eleitoral com a campanha do ex-presidente Lula. 

"No Ceará, o lulismo, em matéria de Poder Executivo, sempre tem uma força muito grande. Esses grupos se unificam com a ida de Ciro para o ministério (do Governo Lula), mas sempre se tinha uma dúvida sobre quem era mais forte. Agora, tudo indica que a força maior não é mais Ciro nem Tasso, é a figura do ex-presidente Lula"
Luiz Cláudio Ferreira Barbosa
Consultor político

O PT é justamente a sigla que comenta mais abertamente sobre essa “preferência”. Nos bastidores do partido, parlamentares falaram, inclusive, em “veto” ao nome de Roberto Cláudio, que governou a Capital por dois mandatos tendo o PT como adversário. "Não estamos impondo, mas nossa preferência é por Izolda Cela", disse o deputado federal José Guimarães (PT).

A postura da sigla gerou reação de pedetistas, incluindo Ciro Gomes. Além dos ataques que promove frequentemente contra o ex-presidente Lula (PT), desde o mês passado, o ex-ministro e ex-governador do Ceará passou a estendeu as críticas a integrantes do PT do Ceará.

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As declarações desaguaram em ameaças dos petistas de romperem com a aliança histórica com o PDT. À época, o presidente estadual do PT, Antônio Filho, o Conin, rebateu o pedetista. 

"As declarações de Ciro Gomes são de extrema agressividade, capazes inclusive de interditar de vez os esforços até então empreendidos pela manutenção da aliança com o PDT no Ceará", disse.

A decisão ainda está em aberto, mas, caso seja acatada, irá atender a uma ala da sigla que defende uma candidatura própria do PT, entre esses petistas estão a ex-prefeita Luizianne Lins (PT) e o deputado federal José Airton, que já colocaram o respectivos nomes à disposição para liderar uma chapa petista.

Postura semelhante é adotada pelo MDB. O ex-senador Eunício Oliveira (MDB) já declarou que aceita discutir apoio apenas ao nome de Izolda Cela. Caso seja algum outro pedetista, o MDB deve lançar candidatura própria ou apoiar algum nome da oposição. A alternativa dentro da sigla é de que o próprio Eunício possa encabeçar a chapa, fazendo inclusive uma aliança com o PT. O ex-mandatário é adversário de Roberto Cláudio, tendo grupo derrotado pelo pedetista nas eleições municipais de 2016.

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A sigla que mais recentemente também assumiu essa postura foi o PP. O deputado estadual Zezinho Albuquerque (PP), pai do deputado federal AJ Albuquerque, presidente da sigla, declarou apoio à pré-candidatura da atual governadora. O parlamentar, que deixou o PDT para se lançar como cabeça de chapa no PP, disse que está disposto a retirar sua pré-candidatura caso o nome do grupo governista seja Izolda. 

Em entrevista ao Diário do Nordeste, Zezinho disse: "Se (a candidata do PDT) for a governadora Izolda, puxei meu trem de pouso". Caso contrário, deve repensar.

Do lado da oposição

Já do lado oposicionista, o impasse sobre uma candidatura alternativa a de Capitão Wagner envolve o PL, sigla do presidente Jair Bolsonaro (PL). No Ceará, a legenda é historicamente liderada por aliados de Ciro e Cid Gomes. Porém, com a filiação do presidente, parlamentares bolsonaristas embarcaram na legenda. 

A expectativa do grupo de Capitão Wagner era de que o PL endossasse apoio à candidatura do nome da oposição. No entanto, isso pode não ocorrer, já que ganha força entre os correligionários de Bolsonaro a possibilidade de uma candidatura própria do PL, que seria liderada pelo ex-deputado Raimundo Gomes de Matos (PL).

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"Wagner constituiu o União Brasil como sua nave mãe, mas seus movimentos indicam que ele não trabalha mais na perspetiva de fazer coligações, ele está trabalhando na chapa dele, lançando seus próprios candidatos, ele tem demonstrado que está satisfeito com o que tem", analisa o consultor político Luiz Cláudio Ferreira Barbosa.

Segundo ele, os integrantes do PL que não são bolsonaristas históricos têm uma postura pragmática sobre o partido, o que pode facilitar a decisão de lançar uma candidatura própria. 

"Colocando Raimundo Gomes de Matos sozinho, ele pode não prosperar como candidato ao Executivo, mas, quando se coloca ele como candidato de Bolsonaro, é outro cenário, tirando inclusive votos do Wagner"
Luiz Cláudio Ferreira Barbosa.
Consultor político

Em entrevista ao Diário do Nordeste, o presidente do PL Ceará, Acilon Gonçalves, não descartou essa possibilidade. “Estamos construindo um projeto político que seja um fator a promover o desenvolvimento e a qualidade de vida do povo cearense é brasileiro. Assim, até o momento  não definimos a posição sobre a disputa do Abolição”, disse.

Diante desse cenário, a oposição no Ceará poderia ficar dividida em pelo menos duas candidaturas. Está prevista para esta semana uma reunião em Brasília para acertar os rumos do PL no Estado. A data ainda não foi confirmada.

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