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Oposição no Ceará desenha cenário eleitoral mais competitivo em 15 anos; entenda

Ao comandar o União Brasil no Ceará, o deputado Capitão Wagner ganha força na disputa pelo Governo do Ceará

Escrito por Igor Cavalcante , igor.cavalcante@svm.com.br
Capitão Wagner anunciou, na última semana, que irá comandar o UB no Ceará
Legenda: Capitão Wagner anunciou, na última semana, que irá comandar o UB no Ceará
Foto: Fabiane de Paula

O anúncio do deputado federal Capitão Wagner como o comandante do União Brasil no Ceará desenha um dos cenários mais competitivos para a oposição em mais de 15 anos no Estado. Com um discurso de “frente ampla da oposição”, o parlamentar pretende aglutinar apoio do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), e de outros nomes da direita, como o ex-ministro Sergio Moro (Podemos). 

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Wagner vai liderar o partido com a maior bancada na Câmara, isso representa a maior fatia de uma única sigla no tempo destinado à propaganda eleitoral gratuita nas TVs e rádios. O partido receberá ainda a maior parcela de recursos públicos para financiamento de campanha.

“Talvez seja a oposição com mais poder de competitividade nas últimas quatro ou cinco eleições (...) Ele (Wagner) vai enfrentar um grupo governista em desgaste. A gestão Camilo (Santana) é bem avaliada, mas a gestão faz parte de um grupo político que vive desgastes. É o que chamamos na Ciência Política de ‘fadiga de poder’, porque são 16 anos já no comando do Estado”
Cleyton Monte
Cientista político, professor universitário e pesquisador do Lepem/UFC

Acordos para somar

Tratando de alianças, o cenário pode ser ainda mais favorável ao pré-candidato oposicionista, caso receba apoio do PL. A sigla, comanda no Ceará por Acilon Gonçalves (PL), que já anunciou apoio a Bolsonaro, tem a terceira maior bancada na Câmara dos Deputados, o que equivale ao terceiro maior tempo de propaganda eleitoral entre os partidos. Caso consiga consolidar a aliança, Capitão Wagner terá efetivamente o maior espaço nas televisões e rádios dos cearenses durante a campanha.

Desde que Bolsonaro se filiou à sigla, começou uma queda de braço no diretório estadual do PL, comandado por aliados do grupo governista. No entanto, diante da pressão de ser destituído do comando da sigla, Acilon disse que fecharia apoio ao presidente. O partido também está recebendo os aliados mais próximos de Bolsonaro no Estado, como os deputados André Fernandes e Delegado Cavalcante, além dos pré-candidatos ao legislativo Mayra Pinheiro e Coronel Aginaldo.

Bolsonaro, no entanto, não deve ser o único a apoiar a candidatura de Wagner. Durante o anúncio de que iria presidir o UB, o deputado fez acenos a todos os candidatos. 

Frente ampla da oposição

"Nosso palanque é amplo de oposição, cortando o Estado do Ceará. Todo apoio que vier, a nível nacional, será bem-vindo. Havia uma dúvida de que 'o Capitão vai estar com o candidato A, com Moro, com Bolsonaro'. A nível estadual, nosso palanque vai permitir, por exemplo, se o MDB vier, que peça voto para o candidato deles à presidência; se o Podemos, já confirmado que vai pedir voto para Moro, vai pedir tranquilamente; se o PL for pedir voto para Bolsonaro, será muito bem recebido. Não teremos radicalismo para dizer que o candidato do bloco é Y", concluiu Wagner.

Um dos nomes que devem apoiar a candidatura de Wagner, inclusive, é o senador Eduardo Girão (Podemos), correligionário de Moro.

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Para Monalisa Torres, professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará, a estratégia do pré-candidato de abrir o palanque para uma frente ampla de oposição permitirá a ele aglutinar mais forças e minimizar possíveis desgastes.

“Não sei até que ponto o apoio de Bolsonaro será convertido positivamente ou negativamente para a campanha do Wagner. O presidente tem uma má avaliação entre a maioria dos cearenses. É preciso lembrar ainda que é uma eleição estadual, então o Interior também terá um peso significativo, sem falar na influência que as lideranças nacionais. Pelas últimas eleições, Lula tem uma influência maior que Ciro Gomes, já Bolsonaro não tem uma influência tão grande”, afirma.

Apoio de Bolsonaro

De acordo com Monalisa, uma aliança firme entre Bolsonaro e Wagner pode garantir mais ganhos ao presidente que ao parlamentar.

“Se considerarmos o Nordeste, temos uma base eleitoral majoritariamente petista, que historicamente está mais à esquerda, então Bolsonaro precisa de um palanque forte nos estados para entrar no Nordeste e, claro, uma dessas possibilidades é entrar pelo Ceará”
Monalisa Torres
Cientista política, pesquisadora e professora universitária

Em seu “currículo”, Wagner carrega a marca de deputado federal mais votado em 2018. Ele também fez a disputa pela prefeitura de Fortaleza, em 2020, ser acirrada contra o atual prefeito José Sarto (PDT). O deputado conseguiu 48,3% dos votos, sendo derrotado por uma diferença de menos de 2% dos votos.

Ele ainda conta com apoio de aliados em prefeituras estratégicas, como a de Maracanaú, liderada por Roberto Pessoa (PSDB), que deve se filiar ao UB. Em Juazeiro do Norte, a gestão municipal é comandada por Glêdson Bezerra (Podemos), nome da oposição no Ceará e aliado a Moro, mas que deve apoiar o governador Camilo Santana na disputa pela única vaga do Senado.

Desde 2006

A última vez em que um nome da oposição venceu eleições para o Governo do Ceará foi justamente Cid Gomes (PDT – à época, PSB), em 2006, político que lidera o grupo que Wagner tenta derrotar. À época, o então candidato conseguiu vencer Lúcio Alcântara (PSDB). Cid também contou com apoio de partidos com bancadas grandes na Câmara dos Deputados, que garantiram a ele ampliar o tempo de propaganda gratuita. 

Cleyton Monte traça um paralelo com a atual conjuntura cearense.

Essa fadiga de poder que enfrenta o grupo governista é a mesma que Lúcio enfrentou em 2006, que trazia um histórico de mais de 20 anos do PSDB sendo a força dominante no Ceará. Então, além disso, ele (Wagner) tem várias ferramentas para ser competitivo, como o tempo maior de TV, a maior quantidade de recursos, o apoio de um senador, do presidente e de prefeituras importantes”
Cleyton Monte
Cientista político, professor e pesquisador

O PSB, partido do então candidato Cid Gomes, conseguiu formar um arco de aliança com nove siglas, entre elas o PT, o PMDB (atualmente MDB) e o PP. Cid também contou com apoio do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que naquele ano conquistou a reeleição.

“Agora, diferentemente daquela época, em que o lulismo deu sustentação àquela aliança e tinha uma popularidade alta, Bolsonaro já não tem esse mesmo apoio. Ainda assim, o fator de interesse nessa aliança (Wagner-Bolsonaro) não é nem a popularidade, mas os recursos que o presidente pode trazer para a campanha, o apoio da base dele no Estado”, pondera Monte.

A partir de 2006, a oposição no Ceará acumulou derrotas nas eleições nacionais. Em 2010, Cid já como candidato da situação em busca de ser reeleito, enfrentou Marcos Cals (à época, PSDB).

Além do governador em exercício, pesou contra o tucano a disputa nacional entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), que terminou com a vitória da petista. Marco Cals só conseguiu arregimentar uma aliança tímida, apenas com o DEM. Já Cid Gomes contava com apoio de seis siglas, entre elas PDT, PT e PMDB. 

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A vantagem do governador era tamanha que ele tinha três minutos e oito segundos a mais de propaganda que o adversário tucano. Nesta conjuntura, Cals sequer conseguiu levar a disputa para o segundo turno.  

2014

Em 2014, a disputa estadual voltou a ficar acirrada com a “oposição” sendo representada pelo ex-senador Eunício Oliveira (MDB), mas com vantagem para o candidato governista Camilo Santana. Mesmo com a polarização nacional, Dilma Rousseff foi reeleita e, na campanha, apoiou o correligionário no Ceará. 

O grupo da oposição conseguiu arregimentar apoio de oito siglas, incluindo DEM e PSDB. No entanto, o grupo governista atraiu mais partidos e com bancadas mais amplas, somando 17 siglas, que garantiram mais tempo de TV a Camilo. A disputa acirrada chegou inclusive ao segundo turno, no entanto, o petista acabou eleito com cerca de 300 mil votos de vantagem.

Para Cleyton Monte, ainda que em 2014 o cenário tenha se mostrado competitivo, a dualidade de forças entre base e oposição não era bem desenhada. “Eunício nunca foi visto como uma figura da oposição, era mais como uma cisão da base, porque até então ele sempre esteve na base do Cid. Em termos de oposição, a mais competitiva que se tem é agora mesmo”, afirma.

2018

Reeleição do governador Camilo Santana
Legenda: Reeleição do governador Camilo Santana
Foto: JL Rosa

Já em 2018, na disputa pela reeleição de Camilo, a oposição passou longe de apresentar a mesma ameaça para o grupo governista como em 2014. O petista foi reeleito já no primeiro turno com quase 80% dos votos, deixando em segundo lugar General Theophilo (à época, PSDB), com apenas 11,3% dos votos. 

“Em 2018, a oposição tinha um candidato desconhecido, mesmo com a onda dos outsiders, não tinha um candidato competitivo e que agregasse”, relembra Monalisa Torres.

Os tucanos conseguiram apoio de apenas um partido, o Pros, comandado por Wagner. Já o grupo governista foi apoiador por 16 partidos. À época, Theophilo não contou com o apoio do então candidato Jair Bolsonaro (PL), que foi eleito naquele ano. O atual presidente apoiou, no Ceará, Hélio Góis (PSL), que ficou em terceiro lugar.

Ameaças na base governista

Para a disputa em outubro deste ano, Wagner quer reforçar o time de aliados. Nomes como Fernanda Pessoa e Heitor Freire já embarcaram na nova sigla, que ainda deve receber Danilo Forte (PSDB), Vaidon Oliveira (Pros), Tony Brito (Pros), Soldado Noélio (Pros) e Heitor Férrer (SD).

Do outro lado, a base governista passa por momentos turbulentos no fim do segundo mandato do governo Camilo Santana. “Não existe, dentro da base, um entendimento de quem vai ser do PDT, mas nenhum dos nomes cotados capitaliza toda a aliança, nenhum é consensual entre todos os 16 partidos da base. Mesmo entre Roberto Cláudio e Izolda Cela, que hoje estão na frente, nenhum dos dois tem apoio de toda a base”, aponta Cleyton Monte.

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A aliança petista, por exemplo, chegou a ser ameaçada, mas a maioria da sigla decidiu pela manutenção da parceria com o PDT, que irá lançar a cabeça da chapa. 

A resistência petista, concentrada em torno de Luizianne Lins (PT), tem como alvo principal o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), adversário histórico da deputada do PT. 

O nome do ex-mandatário também encontra resistência do ex-senador Eunício Oliveira, que acompanha as movimentações na base governista para definir se embarca na chapa. 

O PP, liderado pelo deputado estadual Zezinho Albuquerque e por seu filho, AJ Albuquerque, também tem histórico de aliança governista, mas mantém aliança com o presidente Jair Bolsonaro. O próprio Zezinho deixou o PDT com pretensões de disputar um mandato como governador do Estado.

O PSD é outra sigla que almeja integrar a chapa governista. No início deste mês, durante ato de filiação no Ceará, o presidente nacional da sigla, Gilberto Kassab, defendeu o nome do ex-vice-governador Domingos Filho (PSD) como vice da chapa governista. À época, Cid não deu sinais de que poderia atender ao pedido.

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