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Bolsonaro, Ciro e Lula: quais as perspectivas para disputa no Ceará após candidaturas oficializadas

Palanques que irão ajudar os presidenciáveis a ter um bom desempenho nas urnas no Ceará ainda estão em construção

Escrito por Alessandra Castro , alessandra.castro@svm.com.br
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Legenda: Bolsonaro, Ciro e Lula devem fazer importantes articulações para conquistar o eleitorado cearense
Foto: Thiago Gadelha/Fabiane de Paula/Ricardo Stuckert

A oficialização das três principais pré-candidaturas apresentadas à disputa pelo Palácio do Planalto, as de Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, de Lula (PT) e de Ciro Gomes (PDT), traz novos desafios à medida que a data da eleição se aproxima e que os cenários vão sendo desenhados nos estados.

A pouco mais de 20 dias para o início da campanha, permitida a partir de 16 de agosto, o palanque de cada presidenciável ainda está em construção no Ceará.

O PL definiu, no domingo (24), seu apoio ao deputado federal licenciado Capitão Wagner (União), pré-candidato de oposição ao Palácio da Abolição e quisto pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). O partido anunciou que indicará o vice.

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Do lado oposto ao do presidente, o rompimento entre PDT e PT embaralhou o jogo político do grupo governista. No domingo (24), o PDT homologou a candidatura de Roberto Cláudio ao Governo do Estado, e o PT deve oficializar a pré-candidatura do deputado estadual Elmano Freitas. O ex-governador Camilo Santana anunciou, em sua redes sociais, o nome Elmano ao lado de Lula.

Como na política o tabuleiro está sempre em movimento, algumas lideranças pedetistas ainda tentam remediar a situação em prol da continuidade da aliança governista - mas especialistas pouco acreditam na possibilidade.

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Legenda: Ciro já foi ministro da Integração do Governo Lula. Hoje, são adversários políticos
Foto: Gustavo Pellizzon

Dessa forma, até o momento, o palanque de Ciro no Ceará está garantido com Roberto, porém ainda sem nome para a disputa pelo Senado. Já o ex-presidente Lula ganha um palanque na disputa pelo Governo do Estado com a construção de uma candidatura própria do PT - tendo em vista que antes, ao apoiar Izolda, ele não poderia associar a sua imagem à dela, por ser filiada do PDT, de Ciro.

Diante desse cenário, o Diário do Nordeste ouviu três especialistas para avaliar quais as perspectivas para a disputa no Ceará após a oficialização das candidaturas dos presidenciáveis. São eles:

  • Luciana Santana, professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e pesquisadora do Observatório das eleições (INCT/UFMG);
  • Cleyton Monte, cientista político e pesquisador do Laboratório de Estudos de Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC);
  • Leurinbergue Lima, Diretor Norte/Nordeste do Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (Camp).

Confira as análises a seguir:

Quais devem ser os pontos fortes dos três principais candidatos no Ceará?

Luciana Santana - O Bolsonaro tem feito uma entrada no Nordeste por vários estados estratégicos para tentar reverter e reduzir a sua rejeição. No caso do Ceará, é tentar se colar ao Capitão Wagner, que teve um bom desempenho na última eleição, para tentar reduzir essa rejeição para ter um bom desempenho.

No Ceará, os dois governos do Camilo foram muito bem avaliados, ele teve um bom desempenho no enfrentamento da pandemia e tem se tornado um importante ator dentro do PT ao longo desses anos. Então, acaba reforçando a memória afetiva em relação ao governo Lula, porque o Camilo teve uma boa avaliação e muitas das políticas públicas implantadas que deram resultados no Nordeste foram do governo Lula. As próprias alianças podem fortalecer o Lula, para além do PT, com a aproximação do o ex-senador Eunício (Oliveira), do MDB. Com o Eunício, ele amplia o eleitorado e dialoga com esses eleitores mais conservadores.

Em relação ao Ciro, a gente não pode negar que ele tem uma relação histórica e umbilical com o Estado. Foi um governador importante, na eleição de 2018 foi o candidato mais preferido no Ceará. É isso que o beneficia em termos de ponto forte, mas ele enfrenta dificuldades por conta da própria polarização em tornos dos outros nomes.

Leurinbergue Lima* - Primeiro, os possíveis palanques de cada um. Com essa possível divisão do grupo governista, se o PT lançar candidato, o Lula vai ter um palanque mais forte no Ceará. O Camilo é um ponto forte para o Lula, mas uma campanha a senador não é tão destacada como a de governador. A propaganda do candidato ao Senado é dividida com o presidente, mas a de governador tem um dia só para ele no rádio e na TV.

O Ciro também vai ter um palanque mais forte com Roberto Cláudio, que é um aliado dele.

Para o Bolsonaro, é que ainda não temos nada definido, pode ter um palanque com o Wagner, pode ter um palanque próprio com o Raimundo Gomes de Matos - que eu acredito que já subiu no telhado - ou pode não ter palanque. Mas acho difícil não ter, não faz sentindo um presidente da República em mandato não ter palanque no Estado.

*A análise de Leurinbegue Lima foi feita antes de Camilo anunciar oficialmente Elmano de Freitas como pré-candidato do PT e do PL confirmar apoiar Capitão Wagner (UB). Os anúncios aconteceram na noite de domingo (24).

Cleyton Monte - O do Lula é a memória do seu governo, popularidade e o apoio do Camilo. O ponto forte do Bolsonaro, provavelmente, vão ser os benefícios sociais que ele aprovou recentemente e a base que ele está constituindo de militares, evangélicos, profissionais da saúde.

No caso do Ciro, o ponto forte é a rede que ele tem no Estado, ele tem um grupo político forte no Estado. Ele tem diferentes lideranças na Assembleia, na Câmara, no Governo, tem secretarias. É o poder institucional no Ceará. (Mesmo com essa situação com a Izolda), até o momento ele tem o Governo, porque tem várias secretarias que são ocupadas por aliados dele e não dela (Izolda). 

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E quais devem ser os pontos fracos na estratégia deles?

Luciana Santana - Em relação ao Bolsonaro, um ponto fraco é essa entrada apenas em grupo de um base eleitoral que ele já tem, que é uma base conservadora, com temas polêmicos, um público evangélico. Ele não ampliou a base e continua dialogando entre iguais, além de ter dificuldade de falar sobre políticas públicas sem colocar sua opinião pessoal.

Para Lula, o ponto negativo é a dificuldade de voltar a penetrar em quem já foi seu eleitor para convencê-lo. É reverter essa opinião muito forte de uma base eleitoral com um perfil muito específico. É um eleitor que está hoje definitivamente com o Bolsonaro ou que é um dos nem-nem, que vai tentar no primeiro turno dar o voto ao Ciro ou à (Simone) Tebet (pré-candidata do MDB) e, no segundo turno, pode se abster - a não ser que seja realmente convencido.

A grande dificuldade do Ciro vai ser penetrar nesse eleitorado que já decidiu votar no Lula ou no Bolsonaro. Historicamente, no Brasil, as pessoas gostam de dar um voto útil. Se as pessoas perceberem que, quando chegar mais próximo da eleição e estiver muito dividido, vai votar em um dos dois para decidir a eleição, mesmo que tenha pensado em votar no Ciro. Ele está em desvantagem nesse sentindo. 

Leurinbergue Lima - Um ponto fraco do Bolsonaro é o palanque fraco, a ausência de um palanque mais robusto, mais encorpado, com um candidato a governador competitivo, um candidato ao Senado mais competitivo. A postura do Capitão Wagner pode ser um ponto fraco (caso ele seja o apoiado do PL no Ceará), porque pode atingir de alguma forma o Bolsonaro se o Wagner não entrar na campanha. Assim como pode atingir o Wagner, caso o Bolsonaro cresça, e o Wagner não tenha vestido a camisa do Bolsonaro.

No palanque do Ciro, falta um candidato ao Senado competitivo. Até agora, eles não têm um nome, o que pode ser uma lacuna na campanha. Vai ter um rearranjo nas composições que ainda não está claro. Camilo postou um encontro com composições de partidos aliados (do grupo governista). Mas isso continua mesmo? Vem mais gente? Quais partidos realmente ficam de um lado ou de outro? Quando a gente fala partidos, têm várias simbologias e forças, tem tempo de rádio e TV, tem militância, tem possíveis candidatos a deputado estadual e federal que ajudam a levantar a bandeira.

Hoje, por incrível que pareça, o Capitão Wagner estar melhor nesse aspecto pelos apoios consolidados que ele já tem. 

Eu vejo de fraqueza do Lula, a priori, é que ele tem feito uma campanha praticamente de comunicação, ele não está conseguindo ir tanto à rua, não está conseguindo fazer tantos movimentos, ele não está conseguindo mexer tanto com as pessoas. Algo que pode ser suprido aqui no Ceará com essa candidatura própria a governador. Se tiver esse candidato, vai ser melhor ainda para ele, em tese. Vai mexer com a militância, vai ajudar.

Cleyton Monte - Os três têm rejeições elevadas, que são atribuídas a fatores diferentes. No caso do Lula, o ponto negativo dele é a ausência de prefeituras, principalmente no interior do Estado. Isso faz diferença na articulação de uma campanha. A rejeição do Bolsonaro é com relação, principalmente, as grandes cidades devido às políticas econômicas, essa é a maior fragilidade dele. E, no caso do Ciro, é o desgaste do grupo dele aqui no Estado. 

Como o fim da aliança entre PT e PDT no Ceará deve impactar para Bolsonaro, Ciro e Lula na estratégia eleitoral?

Luciana Santana - O Bolsonaro não se beneficia muito disso, não. Até porque o discurso do Ciro é muito forte em relação ao Bolsonaro. Então, o rompimento tende a beneficiar um voto útil no Lula, naqueles eleitores que querem dar um voto competitivo. Também não acho que beneficie tanto o Ciro. Dentro de um cenário em que ele perde tanto no Estado como no País, estrategicamente é ruim para o próprio PDT e pode impactar na composição das Assembleias Legislativas e na Câmara dos Deputados. O ideal era ele ir buscar apoio.

Leurinbergue Lima - Eles (candidatos) vão rever muita coisa. Daqui até o dia das convenções pode surgir surpresa de candidaturas e não candidaturas no Ceará. Pode ter gente que recue, porque muita gente está refazendo o cálculo, refazendo estratégias. Todos estão revendo, tanto é que ninguém está com a chapa fechada ainda, com o vice definido. Nem Capitão, nem Roberto Cláudio (oficializou Domingos Filhos como vice, do PSD, no domingo, 24, após entrevista para esta reportagem), nem o possível candidato do PT, porque está todo mundo exaurindo qualquer possibilidade de conversa e aliança, o que impacta os candidatos a presidente.

Cleyton Monte - Pelo que eu estou percebendo, no Ceará, nós vamos ter um palanque do Ciro, um do Lula e um do Bolsonaro. E os candidatos vão relacionar essas campanhas a esses nomes nacionalmente. Em menor intensidade, o Capitão Wagner porque o presidente tem a maior rejeição. Mas eu acredito que isso não deve prejudicar (o Wagner) porque o presidente não tem pretensão de ganhar no Ceará, ele tem pretensão de ter uma votação significativa e isso é possível dentro dessa estratégia.

Desse rompimento, o maior fortalecido é o ex-presidente Lula, que terá Camilo e um candidato ao Governo. E o Ciro já fica enfraquecido porque, com a aliança dividida, cria um cenário mais complicado para ele.

Qual o papel das pré-candidaturas de nomes com desempenho mais fraco, como Simone Tebet, do MDB, no Ceará?

Luciana Santana - Ter um nome do MDB como presidenciável ajuda a potencializar candidaturas do partido para a Assembleia e à Câmara. Em segundo lugar, é uma mulher presidenciável num cenário masculino. Eu vejo o papel dela como muito importante, independentemente de ter chances ou não, por ser simbólico para chamar atenção para as candidaturas femininas. É importante que ela ocupe esse espaço, para incentivar e impulsionar outras candidaturas de mulheres. E o nome de Tasso (Jereissati, senador do PSDB) pode fortalecer, simbolicamente, o nome dela no Ceará.

Leurinbergue Lima - Aqui, no Ceará, praticamente ela não aparece. As pesquisas divulgadas mostram que o Lula está muito bem posicionado aqui, o Bolsonaro em segundo e o Ciro em terceiro. E essas candidaturas da Simone, do Pablo Marçal estão praticamente apagadas aqui no Ceará. Agora, se o Tasso vira vice dela, ela pode ter uma maior visibilidade aqui por conta do Tasso.

Cleyton Monte - Isso é uma incógnita, porque a gente não sabe nem se esses nomes vão vingar. No caso da Tebet no Ceará, não existe. Porque o maior nome do MDB no Ceará, que é o Eunício, já anunciou apoio ao Lula. E as outras candidaturas com menos força não têm nem consistência no Ceará.

Se o Tasso entrar (na chapa de Simone Tebet), a coisa muda de figura. Aí você já tem uma força consistente, uma organização. Por enquanto, isso é especulativo. 

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