O preço dos combustíveis vai aumentar após o 2º turno? Especialistas falam em escalada do custo

O custo da gasolina e do diesel está defasado, mas a Petrobras segura o valor em período que coincide com as eleições

Escrito por Bruna Damasceno , bruna.damasceno@svm.com.br
Frentista muda valor na placa em frente ao posto
Legenda: Expectativa é de aumento a partir de novembro
Foto: Fabiane de Paula / SVM

Economistas ouvidos pelo Diário do Nordeste projetam uma disparada do valor dos combustíveis após as eleições. A entidade do setor, porém, refuta a possibilidade. Essa incerteza do que está por vir aumenta o temor dos brasileiros que amargaram, durante os dois últimos anos, diversas elevações do custo da gasolina e do diesel.

Isso ocorreu porque a política de paridade de preços (PPI), adotada pela Petrobras, considera variáveis externas para a precificação, como a cambial e a cotação do barril de petróleo. Contudo, no meio deste ano eleitoral, a tônica do discurso mudou. 

Apesar das altas do dólar e do petróleo no mercado internacional, nas últimas semanas, a estatal estancou os reajustes para cima, que não ocorrem desde junho.

Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a consequência é uma defasagem de 14% do diesel e de 8% da gasolina, considerando as cotações da última sexta-feira (14/10). Os percentuais representam margem para acréscimo de R$ 0,99 e R$ 0,65 por litro, respectivamente.

Enquanto o valor do combustível doméstico se afasta da paridade internacional, a pressão sobre a petrolífera cresce. Entretanto, essa é uma pauta cara às vésperas do 2º turno. Nesse contexto, o questionamento que se levanta é: o que esperar do preço quando as eleições acabarem? 

Para o professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mauro Rochlin, os consumidores devem se preparar para uma escalada do custo.

“Com o dólar e petróleo mais caros, a gente deveria esperar uma alta para agora. Certamente, a eleição é o principal fator responsável [por segurar]”, avalia, apontando que a estatal não tem "mantido a coerência” em relação à PPI, cujo parâmetro para precificação é internacional. 

A pesquisadora do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Carla Ferreira, acrescenta que, no caso das refinarias da Petrobras, as reduções implementadas nos últimos meses acompanharam o movimento do mercado internacional, algo que já não tem ocorrido atualmente com o aumento dos preços. 

“A proximidade do 2º turno das eleições combinada com a importância do tema dos preços dos combustíveis na popularidade do presidente [Jair Bolsonaro] – e sua busca por uma campanha vitoriosa –, podem ajudar a explicar a mudança de rota da gestão da Petrobras", destaca. 

"Apesar de a estatal continuar defendendo a paridade de importação como política de preços, diferentemente de outros períodos, tem segurado o repasse dos aumentos dos preços no mercado internacional”, complementa.  

O economista e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Ricardo Coimbra, também acredita no aumento após o próximo dia 30 de outubro. “Antes, não deve acontecer. Muito provavelmente, após a eleição, a pressão política para a manutenção, teoricamente, deixará de existir”, analisa. 

Já o assessor de Economia do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado do Ceará (Sindipostos-CE), Antônio José Costa, disse que o preço dos combustíveis não têm qualquer ligação com o período eleitoral. 

Portanto, garante, o consumidor não verá oscilações por esta razão. Costa pondera que o mercado já quebrou o monopólio da Petrobras, acrescentando que parte significativa (30%) já é abastecida por importadores diretos, podendo haver altas por outros motivos mercadológicos. 

De quanto deve ser o reajuste após as eleições?

O professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mauro Rochlin, pondera ser imprevisível estimar a média de reajuste. O economista e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Ricardo Coimbra, reitera, mas indica haver a possibilidade de atualização do percentual de defasagem atual ou a compensação retroativa. 

“A gente sabe que terá, mas se vai ser esse ou mais para recuperar o período e o prejuízo, não é possível afirmar”, diz. Coimbra observa, contudo, que os consumidores já sentem elevações em razão das outras vendedoras.

“Nem todo o combustível é comercializado pela Petrobras, que detém em torno de 70% das vendas do Brasil. Essas outras empresas, que possuem 30% do mercado, já estão repassando a elevação de preços”, diz, exemplificado os aumentos notados nos últimos dias. 

Nos postos de Fortaleza, por exemplo, o valor saiu do patamar de R$ 4,60 para R$ 4,99. 

A estatal começou a declinar os valores em julho último. Depois, seguiu baixando a gasolina e o diesel, até a última queda, em 20 de setembro, a alguns dias do 1º turno.

Mas, antes disso, em junho, o presidente Jair Bolsonaro (PL) já havia atuado para aliviar as majorações, sancionando lei que diminuiu as alíquotas do imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre combustíveis e outros setores essenciais. Dias depois, nomeou novo presidente da Petrobras, o Caio Paes. 

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