Cearense cria vaquinha para tratar câncer raro no cérebro do tamanho de um limão: "pela minha vida"
Com incidência de 1 caso em 1 milhão, cearense precisa de procedimento ainda não existente no Brasil, com custo de 250 a 350 mil reais; o publicitário deverá viajar até o Centro de Protonterapia de Trento, na Itália
Foi pelo sonho de ver os filhos crescerem e ser um pai presente para Miguel e Bernardo, de 9 e 2 anos, que Eberth Melo, 35 anos, decidiu abrir a vaquinha para pagar o tratamento de um raro câncer no cérebro. Após receber o diagnóstico do Cordoma de Clívus em maio, com incidência de 1 caso em 1 milhão, precisa realizar a cirurgia com urgência até o fim de setembro.
No entanto, por estar localizado em uma área delicada do cérebro, entre o tronco cerebral e a córnea, e ter o tamanho de um limão, os médicos só poderão retirar parte do tumor. O restante deverá ser tratado com a protonterapia, procedimento que garante cerca de 80% a 90% de cura.
Esse tipo de terapia de radiação para combater o câncer não é realizada no Brasil. Por isso, Eberth precisará ir até a Itália a fim de ser tratado no Centro de Protonterapia de Trento, um dos locais com o menor custo. Ainda assim, o preço do tratamento varia de 250 a 350 mil reais, a depender da complexidade de seu caso.
O tumor está quebrando os ossos do crânio de tão grande e forte que é. Ele tem crescimento lento e não estou com nenhum problema de visão ou de coordenação motora no momento, mas pode ser o próximo estágio da doença.
Apesar da gravidade, Eberth só encontrou forças para criar a vaquinha após ver o filho de 9 anos gravar um vídeo tentando vender os brinquedos para ajudar no custo.
“Eu queria poder recorrer a outros meios, mas o prazo é muito curto e o câncer é grave. Se até meu filho está lutando, eu também vou lutar pela minha vida, porque me dói na alma saber que talvez não vou enxergar meus filhos, lembrar deles ou brincar de bola ”, compartilha.
Apoio na luta
Dentre as formas possíveis para explicar ao filho sobre a doença, Eberth utilizou a analogia do limão. A forma mais lúdica tem ajudado o filho a passar por um período marcado por tantas incertezas e medos.
O Miguel tem 9 anos, mas tem autismo leve. Eu não queria machucá-lo, por isso, quando ele perguntou o que eu tinha, disse que tinha um limão na cabeça.
Nesse processo, o apoio de amigos e familiares tem sido essencial. Mesmo antes do publicitário se mobilizar para a criação da vaquinha, já realizavam bingos e rifas com o intuito de contribuir no custo do tratamento.
Descoberta do câncer
Apesar de ter sentido uma forte dor de cabeça há mais de seis anos, logo após espirrar, Eberth desconsiderou a possibilidade de algo mais sério. Mesmo o sintoma aparecendo de forma imediata depois do espirro, o publicitário resolveu o incômodo com um remédio para dor de cabeça.
No entanto, após sentir o mesmo sintoma em outubro de 2020, decidiu procurar um médico. Durante a primeira consulta, em março deste ano, a profissional que realizou o atendimento passou somente um remédio. “Se a dor persistisse, pediu para retornar”, detalha Eberth.
Por isso, voltou em maio novamente. Depois de um outro neurologista passar uma ressonância, constataram o tumor. “O médico olhou, mostrou para outro, olhou de novo e disse que eu estava com um câncer seríssimo no cérebro”.
Eficácia do tratamento
Conforme o médico Francisco Caubi Ferreira, Residente Sênior de Neurocirurgia do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), a região em que o tumor está localizado apresenta nervos essenciais para a rotina diária do paciente, como locomoção, fala, deglutição e até respiração.
Por conta da complexidade do local, há um alto risco em aplicar procedimentos como a radioterapia ou mesmo a radiocirurgia, já que não apresentam tanta precisão como a protonterapia.
A proximidade do tumor com estruturas nervosas importantes, como nervos cranianos e centro respiratório e da deglutição, torna essa opção também repleta de risco de sequelas graves.
Assim, Eberth pode ter sequelas na visão, na coordenação motora e até a perda de memória. Por isso, dentre as opções, a irradiação por feixe de prótons se configura como a melhor alternativa, “pois é mais precisa em lesionar apenas a área tumoral, amenizando os danos neurológicos subsequentes”, detalha o Dr.Caubi.
Atendimento no SUS
A cirurgia de retirada da maior parte do tumor deve ocorrer no HGF em setembro, onde Eberth dará entrada para o atendimento especializado. Para isso, precisa perder 20 quilos até a data.
“Todos os médicos com quem falei em Fortaleza disseram que o melhor lugar do Ceará era o HGF. Lá é onde tem os melhores equipamentos e médicos”, detalha.
Além disso, a cirurgia ainda será gratuita por fazer parte do Sistema Único de Saúde (SUS), que garante tratamento eficaz e acessível para a população. Caso buscasse na rede particular, o custo seria de, no mínimo, 71 mil reais apenas para pagar a equipe médica.
Para ajudar
O link da vaquinha pode ser acessado aqui. Eberth também irá realizar um diário virtual ao longo do tratamento por meio de seu Instagram.