Dependência emocional: a espera adoecedora do afeto que não vem
As origens desses comportamentos que podem se manifestar desde a infância, residem nas formas de relação com as figuras parentais
Aguardar que o outro resolva questões importantes da sua vida que necessitam do seu posicionamento, ficar refém de situações desagradáveis, acreditar que o outro irá mudar posturas de cuidado, mesmo quando não há nenhum indício; transferir para a pessoa a decisão sobre o seu desejo, aguardar que o outro decida sobre o que você deveria querer, sentir-se culpado com receio de causar danos a quem está lhe fazendo mal.
Construir expectativas de cura, redenção ou mudança enquanto o outro não oferece nenhum indício de que deseja isso, receio de ficar só (mesmo diante de uma relação adoecida), satisfação com migalhas de afeto, busca incessante de aprovação mesmo que para isso me submeta a coisas e situações que discordo, o que pode propiciar baixa autoestima, ansiedade, depressão e adesão a relacionamentos abusivos; dúvidas sobre a própria capacidade de realização e autonomia o que pode gerar instabilidades emocionais e inseguranças, são algumas das expressões da dependência emocional.
As origens desses comportamentos que podem se manifestar desde a infância, residem nas formas de relação com as figuras parentais.
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Pais que ameaçam de abandono, que culpam o filho pelo que lhes acontece (porque se separaram, adoeceram, tiveram perdas financeiras, pelo cansaço, doença, tristeza, pelas escolhas de vida que fizeram, pelos problemas ou infelicidades que possuem), que fazem chantagem emocional, que negligenciam, realizam maus tratos, que impõe violências, que não apoiam as conquistas, que humilham, que oscilam de humor com as crianças, que não respeitam as necessidades de cuidado, com comunicações que envolvem pouco afeto e cuidado, produzem instabilidades emocionais que alimentam sentimentos de ambivalência e inconsistência existencial misturando amor, medo, raiva e inúmeras inseguranças.
Quando o objeto de amor ataca, deprecia, desqualifica, mistura-se o medo do abandono com a sensação de impotência e insuficiência do sujeito, que para garantir a própria proteção e segurança, no meio do turbilhão do processo de desenvolvimento e construção de identidade, por não haver ainda distanciamento suficiente para perceber o adoecimento do outro, podem ocasionar a sensação de culpa e fracasso em ser capaz de ter algo de bom para fazer o outro lhe amar.
Desta forma, o sujeito acata enquanto verdade, que o problema é em si,ou seja, que é a criança ou o adolescente que falha e que por isso merece a raiva, a humilhação, o abandono do outro; que jamais será bom o suficiente para receber amor, carinho e cuidado. Contentando-se com migalhas e atribuindo a si o merecimento pelas violências que o outro lhe impõe e buscando incessantemente tentar fazer algo que agrade, mude ou consiga obter o afeto, aceitação e o cuidado do outro.
Carente, desamparado e submisso a um padrão de relacionamento que mesclava pouca atenção, oscilação afetiva, com muita exigência e geralmente indiferença emocional, o sujeito cresce com muito medo de provocar tensão, conflito, desagradar figuras de autoridade ou aqueles de quem deseja o reconhecimento ou o afeto.
Desta maneira não expressa o que pensa, o que sente, aguarda silente que o outro se posicione, para simplesmente aquiescer ao desejo que lhe é imposto e espera que seja o outro que o liberte e que decida sobre o fim do seu suplício de submissão.
Aterrorizado diante das ameaças e medo do abandono, mesmo que seja daquilo que não lhe faz bem -o que encontra guarda nas próprias imagens desgastadas de si - o sujeito acredita que não será capaz de encontrar algo bom e que deve se contentar com o mundo hostil no qual vive.
Segundo, John Bowlby, psicanalista inglês, que escreveu sobre Apego e Perda em 1969, a construção de um apego seguro oferece a capacidade de expressar emoções, confiar em si e nas pessoas, desenvolver autoestima com capacidade de defender as próprias ideias e se conectar com os sentimentos, ser capaz de resolver problemas e estabelecer relações amorosas e de afeto.
Tais conquistas são decorrentes de uma relação sólida, segura, estável e confiável com as figuras parentais e ou de cuidado. As interações com os pais que possibilitam estas conquistas envolvem: conexão com as necessidades dos filhos, atenção, respeito, diálogo, vinculação afetiva genuína, presença constante, consistente e contínua para identificar as necessidades dos filhos, oferta dos cuidados necessários, comunicação honesta, sem manipulações ou ameaças de abandono, respeito ao desenvolvimento sem violências, validação emocional, apoio, convívio e suporte às diferenças e construção da autonomia.
Quando essas bases não oferecem a segurança para um mundo psíquico vivo e capaz de se diferenciar com segurança, os efeitos podem perdurar toda uma vida e se tornar presa fácil nas mãos de quem manipula, com a promessa de afetos que jamais virão.
*Esse texto representa, exclusivamente, a opinião da autora.