Projeto quer reerguer monumento de revolucionário cearense submerso há 20 anos pelo açude Castanhão
Marco em homenagem a Tristão Gonçalves, cearense morto durante luta pela instalação da República brasileira, ficou debaixo d’água
Além do nome de uma movimentada rua no Centro de Fortaleza, uma das poucas lembranças do revolucionário cearense Tristão Gonçalves é um monumento que marca o local onde ele foi assassinado, em terras correspondentes hoje ao município de Jaguaretama, totalmente cobertas pelas águas do açude Castanhão há pouco mais de duas décadas.
Cem anos após a inauguração do monumento - ocorrida em 1924 -, o Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará (IHGA) possui um projeto para qualificá-lo. Isso porque, neste ano, é celebrado o bicentenário da Confederação do Equador, movimento constitucionalista do Nordeste brasileiro do qual Tristão foi um dos líderes.
Detalhes sobre o novo projeto foram compartilhados pelo presidente do Instituto, o general Júlio Lima Verde Campos de Oliveira, em conversa com o Diário do Nordeste.
Segundo ele, em 31 de outubro de 1924, por ocasião do primeiro centenário da morte de Tristão, o Instituto do Ceará mandou erguer um monumento em local próximo onde ele teria sido assassinado. Era uma coluna com cerca de três metros de altura fincada no então povoado de Santa Rosa, em Jaguaribara – hoje Sítio Tapera, em Jaguaretama.
Um dos lados do monumento recebeu uma placa de bronze com os dizeres: “neste local, sucumbiu Tristão Gonçalves d’Alencar Araripe, o heroico presidente da Confederação do Equador no Ceará – 31 de outubro de 1824 – homenagem do Instituto do Ceará”.
No momento, aponta Lima Verde, o projeto ainda está no plano das ideias e na fase de contatos preliminares.
“A ideia é construir uma réplica do monumento que submergiu sob as águas do Castanhão, em um local na sede do município, como uma praça, com facilidade de acesso ao povo. Seria recolocada uma placa igual à original (1924) e outra alusiva aos 200 anos da morte de Tristão”, detalha.
Tristão foi assassinado por forças imperiais na antiga cidade de Jaguaribara. Como ela foi inundada a partir de 1995, para a construção do Castanhão, ganhou uma nova sede respeitando a arquitetura original da antiga cidade.
Hoje, a homenagem é praticamente desconhecida e fica em local de difícil acesso. Com o longo período de seca no Ceará entre 2012 e 2018 e a baixa no nível de água, o monumento voltou a ser visível.
Em abril de 2013, o Diário do Nordeste foi ao local e conseguiu, de barco, visualizar a coluna, 11 anos após a primeira inundação da área. À época, o Castanhão marcava pouco mais de 50% do armazenamento, conforme o Portal Hidrológico do Ceará.
Já em outubro de 2022 - quando o reservatório tinha cerca de 22% do volume -, uma expedição da Prefeitura de Jaguaretama caminhou cerca de 3 km na região, dentro de uma mata de caatinga formada principalmente por jurema preta, xique-xique e merum.
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Ao encontrarem o marco, os participantes constataram um “péssimo estado de conservação e deterioração”. À época, eles previram a necessidade de edificação de um novo marco, em um novo espaço, preservando o formato do marco original.
Agora, conforme o general Júlio Lima Verde, o Instituto do Ceará espera concretizar o projeto com apoio do município.
Quem foi Tristão Gonçalves?
Nascido no Crato, Tristão Gonçalves de Alencar Araripe (1789-1825) foi um revolucionário da Confederação do Equador, movimento político iniciado em Pernambuco que se espalhou por outras províncias do Nordeste. Seus defensores queriam a instalação da República no Brasil, em vez do Império, e cunharam o nome em referência à linha geográfica imaginária do equador, que passava próxima à região do conflito.
Antes da Confederação, Tristão havia participado da Revolução Pernambucana de 1817 - também de caráter republicano - e da tentativa de levar o movimento à terra natal, ao lado da mãe, Bárbara de Alencar, e do irmão, José Martiniano de Alencar. Porém, os revolucionários foram presos pelo capitão-mor José Pereira Filgueiras e enviados para presídios em Fortaleza.
Depois de solto, Tristão aderiu à nova insurgência, tornando-se uma das figuras mais representativas da Confederação. Em Fortaleza, ele foi proclamado pelos revolucionários republicanos, no Grande Conselho de 26 de agosto de 1824, como presidente da província do Ceará, destituindo o tenente-coronel Pedro José da Costa Barros.
Antes inimigo, Pereira Filgueiras trocou de posicionamento e se aliou ao cratense como comandante das armas do movimento. Após assumir o governo cearense, Tristão enviou emissários a outras províncias, visando a novas adesões à luta.
Contudo, logo depois, teve início uma violenta repressão à Confederação. O cerco foi se fechando contra o líder cearense. Em viagem contra os monarquistas de Aracati, ele foi substituído temporariamente por José Félix de Azevedo e Sá, que se rendeu sem resistência ao lorde Thomas Cochrane, escocês enviado pelo imperador.
Sem apoio e com amigos e familiares mortos ou presos, Tristão iniciou uma fuga pelo interior até ser capturado no sítio Santa Rosa. Assassinado barbaramente, teve várias partes do corpo arrancadas e seu cadáver ficou insepulto por vários dias, até resolverem enterrá-Io perto de uma igreja.