Em meio a crise de ônibus em Fortaleza, empresas avaliam se usarão crédito para renovar a frota
45 coletivos poderão ser comprados, mas companhias de transporte temem dívidas.
O sistema de transporte público de Fortaleza pode receber 45 novos ônibus para a renovação de parte da frota que circula na Cidade. Os coletivos são equipados com tecnologia padrão Euro 6 e poluem até 85% menos do que os antigos. Propostas de quatro empresas que atuam na Capital foram selecionadas no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Ministério das Cidades, totalizando um crédito de R$ 83.885.000 para empresas comprarem de forma financiada novos veículos.
Em meio a uma crise orçamentária para viabilizar o serviço, porém, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) aponta que a aquisição dos veículos ainda não é certa. “Ainda é cedo para confirmar, mas as empresas pediram o crédito porque pretendem utilizar. Todavia, antes de assumir compromisso com as parcelas, é claro, faz-se necessário estar melhor definida pelo menos a perspectiva de equilíbrio financeiro futuro dos contratos”, afirma.
Se os veículos forem adquiridos, o prazo estimado entre o pedido e o início de operação é de aproximadamente cinco meses, segundo a entidade. Eles devem ser utilizados para renovar parte dos veículos em operação — processo que deveria ocorrer todos os anos — e não para aumento da quantidade de ônibus nas ruas.
Na última quinta-feira (9), o Ministério das Cidades anunciou que empresas do Ceará, de Minas Gerais e do Mato Grosso poderão adquirir 206 novos ônibus por meio do Novo PAC, em um investimento de R$ 167,8 milhões. Além das empresas de Fortaleza, foram contempladas propostas de Belo Horizonte (MG), Juiz de Fora (MG), Uberlândia (MG) e Cuiabá (MT).
Veja as quatro empresas de Fortaleza com propostas selecionadas no Novo PAC:
- Vega S/A Transporte Urbano: R$ 34.200.000
- Transportes Urbanos Aliança S/A: R$ 21.375.000
- Auto Viação São José Ltda.: R$ 18.050.000
- Maraponga Transportes Ltda.: R$ 10.260.000
Idade média dos ônibus em Fortaleza
Ainda segundo informações do Sindiônibus, a renovação dos veículos deveria ocorrer regularmente, com a substituição de pelo menos 12,5% da frota todos os anos, para manter uma idade média dos ônibus de aproximadamente 4 anos. “Historicamente, até 2014, nossas empresas tinham por hábito renovar até um pouco mais”, afirma a entidade, em comunicado enviado por meio da assessoria de imprensa ao Diário do Nordeste.
Atualmente, porém, a idade média da frota que circula na cidade é de mais de 7,5 anos. Isso se deve ao contexto de desequilíbrio econômico-financeiro, uma vez que, nessas situações, “a primeira conta sacrificada […] é justamente a dos investimentos, pois se prioriza contas operacionais, como pessoal e combustível, para garantir o funcionamento do serviço”, informa.
“A renovação pode ser um processo relacionado com eventuais expansões de frota, mas não necessariamente. É comum que as empresas disponham de frota reserva para manutenções e esse excedente ser utilizado quando ocorre ampliação até que sejam recebidos novos veículos. Mas também pode ocorrer de precisar e não haver disponibilidade suficiente, fazendo necessário se esperar uma aquisição de frota”, explica.
Nesse contexto, a seleção no Novo PAC pode viabilizar uma aceleração na renovação. “Isso é importante porque no momento há muito atraso acumulado, tendo as empresas uma frota envelhecida e pouco crédito. Para piorar, quando conseguem, custa caro e os prazos são curtos”, complementa.
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Os juros desse modelo de financiamento, junto à possibilidade de prazos mais longos e carência, pode tornar viável que as empresas reforcem as aquisições, “desde que exista confiança na estabilidade contratual para poderem se comprometer com o pagamento das parcelas”, finaliza o Sindiônibus.
Em nota enviada ao Diário do Nordeste, a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) destacou o impacto da Pandemia de Covid-19 para a redução da receita das empresas e o consequente prejuízo na renovação da frota. Isso porque houve uma “queda exponencial” na demanda de passageiros, a base do financiamento do serviço.
“O número de passageiros por dia chegava a pouco mais de 1 milhão em 2019. Com a pandemia, em 2020, a demanda vem caindo, chegando atualmente a 539.958 passageiros em 2025, em um dia útil”, informa o órgão.
Se a idade média dos veículos era de seis anos em 2019, ela passou a ser de 8,4 anos em 2025, segundo o órgão. Nesse cálculo, também foram incluídos os veículos da Cooperativa dos Transportadores Autônomos de Passageiros do Estado do Ceará (Cootraps). “A Prefeitura segue estabelecendo diálogos com parceiros para melhorar a qualidade do serviço de transporte público na cidade”, finaliza a Etufor.
Menos emissão de poluentes
No último mês de junho, o Ministério das Cidades divulgou que, desde 2023, o eixo de Renovação de Frota do Novo PAC já havia selecionado R$ 13 bilhões em recursos para os setores públicos e privados, destinados à aquisição de 8.211 ônibus novos em 152 cidades de 23 estados.
A Pasta afirmou que a iniciativa tem como foco a maior eficiência energética, além da redução de emissões de gases poluentes e da melhoria da qualidade dos serviços de transporte. “Tecnologias limpas, como ônibus elétricos e veículos com motor Euro 6, têm sido prioridade”, divulgou.
Embora ainda sejam movidos a diesel, o Ministério explica que os novos modelos seguem o padrão Euro 6, reconhecido pelo rigor no controle de emissões. Com essa tecnologia, eles poluem até 85% menos do que os veículos antigos, uma vez que possuem sistemas que neutralizam parte dos gases antes que cheguem à atmosfera.
Crise no transporte público de Fortaleza
No final de setembro de 2025, pessoas que dependem do transporte público para se deslocar diariamente foram surpreendidas com a suspensão de 25 linhas de ônibus, o que afetou mais de 90 bairros da Capital. Além disso, o Sindicato reduziu a frota de outras 29 linhas e elevou a frota de sete com 20 veículos extras.
Decisão unilateral do Sindiônibus, a situação ocorreu porque o valor pago pela Prefeitura como subsídio para a operação não é suficiente, segundo Dimas Barreira, presidente do Sindicato. Em entrevista à Verdinha FM, ele afirmou que faltam R$ 7 milhões para a conta do transporte fechar todo mês.
Atualmente, o Executivo municipal repassa cerca de R$ 16 milhões por mês, após reforço extra de R$ 2,5 milhões mensais nos últimos dois meses. Mas o valor do subsídio, segundo Barreira, deveria ser de mais de R$ 20 milhões.
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As medidas duraram dois dias de impactos negativos à população, embates e negociações entre a Prefeitura e o Sindiônibus, e os ônibus voltaram às ruas no dia 1º de outubro. Dimas Barreira afirmou que não houve repasse financeiro extra ou avanço nas negociações com o Município. Ao Diário do Nordeste, em matéria publicada no dia 30 de setembro, ele disse que o retorno foi fruto de um esforço das empresas para “melhorar o ambiente” de tratativas do déficit financeiro.
Prefeitura e empresas voltam à mesa de negociação no próximo mês de novembro. Em entrevista ao Diário do Nordeste no início de outubro, o vereador Bruno Mesquita (PSD), líder do governo do prefeito Evandro Leitão (PT) na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor), não descartou a possibilidade de que haja um aumento nos repasses feitos pelo Poder Público ou da passagem paga pelos usuários.