Atrasos e ‘queima de paradas’ são as principais reclamações sobre ônibus de Fortaleza em 2025

Usuários realizaram 580 ligações para reclamar do intervalo irregular dos coletivos, incluindo a antecipação excessiva

Escrito por
Clarice Nascimento clarice.nascimento@svm.com.br
Uma fotografia captura pessoas em uma parada de ônibus em Fortaleza. Três indivíduos estão próximos à calçada, aguardando ou sinalizando. No primeiro plano, uma mulher de blusa amarela e cabelo preso estende o braço, apontando para o ônibus que se aproxima. Um homem de camisa azul e uma mulher de blusa preta estão ao lado dela, de costas. O ônibus, de cor azul-clara, está no centro da imagem e tem o letreiro digital exibindo o número da linha e o destino:
Legenda: Em 2025, mais de 450 reclamações de ‘queima de paradas’, quando os motoristas não param no ponto de ônibus no momento do embarque, foram registradas por usuários de transporte coletivo em Fortaleza
Foto: José Leomar/SVM

Na parada de ônibus da Avenida Desembargador Moreira, a corretora Patrícia Silva espera com o filho pela linha 680 José Walter / Cidade Jardim / Papicu, com direção ao bairro onde moram. Ela relata que, constantemente, os coletivos demoram mais do que o previsto e isso acaba atrasando sua rotina.

“O 680 tem dois [veículos] e acontece muito de demorar bastante a chegar. É um longo atraso e quando vem, vem os dois. Isso desorganiza os horários e a demanda acaba sendo maior. O primeiro acaba ficando mais cheio e o segundo, às vezes, vem um pouco mais vazio”, afirma. 

Atrasos ou antecipação excessiva dos veículos e desrespeito ao sinal nas paradas são as principais reclamações dos passageiros de ônibus na capital cearense. Os dados são do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus), solicitados pelo Diário do Nordeste.

Entre janeiro e setembro de 2025, foram 2.599 ligações de reclamação realizadas, sendo 580 delas contestações referentes a intervalo irregular dos ônibus. Ou seja, quando os veículos se atrasam para chegar nas paradas ou passam muito antes do horário previsto. 

Essas situações acabam prejudicando quem se programa para sair de casa utilizando, por exemplo, o aplicativo Meu Ônibus Fortaleza, como Patrícia. “Eu uso muito o aplicativo, principalmente por conta da linha do bairro, que mostra que daqui a 7 minutos vem. A gente chega lá e passa os 7, passa 10, até 15 minutos e o ônibus não chega. Isso acaba atrasando a vida”, relata. 

Na sequência, ficam as reclamações de ‘queima de paradas’, quando os motoristas não param no ponto de ônibus no momento do embarque, com 459 registros no período. Caso que aconteceu com o estudante de Direito, Lael Teixeira, de 24 anos. Ele e a namorada aguardavam um ônibus com direção ao Dragão do Mar, quando o coletivo passou da parada que aguardavam. 

“Isso acontece mais raramente, percebo muitas vezes que os motoristas até aguardam a gente correr até o ponto, mas nesse dia eu perdi um momento de lazer e tive que gastar com um carro de aplicativo”, afirma.

Considerando ao ano de 2024, o intervalo irregular dos veículos liderou as reclamações, com 1.120 registros, seguidos de passageiros reclamando de embarque ou desembarque ocorrido de maneira irregular, ou incompleta, com 714 registros. Ao todo, o ano passado registrou 12.220 ligações, sendo 42% de contestações (5.132).

Em média, o ano de 2025 registrou 288,7 reclamações por mês, enquanto o ano de 2024 teve 427,7 contestações mensais. Isso representa uma queda de, aproximadamente, 32,5%. 

A redução do número de reclamações ocorre em um contexto de queda também do número de passageiros circulando nos coletivos. Por exemplo, mais de 510 mil usuários embarcavam diariamente nos ônibus em 2024. Neste ano, são 496.843 passageiros em média, até o momento.

O retorno dos usuários passa pela melhoria da experiência deles e da qualidade do serviço ofertado, como explica ao Diário do Nordeste, Alexandre Queiroz, professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e membro do Observatório das Metrópoles.

“O usuário volta [a usar o transporte coletivo] se ele sente que paga por algo que é eficiente, que é um ônibus com conforto, que chega no tempo correto e que tem uma integração”, afirma. Quando esses fatores estão presentes, as pessoas se sentem contempladas com o transporte público em vez procurar os carros e motos por aplicativo. 

O que diz o Sindiônibus?

Em nota enviada ao Diário do Nordeste, o órgão sindical afirma que todas as manifestações recebidas seguem um fluxo “atencioso de verificação e resposta, para assegurar clareza e transparência no atendimento aos usuários”. Em 2025, as reclamações representaram 33,1% das ligações realizadas para o canal. 

O Centro de Controle Operacional (CCO) do Sindiônibus é responsável por revisar e checar cada contato registrado. Essas ligações são encaminhadas, posteriormente, às empresas que realizam a análise do material com apoio de recursos como GPS e gravações de vídeo do veículo, completa a nota.

"Concluída a apuração, a empresa emite um parecer, que é devolvido ao CCO. O usuário recebe o retorno do Alô Sindiônibus em até sete dias úteis, com todas as providências adotadas para a resolução da ocorrência”, diz. 

Entre janeiro e setembro, 1.583 chamadas foram “solucionadas em tempo real” pelo CCO, enquanto outras 3.485 manifestações foram encaminhas às empresas. “Elas analisam e respondem dentro do prazo estabelecido. Em ambos os casos, são considerados tanto elogios e sugestões quanto reclamações”, afirma a nota do sindicato. 

"As medidas decorrentes de cada caso, como treinamentos, reciclagens, sanções ou reconhecimentos, são de responsabilidade das empresas operadoras, com acompanhamento do Sindiônibus, conforme política interna e avaliação técnica. Além disso, a entidade realiza, semanalmente, o treinamento SITFOR, que aborda temas como acessibilidade, direção defensiva, assédio e cordialidade"
Sindiônibus
em nota
.

Todos os operadores devem participar do treinamento pelo menos uma vez ao ano, sejam novatos ou veteranos, reitera. “O Sindiônibus se coloca à disposição para fornecer informações adicionais, caso necessário”, reitera.

O Diário do Nordeste solicitou à Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) mais informações sobre essas reclamações ao transporte coletivo e um posicionamento acerca do que é feito para sanar essas contestações, mas não houve retorno até o fechamento da matéria. O espaço segue aberto para manifestações. 

Como fazer uma reclamação?

Essas reclamações foram feitas por meio do ‘Alô Sindiônibus’, o canal oficial do Sindiônibus para receber reclamações, sugestões, elogios e esclarecer dúvidas sobre o transporte coletivo de Fortaleza e Região Metropolitana. 

Quaisquer passageiros podem entrar em contato pelo WhatsApp (85) 4005-0956, de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, e aos sábados, domingos e feriados das 8h às 17h. “O canal garante retorno ao usuário em até sete dias, informando as providências adotadas”, pontua o sindicato. 

Os usuários também podem registrar reclamações por meio do Fale Conosco, disponível no aplicativo Meu ônibus Fortaleza.

Além disso, os habitantes de Fortaleza podem utilizar a Ouvidoria Digital, disponível no site https://ouvidoria.cgm.fortaleza.ce.gov.br/portal, para realizar uma denúncia ou demonstrar uma reclamação. Outros canais da Ouvidoria é o número 156 da “Central 156”, o e-mail ouvidoriageral.cgm@cgm.fortaleza.ce.gov.br ou o atendimento presencial na Rua Israel Bezerra, 570 - Dionísio Torres. 

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