Lula diz que água da Transposição do São Francisco não é para Data Center do TikTok no Ceará
Apesar da declaração, o presidente destacou que o projeto é estratégico para a economia do Estado.
Em meio aos impasses e críticas relacionados à construção do Data Center do TikTok no Ceará, o presidente Lula afirmou, nesta quarta-feira (3), que a Transposição do Rio São Francisco não tem como objetivo abastecer o equipamento, anunciado oficialmente para uma região próxima ao Complexo Industrial do Pecém.
“Eu não iria fazer a Transposição do São Francisco para fazer um data center. Estou fazendo a Transposição para resolver um problema crônico de água para beber e consumo doméstico de milhões e milhões de cearenses que precisam”, disse durante evento de entrega da Carteira Nacional Docente, no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza.
Ele ressaltou que o projeto é estratégico para a economia do Estado, mas que deve haver cobranças para que as obras sigam diretrizes ambientais corretas.
Entretanto, na prática, em alguns anos, a água da Transposição do São Francisco vai acabar chegando o Complexo do Pecém, onde ficará o Data Center.
“A empresa tem o compromisso, e como confio no governador (Elmano de Freitas), no Camilo (Santana, ministro da Educação) e no povo cearense pra cobrar, confio que esse Data Center vai ser um coisa extraordinária para o desenvolvimento tecnológico desse país”, ressaltou.
Conforme o presidente, o equipamento no Ceará pode servir de exemplo para que outras estruturas possam ser montadas em diferentes regiões do país.
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Lula ainda fez pedidos direcionados à diretora de políticas públicas do TikTok Brasil, Mônica Guise, presente na solenidade: que o Data Center utilize água reutilizada e energia renovável e “não mexer na capacidade de consumo do povo cearense”.
O ministro Camilo Santana também complementou: “Não vai usar muita água: vai ser o primeiro data center totalmente ambientalmente correto. Vai usar energia renovável 100%, eólica e solar. A água será reutilizada em seu ciclo”.
O TikTok Brasil, em parceria com a Omnia e a Casa dos Ventos, formalizou investimento de mais de R$ 200 bilhões na construção do equipamento.
O que é a Transposição do São Francisco?
O Projeto de Integração do Rio São Francisco (Pisf), que detém 70% de toda a oferta de água da região Nordeste, possui 477 km e é considerado o maior empreendimento hídrico do Brasil. No Ceará, as águas chegaram em junho de 2020, na barragem de Jati, no Cariri.
O Ceará fica no Eixo Norte do Pisf. Em dezembro de 2023, o Governo Federal e o Governo do Estado assinaram a ordem de serviço para uma de suas principais ligações: a construção do Ramal do Salgado, que vai beneficiar 4,7 milhões de pessoas em 54 cidades cearenses. Segundo o Governo do Estado, o equipamento deve ser entregue em 2027.
Outra obra complementar importante é o Cinturão das Águas (CAC), que possui uma extensão de 145,3 km, incluindo trechos de canais abertos, túneis e sifões.
A obra está estruturada em cinco lotes e pode, no futuro, reforçar o fornecimento de água para a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) — no qual também está o Complexo do Pecém onde ficará o Data Center — por meio do sistema integrado ao Eixão das Águas.
Segundo a Secretaria dos Recursos Hídricos do Ceará (SRH), a previsão de entrega do CAC é junho de 2026.
A Transposição segue um Plano de Gestão Anual (PGA) que atende a demandas feitas dos Estados beneficiados (Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte) ao Governo Federal. Os pedidos de liberação variam de acordo com a situação de reservatórios destinados ao abastecimento hídrico da população.
Obra polêmica
Desde que foi anunciado, o processo de licenciamento para a instalação do Data Center Pecém é alvo de críticas por parte de povos indígenas, comunidades tradicionais e entidades ligadas ao meio ambiente e aos direitos humanos.
Para essas entidades, o empreendimento gera impactos socioambientais significativos, como o consumo massivo de energia elétrica e água de resfriamento para manter os servidores funcionando 24 horas, sete dias por semana.
No fim de outubro, o Ministério Público Federal no Ceará (MPF-CE) solicitou perícia técnica para determinar se o licenciamento prévio já concedido pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) foi apropriado ou se deveria ter exigido um método mais rigoroso.
Em resposta, a Casa dos Ventos, empresa responsável pelo projeto, afirmou que o empreendimento é “fundamentado em sustentabilidade e inovação” e reforça o compromisso “com a transparência e o cumprimento rigoroso de todas as etapas de licenciamento ambiental”.