Filha de vendedor de vassouras, jovem professora abre evento com Lula no Ceará
Jéssyka dos Santos é docente da rede estadual e se descreveu como ‘filha de políticas públicas’.
“Se o tempo de sonhar é em cima do chão, o de realizar também é.” A citação emprestada da escritora Socorro Acioli resume a trajetória de uma jovem professora cearense que discursou ao presidente Lula em evento de entrega da Carteira Nacional do Docente do Brasil (CNDB), nesta quarta-feira (3), em Fortaleza.
Mestra dos números, a docente de matemática da rede estadual do Ceará, Maria Jéssyka Almeida dos Santos, fincou com palavras o orgulho pela profissão que decidiu seguir desde a adolescência, ainda que topando com obstáculos estruturais – derrubados “por políticas públicas”.
“Sou filha de uma empregada doméstica com um vendedor de vassouras. Mulher negra, periférica, professora há 11 anos e filha de políticas públicas. Desde cedo, com ouvidos atentos e prontidão, fiz o que meus pais me orientaram: estudei”, emocionou-se.
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“Curiosa e amante de livros”, Jéssyka afirma que encontrou na escola uma espécie de “oásis” diante da secura da própria realidade social. A educação, então, foi terra fértil para os sonhos, irrigada por profissionais que a inspiraram a escolher que rumo seguir.
“Esses cultivadores de sonhos são pessoas a quem chamamos de professores. A conexão com o ambiente e com as pessoas foi tanta que, ao ingressar no ensino médio, pensei: ‘se essas pessoas transformaram minha vida, devo fazer o mesmo por outras’. E assim iniciou-se meu sonho de me tornar professora”, declarou.
Permanecer e concluir o Ensino Médio, contudo, foi desafio transposto “graças a políticas públicas como o Bolsa Família”, segundo afirmou, dirigindo-se ao presidente Lula.
“Ao final do Ensino Médio, fui aprovada no vestibular e iniciei minha graduação em Matemática na UFC. Minha permanência e conclusão no curso se deram por conta de bolsas e projetos de extensão, fortes incentivadores de permanência de estudantes de baixa renda nas universidades”, pontuou Jéssyka.
Da periferia à docência
Ao finalizar o curso de graduação, a jovem lembra que conquistou a aprovação no concurso público estadual para o magistério, há 11 anos. “E isso me possibilitou ascensão social”, comemora.
E, assim como o conhecimento em si, a busca da cearense por ele é inesgotável: formada e “com emprego consolidado”, Jéssyka seguiu na busca por se aprimorar – e, para isso, encontrou, de novo, o acesso na rede pública de ensino.
“Logo em seguida, ingressei na especialização e mestrado em Matemática, ambos ofertados pela UFC”, recobra, reforçando: “sou prova viva de que investir em educação não é despesa: é investimento no futuro”.
O respeito e a dedicação à profissão que decidiu seguir por vocação foram coroados, no evento, pelo recebimento da Carteira Nacional do Docente do Brasil das mãos do presidente Lula.
“Estou nesse palco representando a profissão mais importante do mundo: a nossa, a de professores. É a primeira vez no Brasil em que a classe docente é reconhecida e valorizada assim”, observou.
Ao Diário do Nordeste, Jéssyka reafirmou que foi um momento de “grande reconhecimento para a classe”, uma vez que “finalmente temos um documento que comprova que estamos nessa profissão, assim como médicos, advogados e outras ocupações”.