Cidade do Ceará tem o maior percentual de domicílios vagos no Brasil

Os dados do Censo 2022 também apontam que São João do Jaguaribe perdeu 2.045 moradores

Escrito por
Nícolas Paulino, Thatiany Nascimento e Gabriela Custódio ceara@svm.com.br
(Atualizado às 18:14)
Legenda: São João do Jaguaribe está localizada a 215 km de Fortaleza
Foto: Acervo/Aprece

A cidade que tem o maior percentual de domicílios vagos no Brasil fica no Ceará. Localizada a 215 km de Fortaleza, São João do Jaguaribe, conforme dados do Censo 2022, divulgado nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem 5.855 moradores.

No município, o Censo registrou 3.570 imóveis particulares, dos quais 1.038 são vagos, categoria em que os bens estão à venda ou para alugar sem moradores residindo na data da coleta. Isso representa 29% dos domicílios e é a maior proporção dentre todas as cidades do Brasil. 

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Além da cidade do Vale do Jaguaribe, o Ceará ainda tem outros 2 municípios dentre os 20 com mais imóveis vazios no Brasil: Poranga ocupa a 10ª posição nesse ranking, com 25,5% dos imóveis vagos e Croatá, ficou em 20º, com 24,5% dos domicílios nessa categoria. 

O supervisor de Documentação e Disseminação de Pesquisas (SDI) do IBGE no Ceará, Helder Rocha, explica que São João do Jaguaribe tem menos de 10 mil habitantes e “em municípios com população abaixo de 10 mil habitantes, qualquer variável demográfica é bem sensível”. 

Os dados do Censo 2022 também apontam que São João do Jaguaribe perdeu 2.045 moradores, em comparação com o último Censo, em 2010. E isto, avalia Hélder Rocha: “revela que, se saíram 2 mil pessoas, houve uma emigração, as pessoas saíram do município. Essas pessoas antes viviam lá e agora não vivem mais, daí em parte se explica esse percentual elevado de domicílios vagos. Houve essa emigração”.

Mas, ele também ressalta que esse elevado índice de imóveis vagos não se explica só por elementos demográficos, e é isto que o Censo é capaz de evidenciar, logo, acrescenta: “é preciso avaliar mais elementos. Para poder entender não só o percentual elevado de domicílios vagos mas entender por que houve essa emigração”. 

A reportagem do Diário do Nordeste tentou contato com a Prefeitura de São João do Jaguaribe, para comentar os resultados do censo e os possíveis impactos para a cidade, e aguarda resposta.

Legenda: Município localizado no Vale do Jaguaribe tem 5.855 moradores
Foto: Prefeitura de São João do Jaguaribe

Domicílios não ocupados

Ao todo, o Censo identificou 3.824.577 domicílios no Ceará. Destes, 800.161 não são ocupados permanentemente, ou seja, 21% do total - praticamente um a cada quatro.

Destes, 587 mil são vagos, categoria em que estão imóveis à venda e imóveis para alugar sem moradores residindo na data da coleta. Outros 213 mil são de uso ocasional, para descanso de fins de semana, férias ou outra finalidade, que não se constitui como residência principal de nenhum morador.

O demógrafo e professor do Departamento de Economia Doméstica da Universidade Federal de Ceará (UFC), Julio Alfredo Racchumi, explica que a análise dos domicílios vagos vai precisar de dados mais detalhados para ser compreendido “porque pode ser produto de vários fatores”. 

Legenda: No município, o Censo registrou 3.570 imóveis particulares, dos quais 1.038 são vagos
Foto: Prefeitura de São João do Jaguaribe

Um deles, pondera Julio está “associado a desaceleração do crescimento da população. Isso porque, nos últimos 10 anos, passamos por mudanças da composição familiar. O fato das famílias terem menos filhos, faz com que a gente tenha lares menos ocupados. Outro elemento é que, às vezes, os filhos saem das cidades em busca de regiões com maior desenvolvimento”. 

Ele destaca que somente com o conhecimento de dados mais específico será possível analisar de modo preciso os fatores explicativos dessa proporção de imóveis vazios.  Julio reforça que as informações sobre os domicílios vagos estão entre os que “surpreendem” nessa edição do Censo.

O QUE É O CENSO DO IBGE?

O Censo Demográfico é a pesquisa de maior amplitude no país, sendo realizado pelo IBGE a cada 10 anos, geralmente, naqueles que terminam com zero. Porém, em 2020, devido à pandemia, ele foi adiado e posteriormente sofreu atrasos devido à falta de recursos. Com isso, o levantamento só foi concretizado em 2022, tendo os resultados divulgados agora. 

Durante o Censo, os recenseadores percorrem as residências para coletar, dentre outras informações, a quantidade de moradores, características do domicílio, identificação étnico-racial, dados sobre educação, trabalho, rendimento e mortalidade. Quando ele deixa de ser realizado, o Brasil fica sem uma base de dados confiável.

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