Chuva acima ou abaixo da média? Regiões do Ceará terão tendências diferentes entre fevereiro e abril
As áreas com as dinâmicas diferentes passam pelo entorno do Cariri e de Coreaú, segundo a Funceme

Apesar de a previsão de chuvas para o Ceará ser de 45% dentro da média, como divulgado pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) para o período entre fevereiro e abril deste ano, a tendência de precipitações é diferente para duas regiões. O noroeste do Estado, onde está a Região do Coreaú, pode ter um acumulado acima da normal climatológica, e o sudeste, onde fica o Cariri, pode ficar abaixo da média.
As informações, detalhadas em entrevista ao Diário do Nordeste, fazem parte do prognóstico climático da Funceme, anunciado na manhã desta quarta-feira (22) em evento realizado no Palácio da Abolição. De modo geral, para o Estado, a probabilidade de as chuvas do trimestre ficarem em torno da normal é de 45%, abaixo é de 35% e acima, de 20%.
Mas, como contextualiza o presidente da Funceme, Eduardo Sávio Martins, há uma “variabilidade espacial” das chuvas. Ou seja, as precipitações podem acontecer de forma diferente no Estado, com algumas regiões mais secas do que as demais.
“Os modelos mostram uma distinção entre o que aconteceria no noroeste do Estado, com a tendência de ficar acima ou normal, e ao sudeste de ficar mais provável abaixo da média”, explica Eduardo.
Para chegar nessa conclusão, a Funceme utiliza dados internacionais e sistemas globais de previsão. “Esse ano, em particular, o noroeste (deve ficar) com normal ou acima da média e o sudeste do Estado mais seco, como cenário mais provável”, aponta.
Eduardo explica que, mesmo com a possibilidade de fazer esse detalhamento do prognóstico, não dá para especificar quais municípios podem ser mais afetados com essa diferença nas chuvas.
“Estamos lidando com modelos de nível global e esse olhar mais detalhado é muito difícil de dar, só quando há uma confluência grande de informações, como a que a gente viu agora”, destaca.
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Segundo informações da Fundação, a variabilidade espacial “é intrínseca à distribuição de chuvas no setor norte do Nordeste do Brasil”, devido a diversos fatores, como efeitos topográficos, proximidade em relação ao oceano e cobertura vegetal.
“Especialmente em localidades com menores valores de precipitação climatológica, a variabilidade temporal das chuvas pode provocar uma maior frequência de veranicos. Nas áreas com normais climatológicas mais expressivas, como regiões litorâneas ou serranas, há maior possibilidade de ocorrerem eventos extremos de chuva”, diz o documento.
Confira, no gráfico abaixo, quais são os limites mínimo e máximo em cada macrorregião do Ceará para que a quantidade de chuva no trimestre de fevereiro a abril seja considerada “em torno da média” climatológica.
Fenômenos ligados à chuva
A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) é o principal sistema meteorológico responsável pelas chuvas no Ceará, entre fevereiro e maio, de acordo com a Funceme. No momento, ainda segundo a Fundação, a ZCIT está posicionada ao norte da Linha do Equador.
Além disso, outro fenômeno que está relacionado ao favorecimento de chuvas é a La Niña – quando as águas do Oceano Pacífico esfriam. Mesmo com a possível presença dela, ainda não dá para determinar o nível de influência nas chuvas.
“Ano passado nós tínhamos o El Niño, e nós tivemos chuvas acima da média de fevereiro e abril. Isso foi o primeiro evento que aconteceu na história: uma presença moderada forte e nós temos um trimestre acima da média. Isso foi o primeiro da história”, analisa Eduardo.
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Fora o relatório que avalia o trimestre, os meteorologistas analisam períodos mais curtos de tempo para entender as variações.
“Temos eventos que são excepcionais, como aconteceu no dia 15 de janeiro, quando tivemos uma média para todo o Estado do Ceará de 62,2 milímetros. Esse foi o maior evento registrado na história e, por isso, é muito importante acompanhar o prognóstico sazonal, que vai de 7 a 44 dias”, exemplifica.
Chuvas de 2025
Neste mês de janeiro, último da pré-estação chuvosa, o Ceará já registrou 149,9 mm de chuvas até a última quarta-feira (22). Com isso, o estado já choveu 50% a mais do que os 99,8 mm considerados como “normal” para o mês.
Em nenhuma das oito macrorregiões do estado choveu abaixo da média esperada para todo o mês. Enquanto em quatro delas choveu “em torno da média” para o período, na outra metade as chuvas foram “acima da média”.
Entre elas, Ibiapaba e Litoral Norte tiveram destaque, com um desvio positivo de mais de 70% em relação à normal climatológica. Para o mês, o “esperado” para a macrorregião de Ibiapaba é que haja uma precipitação de 114,6 mm. Até a última quarta-feira, porém, o acumulado desde o começo do mês já era de 199,3 mm. Já no Litoral Norte o observado foi de 193,1 mm, enquanto a normal é de 112,6 mm em todo o mês.
Por outro lado, no Maciço de Baturité foi a única macrorregião com desvio negativo em relação à normal climatológica, com precipitação -3,1% abaixo do esperado. Ainda assim, os 93,3 mm acumulados no período deixaram a região com chuvas “em torno da média”.
Para os próximos dias, quinta-feira (23) e sexta-feira (24), a Funceme aponta possibilidade de eventos isolados de precipitações na faixa litorânea e no sul do Estado, com concentração preferencialmente durante as madrugadas e inícios de manhã, assim como no noroeste do Ceará, pela tarde.
Impactos para a população
No Cariri, onde choveu 33,5% acima da normal climatológica, algumas cidades têm sofrido com alagamentos. Conforme o Diário do Nordeste mostrou na última quarta-feira (22), diversas ruas do Crato enfrentaram os estragos da enxurrada, que invadiu casas e estabelecimentos comerciais, agravou buracos já existentes nas vias, derrubou árvores e expôs uma grande quantidade de lixo espalhado pela cidade.
Em Juazeiro do Norte, na madrugada da terça-feira (21), a água subiu mais de um metro de altura no bairro Lagoa Seca, um dos mais afetados. Com isso, carros que estavam estacionados nas ruas chegaram a ficar submersos.
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Também na região do Cariri, um açude desativado transbordou em Missão Velha e a água invadiu residências, também na madrugada de terça-feira. Nesse dia, a Funceme registrou precipitações de 118 milímetros na cidade.
Já na zona rural de Independência, na macrorregião Sertão Central e Inhamuns, uma barragem rompeu e deixou famílias ilhadas no último domingo (19). O açude era irregular, segundo a Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará (SRH), porque não tinha cadastro junto à Pasta.
Ao fim da operação da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), cinco pessoas foram resgatadas. Um deles foi um idoso de 75 anos que estava plantando na beira do rio quando foi surpreendido pela correnteza da água. Ele estava com dois cachorros que também foram salvos.
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