Ceará tem 2 açudes secos e 6 com volume morto; veja locais

Nos reservatórios considerados ‘mortos’, nível de água não é suficiente para abastecimento

Escrito por
Clarice Nascimento clarice.nascimento@svm.com.br
(Atualizado às 07:55)
Legenda: Maior açude do Brasil, o Castanhão, da bacia do Médio Jaguaribe, acumula menos de 30% da capacidade hídrica.
Foto: Ismael Soares

Com o fim da quadra chuvosa dentro do esperado, a reserva hídrica acumulada do Ceará encerrou com 10,15 bilhões de metros cúbicos (m³), que representa 54,89% da capacidade total. Dos 157 açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), 26 estão sangrando e outros 36 acima de 90% da capacidade máxima. 

Por outro lado, 30 reservatórios estão abaixo de 30% e oito reservatórios apresentam situação crítica: dois estão secos - Jatobá (1%) e Madeiro (0,87%) e seis com volume morto, quando apresentam menos de 5% de sua capacidade. As informações são do Portal Hidrológico do Ceará, atualizado nesta quinta-feira (5). 

Neste ano, a quadra chuvosa teve distribuição desigual das precipitações, visto que 60% do território do Ceará tiveram chuvas abaixo da média. Nas cidades onde estão localizados os açudes secos, Milhã e Pereiro, as precipitações somaram 507.7 mm e 438 mm, respectivamente. 

O titular da Secretaria dos Recursos Hídricos do Ceará (SRH), Fernando Santana, destacou, na última quarta-feira (4), que, em 2025, o aporte dos açudes foi menor do que o registrado no ano passado. Segundo ele, o estado não teve o acúmulo esperado, embora tenham surpreendido áreas como a de Orós, onde o reservatório de mesmo nome sangrou em abril. 

O gestor acrescentou que há cidades que acabam ficando sob alerta para a indisponibilidade de água e lembra que o Estado tem municípios que já entram em situação crítica. Ele citou Milhã como uma dessas localidades, assim como Ipaumirim, Baixio e Umari, para onde o governo busca paliativos diante dos sérios problemas. 

“Temos obras que garantem, hoje, segurança hídrica à população. Estamos correndo pra que finalizem, como o Cinturão das Águas, no Cariri; o Malha D’água, no Sertão Central, que capta água do Banabuiú e leva água para 9 municípios; o Ramal do Salgado; e a duplicação do Eixão das Águas, trazendo água do Castanhão”, acrescentou Santana.

ABASTECIMENTO DE MILHÃ

Construído em 1997, o açude Jatobá possui capacidade total de 590.000 m³ e é monitorado pela Cogerh desde 2005. A última vez que o reservatório verteu - ou seja, atingiu 100% do volume - foi em 26 de junho de 2023, conforme os dados do órgão. 

A imagem é uma fotografia aérea vertical que mostra um reservatório de água cercado por uma paisagem predominantemente árida e seca. Um corpo d'água escuro, em tons de azul e verde-escuro, que se estende de forma sinuosa na vertical, ocupando a maior parte do centro da imagem. O reservatório é ladeado por uma paisagem seca, de coloração predominantemente marrom-claro e bege.
Legenda: A última vez que o açude Jatobá, em Milhã, atingiu 100% do volume foi em 26 de junho de 2023, segundo dados da Cogerh
Foto: Cogerh

Em novembro de 2024, a população de Milhã, no Sertão Central do Ceará, vivia um racionamento extremo de água, já que o reservatório somava apenas 6,7% da capacidade. Até mesmo a adutora Patu, que costumava socorrer o município em tempos de seca, estava sem condições de uso. 

Com o abastecimento da cidade intercalado pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), a população tinha acesso à água em apenas três ou quatro dias da semana, explicou a Prefeitura de Milhã na época.  

11 ANOS SEM BONS ÍNDICES

O Madeiro, localizado no Vale do Jaguaribe, foi construído em 1999 e tem capacidade total de 2.810.000 m³. Conforme monitoramento da Cogerh, o açude não sangra há 20 anos

O melhor índice apresentado foi de 64,70% da capacidade em 29 de julho de 2009. Na época, o reservatório somou 1,82 milhão de metros cúbicos. Desde então, o volume hidrológico do açude veio diminuindo.

A primeira vez que o Madeiro 'secou' foi em março de 2014, quando atingiu níveis menores que 1%. De lá para cá, foram registrados acúmulos hídricos, mas com percentual menor que 5%.  

O reservatório faz parte da bacia do Médio Jaguaribe - mesma onde se localiza o Castanhão -, e acumula apenas 30% da capacidade hídrica. 

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CHUVAS DENTRO DA MÉDIA 

As precipitações no Ceará em 2025 ficaram dentro da média prevista pela Funceme no início do ano. Entre fevereiro e maio, choveu 517,8 milímetros (mm) no Estado. Esse número, mesmo na média, é cerca de 15% menor que a normal meteorológica.

Os dados consideram as médias das chuvas dos quatro meses que compõem a quadra chuvosa - fevereiro, março, abril e maio. 

O prognóstico da Funceme, anunciado em janeiro deste ano, apontou 45% de probabilidade de chuvas dentro da média entre fevereiro e abril; 20% de chance de as chuvas ficarem acima da média e 35% abaixo da média.  

Depois disso, em fevereiro, a nova previsão do órgão, referente aos meses de março a maio, manteve a maior probabilidade (45%) de precipitações na média. No entanto, esse segundo prognóstico apontou possibilidades distintas para os outros cenários: 30% de chances de chuvas abaixo da média e 25% acima da média. 

SANGRIA HISTÓRICA

A imagem mostra o açude Orós ao pôr do sol. O corpo d'água reflete um céu azul com nuvens e plantas aquáticas estão em primeiro plano. Uma torre de controle emerge da água, com uma colina verde à direita. Um vasto corpo d'água sob céu azul com nuvens, refletindo a luz. Plantas aquáticas em primeiro plano. Uma torre de controle à direita e colinas verdes ao fundo. Paz e amplitude naturais.
Legenda: O segundo maior reservatório do Ceará sangrou no fim de abril, após muita expectativa da população
Foto: Ismael Soares

Mesmo com a quadra chuvosa dentro do esperado e menos aporte hídrico, alguns resultados são positivos e históricos para o Ceará. O Orós, segundo maior açude do Estado, voltou a sangrar após 14 anos. 

A recuperação do volume do reservatório foi impulsionada pelas chuvas concentradas na bacia Alto Jaguaribe, onde o acúmulo hídrico está acima de 90% da capacidade total. 

A população da cidade de Orós vinha acompanhando, com muita expectativa, a subida do nível da água do reservatório. O fato ainda guardou uma coincidência: a data da sangria de 2025, em 26 de abril, é quase a mesma de 2011, quando ocorreu em 27 de abril. 

O açude tem capacidade de armazenar 1,9 bilhão de metros cúbicos (m³) de água. Entre os múltiplos usos da água estão a perenização do Rio Jaguaribe, a irrigação do Médio e Baixo Jaguaribe e a piscicultura. 

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