Ceará melhora cobertura vacinal de 16 das 18 vacinas de rotina para crianças

Imunizantes fornecem tanto proteção individual como bloqueio coletivo contra doenças e sequelas, algumas delas já erradicadas

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Índices apontam para a reversão da queda dos índices vacinais dos últimos anos
Foto: Kid Jr.

O Ceará voltou a aumentar os índices de vacinação de quase todas as vacinas de rotina recomendadas para crianças de até um ano de idade. Os dados divulgados pelo Ministério da Saúde são preliminares e correspondem ao período de janeiro a outubro de 2023, comparados com todo o ano de 2022, mas confirmam a maior adesão dos cearenses à imunização contra doenças que podem ser fatais.

O Estado obteve resultado superior em todas as oito vacinas recomendadas a menores de um ano de idade, incluindo poliomielite, febre amarela e rotavírus. Também registrou aumento em todas as recomendações no calendário infantil para crianças com um ano de idade; três delas tiveram incremento maior que 10 pontos percentuais.

Os destaques vão para a 2ª dose de tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), cujos índices saltaram de 66,3% para 81,6%; a poliomielite, que alcançou 88%, ou seja, 13% a mais que 2022; e da hepatite A, cujos números passaram de 79,5% para 90% neste ano. 

Em comparação às outras unidades federativas, foi destaque como aquele que mais vacinou contra varicela (89,09%) e a segunda dose da tríplice viral (81,6%). 

As únicas vacinas que não superaram o percentual do ano passado foram aquelas aplicadas ao nascer. A BCG registrou 85%, contra 116% de 2022; e a hepatite B acumulou 82,5%, embora 2022 tenha tido 107%. A Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) atualiza que, até dezembro, essas coberturas cresceram para 87,3% e 84,3%, respectivamente.

Para a pediatra neonatologista Larissa Marques, o incremento deve ser comemorado e tem relação com o fim da Covid-19 como emergência global decretado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em maio deste ano. 

“Houve a normalização da frequência de escolas e de atendimentos de saúde, e as pessoas ficaram com menos medo de sair de casa. Também foi um ano que os pediatras discutiram muito a importância de se retornar a vacinação adequada. Há um ano, a gente batia na queda acentuada de 2021 e 2022”, considera.

Larissa reforça que o tema deve ser constantemente discutido e estimulado pelas gestões públicas, para que pais ou responsáveis mantenham o calendário vacinal das crianças sempre atualizado.

“Tanto para prevenir a doença individualmente como também fazer o bloqueio de várias doenças e sequelas, para que a gente consiga manter erradicadas e não tenhamos o retorno de doenças já extintas por conta da falta de vacinação”, afirma.

O secretário executivo de Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), Antônio Lima, também destaca que os resultados revelam o esforço do Estado, municípios e profissionais de saúde em retomar as grandes coberturas “que tradicionalmente nós tínhamos”. “Dessa forma, o Ceará está novamente se aproximando das metas de cobertura”, conclui .

No Sistema Único de Saúde (SUS), a vacinação funciona em rede. O Ministério da Saúde adquire e envia os imunizantes para os Estados. A Sesa recebe e distribui as vacinas para os municípios, que dão suporte à operação. Os municípios, por sua vez, providenciam as salas de vacina e os profissionais para a aplicação direta.

Abastecimento constante

Apesar da conquista, a pediatra Larissa Marques chama atenção para a garantia de acesso da população às vacinas. No caso da BCG, houve um desabastecimento nacional que comprometeu a aplicação do imunizante - que previne formas graves de tuberculose - e pode ter reflexo nos dados de aplicação. “Esse entrave de abastecimento precisa ser revisto”, alerta.

Em maio, entidades científicas como a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) criticaram a disponibilidade limitada da vacina, gerando um fornecimento intermitente. “O governo brasileiro precisa garantir os investimentos para que a fabricação possa estar de acordo com as normas sanitárias e os melhores padrões de produção; sem adequados investimentos não há solução possível”, recomendaram.

Em nota, a Sesa explicou que, “diante do cenário verificado em âmbito nacional, o Ceará redimensionou o envio das vacinas aos municípios cearenses, garantindo o fornecimento do imunizante à população”. A Pasta garantiu que o estoque do Estado está regularizado desde julho deste ano.

“Como pediatra, minha sugestão é que sempre se discuta a importância das vacinas durante as consultas, sejam públicas ou privadas, e que o poder público dê suporte adequado na oferta e divulgação”, finaliza a médica Larissa Marques. 

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Aumento registrado em todo o Brasil

A nível nacional, oito vacinas recomendadas do calendário infantil também apresentaram aumento nas coberturas vacinais. Para o Ministério da Saúde, os índices atualizados apontam “para a reversão da queda dos índices vacinais que o Brasil enfrenta há cerca de 7 anos, mesmo sem a consolidação dos dados para todo o ano de 2023”. 

Segundo a Pasta, o avanço é fruto do Movimento Nacional pela Vacinação, com a adoção de microplanejamentos, o repasse de mais de R$151 milhões para ações regionais nos estados e municípios e o lançamento do programa Saúde com Ciência.

A regionalização, por exemplo, levou à melhora dos índices vacinais para a DTP, que protege contra a difteria, tétano e coqueluche, em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal. Além disso, 26 unidades federativas aumentaram a cobertura contra a poliomielite e com a primeira dose da tríplice viral. 

“Ao longo de todo o ano, as equipes do Programa Nacional de Imunizações (PNI) percorreram o Brasil realizando oficinas com as secretarias de saúde e buscando soluções viáveis para a realidade de cada local. Entre as estratégias realizadas estão a vacinação extramuros, ampliação do horário das salas de imunização e busca ativa de não vacinados”, detalha o Ministério.

Conheça as vacinas oferecidas no Calendário Nacional:

  • BCG: composta por uma bactéria viva atenuada, a vacina protege contra formas graves de tuberculose.
  • Hepatite B: imuniza contra a hepatite B, doença infecciosa que ataca o fígado. Deve ser administrada o mais precocemente possível, se possível ainda na maternidade.
  • Pentavalente: vacina utilizada no combate à difteria, tétano, coqueluche, Haemophilus influenzae B e hepatite B.
  • Poliomielite VIP: injetável, é composta pelo vírus inativado tipos 1, 2, e 3 no combate à poliomielite, doença que pode provocar a paralisia infantil.
  • Pneumocócica: vacina administrada no combate à pneumonias, meningites, otites e sinusites pelos sorotipos que compõem a vacina.
  • Rotavírus humano: protege contra a diarréia causada pelo rotavírus.
  • Meningocócica C: protege contra a meningite meningocócica tipo C, que agride as membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal.
  • Febre Amarela: protege contra a febre amarela.
  • Poliomielite VOP: reforço oral da VIP.
  • Difteria, Tétano, Pertussis (DTP): protege contra a difteria, tétano e a coqueluche.
  • Tríplice viral (SCR): composta pelo vírus vivo atenuado do sarampo, caxumba e rubéola.
  • Hepatite A: a vacina combate a doença de mesmo nome, que também agride o fígado.
  • Varicela: composta do vírus vivo atenuado da varicela, infecção também conhecida como catapora.
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