Problemas não se resolvem por decretos!

A energia inesgotável que o universo tem e que pode mudar o rumo da sociedade é o amor. Somente ele tem o poder de derrotar a ambição de acumular riquezas e recursos que estão prejudicando o planeta e gerando ódio e divisão

Escrito por
Adalberto Barreto ceara@svm.com.br
Legenda: A 23ª edição da Parada pela Diversidade Sexual do Ceará, realizada no dia 30 de junho de 2024, reuniu uma multidão na Avenida Beira-Mar
Foto: Ismael Soares

Personagens como He-Man, Mulher-Maravilha e Batman são considerados heróis na cultura norte-americana e estão presentes no imaginário coletivo como capazes de resolver facilmente, sozinhos, os problemas sociais. Neste cenário, os desafios reais que envolvem a convivência em sociedade são atribuídos a indivíduos, os quais são considerados criminosos, excluídos da sociedade, como se sacrifícios fossem necessários para o bem maior.

A expressão popular diz serem usados como boi de piranha, sacrificados para a boiada poder atravessar o rio com segurança. Essa visão simplista e maniqueísta divide o mundo entre o bem e o mal, ignorando fatores socioeconômicos e culturais relevantes. O novo presidente dos Estados Unidos, recentemente, rotulou dois grupos como problemáticos: imigrantes e pessoas LGBTQIA+.

Vejamos: Quem são os imigrantes? Eles são vítimas de um sistema econômico que prioriza o lucro e destrói florestas, contamina rios e expulsa povos originários de suas terras, resultando em conflitos que forçam populações a abandonar suas terras em busca de outras. Sem documentos e identidade, esses indivíduos migram em busca de sobrevivência e de um local seguro para suas famílias.

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A ONU estima que existam milhões de migrantes, que são como água descendo uma ladeira, buscando o oceano para desaguar.  Ao invés de construir barreiras para impedir o fluxo humano, devemos humanizar a economia, construir pontes e abrir portas para acolhê-los por serem as verdadeiras vítimas e não os causadores dos problemas. A exclusão deles da sociedade, por meio de leis ou força policial, só agrava a convivência e demonstra a falta de sensibilidade e compreensão dos governantes.

Quanto às pessoas LGBTQIA+, são indivíduos cuja identidade de gênero não corresponde ao sexo que lhes foi atribuído ao nascer, masculino ou feminino. Eles não se enquadram nas regras tradicionais de gênero e sexualidade. Sua existência desafia a visão dualista binária do mundo. Estima-se que entre 400 milhões e 800 milhões de pessoas se sintam parte da comunidade.

A negativa em aceitar essa diversidade aumenta a tensão social e gera conflitos. Não são fantasmas, são realidades e não podem ser ignoradas. Eles estão presentes em nossas famílias, empresas e na sociedade. Como psicoterapeuta, vejo pais sofrendo quando descobrem que seus filhos são homossexuais ou pertencem a essa categoria. O que fazer com seu filho que você ama? Expulsá-lo de casa com violência, deserdá-lo, negar sua existência e impedir que ele escolha uma profissão só aumenta sua dor.

Atualmente, essas pessoas buscam ser reconhecidas como pertencentes a um terceiro grupo e se sentem desrespeitadas quando isso não ocorre. Ignorar essa realidade e cortar verbas para políticas públicas de cuidados é um ato insano e de preconceito. A falta de reconhecimento dessa diversidade aumenta a dor de famílias e da sociedade.

Ninguém pode solucionar esses problemas por meio de um decreto. Qual a família que já não viveu e vive ou conhece alguém que está vivendo esse drama? Esse fenômeno atinge todas as famílias de todas as classes sociais de qualquer lugar do planeta. As mídias sociais têm se tornado um “showroom” de situações semelhantes. E o que fazer? A negação dessa realidade, a exclusão desses indivíduos e a ausência de inclusão só aumentam o drama humano e os conflitos futuros.

A falta de compreensão dessa realidade, a imposição de uma visão dualista que está presente em mentes tradicionais, obtusas e psico-rígidas, só agrava a dor e o sofrimento dos pais, filhos e de toda a sociedade. Não será por meio de um decreto presidencial, de uma canetada ou de um mero negacionismo que resolveremos este problema crucial da sociedade contemporânea.

Da mesma maneira que nosso imaginário está povoado por heróis de ficção que parecem resolver, com facilidade, tudo sozinho por um passo de mágica, como o He-Man ou o homem aranha, temos no imaginário cristão a figura de Jesus Cristo que personifica o poder do amor. Ele nos ensina que o amor é a força que une e dá sentido à vida: “ama ao outro como a ti mesmo.” Cristo nos ensina que amar o próximo é essencial para a convivência pacífica. Sem a solidariedade e a empatia necessárias, não há progresso duradouro.

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Cristo não apenas transmite a mensagem do AMOR, como também vive e morre por amor. Ele nos lembra que existe uma força extremamente poderosa que regula todo o universo. Essa força é o amor. Ele é a luz que clareia as trevas, a força que atrai e aproxima as pessoas umas das outras e da natureza. Ele nos ensina a partilhar, a dividir o que conquistamos com o esforço de nosso trabalho.

Alguns governantes estão divididos em buscar fontes de energia em recursos naturais, como o petróleo, que poluí e aguenta a terra, provocando desastres ecológicos dramáticos, outros em energias renováveis como solar e outras. Ambos ignoram que a fonte de energia de que a humanidade precisa é explorar outra energia que rege o universo, a energia produzida pelo amor.

Esse amor personificado em Deus, que, por ser pai, nos torna irmãos, pertencentes à família humana. Somos todos humanos, nosso sangue tem a mesma cor, nossos sonhos são os mesmos. Ele é amor presente em todas as religiões. Amor que acolhe, respeita as diferenças e dá sentido à vida. Os líderes deste mundo ainda não o exploraram, talvez por receio de terem que rever suas atitudes, conceitos e políticas.

A energia inesgotável que o universo tem e que pode mudar o rumo da sociedade é o amor. Somente o amor tem o poder de derrotar a ambição de acumular riquezas e recursos que estão prejudicando o planeta e gerando ódio e divisão. É importante relembrar que esse sentimento de amor é universal e está à espera da decisão para ser liberado.

Se eu liberar essa chama de amor que está dentro de mim, se você também liberar a sua, seremos muitos a clarear e iluminar o caminho a seguir. Juntos, seremos mais fortes e iremos muito mais longe.

Os lideres mundiais devem buscar novas fontes de energia, mas a mais importante é a energia do amor, que respeita as diferenças e dá sentido à vida. Não podemos confiar em uma única pessoa para conduzir o nosso destino; cada um de nós tem um papel crucial na resolução dos desafios.

Para podermos realmente transformar a sociedade, é imprescindível que todos se envolvam em um objetivo em comum. A mudança não acontece de forma mágica, por um decreto, ou por meio de líderes autoritários e solitários; ela surge da colaboração e do engajamento de cada pessoa e dos governos. Precisamos reconhecer que somos parte do problema, mas também parte da solução.

Isso quer dizer que cada ação conta, desde pequenas ações diárias até iniciativas maiores que promovam a inclusão e o respeito. A inclusão de diferentes vozes no processo de tomada de decisão pode contribuir para identificar e lidar com questões antes que se tornem conflitos, favorecendo um ambiente mais harmônico. A colaboração entre diferentes grupos pode gerar novas ideias e abordagens inovadoras que não surgiriam em processos de tomada de decisão tradicionais.

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Soluções participativas permitem que as soluções sejam adaptadas às necessidades e contextos locais, aumentando sua eficácia e relevância. Questões que envolvem diferentes perspectivas e interesses, como questões sociais e ambientais, se beneficiam da diversidade de ideias e experiências que soluções participativas permitem. Ao trabalhar em conjunto, é possível criar um ambiente mais acolhedor e justo para todos.

Além disso, é fundamental que a educação desempenhe um papel central nesse processo. Promover a compreensão e o respeito pelas diferenças desde cedo ajuda a construir uma sociedade mais empática e solidária. A mudança começa em nós. Se cultivarmos o amor, a empatia e a solidariedade, podemos inspirar outros a fazer o mesmo. Cada um de nós tem a capacidade de ser um agente de mudança, e essa é a verdadeira força que pode modificar o rumo da sociedade.

Portanto, vamos deixar de lado a ideia de que somente um herói pode nos salvar e nos proteger dos obstáculos da vida. Em vez disso, que cada um de nós se torne um herói de sua própria vida, em sua própria comunidade, contribuindo para um futuro melhor. A mudança é possível, e ela começa agora, com a nossa disposição de agir coletivamente.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor

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