Ceará confirma morte de criança de 1 ano por ameba 'comedora de cérebro' em Caucaia
Confirmação só foi possível porque a família autorizou a necropsia no corpo da criança, aponta Secretaria da Saúde
O óbito de uma criança de 1 ano e 7 meses, em Caucaia, foi causado por meningoencefalite amebiana pela ameba Naegleria fowleri, conhecida como "comedora de cérebro". É o que confirmou a investigação da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa), divulgada nesta terça-feira (10).
Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, o secretário Executivo de Vigilância em Saúde da Sesa, Antonio Silva Lima Neto, o Tanta, disse que o caso é considerado “muito raro” e pode ser classificado como uma “fatalidade”. O gestor relatou, ainda, que a confirmação só foi possível porque a família autorizou a necropsia no corpo da criança.
Conforme uma nota técnica da Sesa, amostras de fragmentos de encéfalo foram encaminhadas para o Instituto Adolfo Lutz em São Paulo, que confirmou a presença da ameba Naegleria fowleri. O mesmo laboratório também indicou a presença do agente infeccioso em amostra de água coletada na localidade.
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Possivelmente, indica a Pasta, a contaminação da criança ocorreu pelo contato de água não tratada com suas narinas durante o banho ou lavagem do rosto. O óbito ocorreu em 19 de setembro deste ano, após 8 dias do início dos sintomas.
Com a confirmação, o caso de Caucaia se torna a segunda morte registrada pela causa no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, o único caso desse tipo em humano tinha sido registrado em 1975, no estado de São Paulo.
“Esse é, portanto, um evento relevante para a saúde pública, que demanda uma investigação abrangente e criteriosa, tanto em aspectos etiológicos quanto epidemiológicos, para uma melhor compreensão do caso. É essencial, dada a raridade e a gravidade dessa infecção, informar os profissionais de saúde sobre suas principais características e implicações”
INFECÇÃO
Naegleria fowleri é uma ameba de vida livre, um organismo unicelular que pode ser encontrado em água doce quente, como lagoas, açudes, rios e fontes termais. De acordo com a nota técnica da Sesa, a infecção ocorre por via nasal, por meio da inspiração, inalação e aspiração de água pelo nariz, com maior frequência durante mergulho.
A partir das narinas, a ameba migra pelo nervo olfatório até o cérebro, onde causa destruição do tecido cerebral e inflamação, resultando na meningoencefalite amebiana primária (PAM).
As infecções cerebrais causadas por Naegleria fowleri são consideradas muito raras, mas quase sempre fatais. Segundo estudos, a meningoencefalite amebiana primária tem uma taxa de letalidade de 97%.
O quadro da menina de Caucaia evoluiu rapidamente a partir do dia 12 de setembro deste ano, após a dor de garganta surgir como um primeiro sintoma. Em seguida, febre alta, vômitos constantes e danos neurológicos, como convulsões e nuca enrijecida, começaram a se manifestar na criança.
Em meio aos sintomas, a criança foi hospitalizada e, logo após, transferida para o Hospital Infantil Albert Sabin, em Fortaleza, onde faleceu dias depois, em 19 de setembro.
FOCO NO MONITORAMENTO
Por conta da investigação do óbito, a Sesa e a Prefeitura de Caucaia realizaram uma série de ações visando readequar o sistema de água e evitar a possibilidade de novos casos. Na comunidade onde a menina morava, a filtragem, origem da água e mecanismo de cloração foi revista. Além disso, também foram conduzidos testes em lagos próximos e em um açude – onde a presença do agente infeccioso não foi identificada.
Agora, o foco da Pasta é no acompanhamento e vigilância acerca da doença, embora a Pasta ressalte que não há nenhum outro caso em investigação.
“Esse caso tem importância de saúde pública, ele é chamado de evento raro de saúde pública ou evento inusitado, é uma coisa muito rara. A população tem que ficar bem tranquila. Isso é algo muito raro que ocorreu, mas que é importante apenas que a gente monitore enquanto autoridade sanitária, mas que a população fique tranquila que não há não há risco de de outros casos nesse momento”
Nesta terça-feira (10), o Ministério da Saúde informou que o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Ceará (CIEVS/CE) acompanha o caso e enviou um alerta a nível nacional com foco no monitoramento. O objetivo é que casos ou óbitos por meningoencefalite de etiologia não esclarecida ou de causa inespecífica devem ser notificados à Pasta federal, além da busca ativa por possíveis ocorrências.
PREVENÇÃO E CONTROLE
A nota técnica da Secretaria da Saúde do Ceará destaca que, embora o perigo de infecção por Naegleria fowleri seja muito baixo, é importante estar ciente dos riscos e tomar medidas para diminuir os riscos, como:
Uso de Água Tratada para Banho:
- Certifique-se de que a água utilizada para banho seja devidamente tratada e clorada.
- Evite utilizar água de fontes desconhecidas ou não tratadas, especialmente em regiões sem saneamento básico adequado.
Cuidados ao Mergulhar em Lagos e Açudes:
- Use prendedores nasais ou evite atividades que envolvam a entrada de água pelo nariz, como saltos e mergulhos, em lagos, açudes ou outras águas doces mornas e não tratadas.
- Prefira ambientes de lazer com água tratada e monitorada regularmente para qualidade.
Lavagem Nasal Segura:
- Utilize somente água esterilizada, fervida ou soro fisiológico para lavagem nasal.
- Higienize bem os dispositivos de lavagem nasal, como lotas ou seringas, antes de cada uso.