‘Caverna no Ceará’: Gruta de Ubajara é digitalizada e será aberta à visitação digital

Com uso de tecnologias de realidade virtual, os pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) realizaram a digitalização do trajeto principal da gruta

Escrito por
Clarice Nascimento clarice.nascimento@svm.com.br
Foto da gruta de Ubajara por dentro iluminada
Legenda: A gruta de Ubajara, localizada na Serra de Ibiapaba, é um dos pontos turísticos mais famosos do Parque Nacional de Ubajara e uma das cavernas turísticas mais visitadas do país
Foto: Gentil Barreira/Divulgação

Que tal visitar a Gruta de Ubajara, na Serra da Ibiapaba, Ceará, sem sair de casa? Essa é a ideia do projeto DocumentaCE, realizado pelo Instituto de Arquitetura e Urbanismo e Design (IAUD), da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Com uso de tecnologias de realidade virtual, os pesquisadores realizaram a digitalização do trajeto principal da gruta, uma das cavernas turísticas mais visitadas do Brasil, e desenvolveram um passeio virtual para telas planas e imersão em 3D (com o uso de óculos específicos). 

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O coordenador da iniciativa, professor Esequiel Mesquita, do IAUD, explica que o objetivo é disponibilizar, de forma mais acessível, o acesso aos equipamentos culturais do Ceará para os cearenses e turistas do mundo afora. 

O lançamento do passeio virtual pela gruta está previsto para julho de 2025. O trajeto ficará disponível na plataforma do DocumentaCE, uma das frentes que integra o programa Cientista Chefe da Cultura, do Governo do Ceará. 

A gruta é o primeiro patrimônio natural a ser contemplado pelo projeto. A caverna é um dos pontos turísticos mais famosos do Parque Nacional de Ubajara.

Entre os motivos que levaram a escolha da gruta está o nível de restrição de acesso. Apesar de ter 1.120 metros de extensão já mapeados, apenas 450 metros estão abertos à visitação, com um desnível de 35 metros de profundidade.

“A caverna é escorregadia e tem áreas escuras. Tem momentos que você precisa abaixar para entrar e, de certo modo, nem todo visitante consegue conhecer a gruta em sua totalidade”, explica o professor.

Além disso, outro ponto relevante é a documentação do espaço. Com a digitalização, é possível entender mais sobre a formação da gruta e traçar as melhores estratégias para a preservação do patrimônio natural.

COMO É FEITA A DIGITALIZAÇÃO

Foto da gruta de Ubajara, no Parque Nacional de Ubajara
Legenda: O material levantado também renderá um banco de dados tridimensional que será útil para cientistas de diversas áreas
Foto: Divulgação

Para fazer o levantamento, os pesquisadores tiveram que fazer o percurso da gruta diversas vezes. “Dependendo da hora do dia, a iluminação mudava e nós tivemos que levar equipamentos com fontes de iluminação por conta da escuridão do ambiente”, diz.

Além disso, quando chovia, o local ficava úmido e dificultava o trabalho da equipe. “O auxílio dos guias e do pessoal do ICMBIO foi muito importante para conseguirmos concluir o mapeamento”, garante. 

A equipe utilizou equipamentos de última geração, como scanner a laser de alta resolução, drones e câmeras térmicas. No processo, o scanner lança cerca de 400.000 pontos por captura, feitas a cada dois metros. Ao todo, foram 115 cenas capturadas.

A partir desses pontos, é gerada uma nuvem tridimensional que permite reconstituir a volumetria de um espaço e os aspectos de suas superfícies. Ao juntar esses dados da nuvem com os dados de fotografias em 360º é possível recriar o espaço em uma versão virtual.

Nos computadores, notebooks, smartphones ou tablets, o trajeto por dentro da gruta é feito a partir de cliques com o mouse, de cliques na própria tela ou de movimentos realizados com os dispositivos.

As imagens em 360º vão mudando de acordo com essa movimentação, e o visitante vai traçando seu caminho, parando quando quiser para observar detalhes.

Já no passeio feito para imersão em 3D, com o uso de óculos de realidade virtual, é como se o visitante estivesse imerso dentro da gruta, cercado por imagens. Ele explora o trajeto a partir da movimentação do próprio corpo pelo espaço.

Além do tour virtual, o material levantado também renderá um banco de dados tridimensional, com informações de textura, volumetria e dimensões com precisão milimétrica. Esse repositório poderá ser uma ferramenta útil para profissionais das ciências ambientais, da geologia, da geografia e outras áreas.

QUEM COMPÕE O PROJETO

Foto da equipe dos pesquisadores da digitalização da gruta de Ubajara
Legenda: O projeto DocumentaCE é realizado pelo Instituto de Arquitetura e Urbanismo e Design (IAUD), da Universidade Federal do Ceará (UFC), e uma das frentes que integra o programa Cientista Chefe da Cultura, do Governo do Ceará
Foto: Divulgação

Sob a orientação de Mesquita, a equipe do projeto é formada pelos estudantes de pós-graduação Joana Guedes e Renan Paulo Nogueira, e dos professores Mylene Vieira, Diego Ricca, Ana Cecília Serpa, Laís Costa e Eugênio Moreira. 

Os pesquisadores tiveram apoio dos guias Nataly Pereira da Silva e Francisco Welio Gomes Evangelista, e dos técnicos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) Diego Rodrigues e Vinícius Leitão Lima. Além do ICMBio e da Cooperativa dos Guias do Parque de Ubajara, o projeto tem apoio da Secretaria do Turismo do Ceará (Setur). 

ESPAÇOS DO CEARÁ DIGITALIZADOS

A gruta de Ubajara é o 12º espaço a ganhar um tour virtual graças ao projeto DocumentaCE. Desde 2021, prédios históricos e equipamentos culturais de Fortaleza e outros municípios estão sendo digitalizados. 

Foto da fachada do Theatro José de Alencar, em Fortaleza
Legenda: A experiência do passeio virtual possibilita ter a visão de cima do palco do Theatro José de Alencar
Foto: Reprodução/DocumentaCE

A lista inclui espaços como Theatro José de Alencar, Cineteatro São Luiz, Biblioteca Pública Estadual do Ceará, Igreja Nossa Senhora dos Prazeres (Caucaia) e Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário (Aracati). Todos os passeios virtuais desses espaços estão disponíveis na plataforma DocumentaCE.

O professor Esequiel Mesquita detalha que os projetos foram escolhidos a partir do nível de relevância para o Estado e foram alinhados com a Secretaria de Cultura. “Nós fomos tentando mesclar o que era de interesse de visitação pública, mas que também era interessante para a gestão de manutenção”, afirma. 

CONHEÇA MAIS DA GRUTA DE UBAJARA

Foto de dentro da gruta de Ubajara
Legenda: O interior da gruta é iluminado por refletores alimentados por energia elétrica
Foto: Divulgação

A gruta de Ubajara fica localizada dentro do Parque Nacional de Ubajara, na Serra da Ibiapaba, distante aproximadamente 326 km de Fortaleza. O Parque é uma Unidade de Conservação Federal de Proteção Integral situada no estado do Ceará. Ele se estende pelos municípios de Ubajara, Tianguá e Frecheirinha.

Para adentrar no Parque, não há cobrança de ingresso, mas é necessário contratar guias nos passeios pelas trilhas e visita à Gruta de Ubajara. Os valores dos condutores, informados no site do ICMBio, variam de R$ 10 a R$ 50, a depender do tipo de trilha.

A Gruta de Ubajara possui uma extensão mapeada de 1.120 metros, dos quais 450 estão abertos à visitação e apresentam um desnível de 35 metros de profundidade. O interior é iluminado por refletores alimentados por energia elétrica.

Além do teleférico, é possível acessar a gruta pela trilha Ubajara Araticum, que começa na trilha da Samambaia, com aproximadamente sete quilômetros e considerada de nível pesado.

Durante o percurso, os visitantes podem apreciar a transição entre a mata úmida e a caatinga, além de aproveitar diversos atrativos do Parque, como o Mirante da Gameleira, o Arvorismo, o Jardim das Samambaias, a Cachoeira do Cafundó e o Rio das Minas.

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