Morte de criança de 1 ano em Caucaia pode ser o 2º caso de meningoencefalite amebiana no Brasil
Infecção, que é super-rara, só havia sido registrada em solo brasileiro em 1975, em São Paulo
A investigação sobre o óbito de uma criança de 1 ano e 7 meses por suspeita de meningoencefalite amebiana pela ameba Naegleria fowleri em Caucaia, no Ceará, pode resultar na identificação da segunda morte pela mesma causa no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, o único caso desse tipo foi registrado, até agora, em 1975, no estado de São Paulo.
Em nota, divulgada ainda na segunda-feira (9), a pasta apontou que tem acompanhado as investigações conduzidas pela Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa). Até o momento, a principal hipótese aponta que a criança pode ter sido contaminada durante o banho em casa ou em uma lavagem de rosto.
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"No Brasil, o único relato na literatura científica sobre caso de meningoencefalite amebiana em humano causada por Naegleria sp. ocorreu em 1975, no estado de São Paulo", confirmou o comunicado do Ministério. Segundo a nota, ela é ameba de vida livre, um organismo unicelular que pode ser encontrado em água doce quente, como lagoas, açudes, rios e fontes termais.
Sintomas da infecção
O quadro da menina de Caucaia evoluiu rapidamente a partir do dia 12 de setembro deste ano, após a dor de garganta surgir como um primeiro sintoma. Em seguida, febre alta, vômitos constantes e danos neurológicos, como convulsões e nuca enrijecida, começaram a se manifestar na criança.
Em entrevista à Rádio Verdinha FM, o secretário Executivo de Vigilância em Saúde da Sesa, Antonio Silva Lima Neto, explicou que o caso é muito raro e a contaminação se dá por meio das narinas. Na ocasião, o titular ainda citou que não havia nenhum caso confirmado no Brasil até então, informação retificada agora pelo Ministério da Saúde.
"Isso provavelmente ocorre porque não há suspeição. É muito difícil suspeitar porque é um evento raríssimo, e os casos descritos até hoje são casos que quase sempre levam à morte", explicou ele na entrevista.
Em meio aos sintomas, a criança foi hospitalizada e, logo após, transferida para o Hospital Infantil Albert Sabin, em Fortaleza, onde acabou falecendo dias depois. Segundo estudos, a meningoencefalite amebiana primária tem uma taxa de letalidade de 97%.
A infecção, no entanto, só foi constatada após o óbito da paciente. Além disso, testes no reservatório de água do local onde a criança morava apontaram a presença da ameba no recipiente, com resultados atestados pelo Instituto Adolfo Lutz, instituição de referência nacional em saúde pública.
"É muito provável que o que tenha acontecido é que o aquecimento natural que ocorre em uma cisterna ou num reservatório da água, como uma caixa d'água, favoreceu a multiplicação, a reprodução do micro-organismo, e, infelizmente, essa fatalidade pode ser que tenha concorrido dessa forma. Mas é um caso ainda em investigação", apontou o secretário em entrevista à Rádio Verdinha FM.
Conforme o Ministério da Saúde, a ameba migra, a partir das narinas, pelo nervo olfatório até o cérebro, onde causa destruição do tecido cerebral e inflamação, resultando na meningoencefalite amebiana primária (PAM). A pasta ainda reforça que a Naegleria fowleri não é transmitida pela ingestão de água contaminada, assim como também não é transmitida de pessoa para pessoa.
Água parada e quente
Segundo a farmacêutica parasitologista Ticiana Mont Alverne, que concedeu entrevista ao Diário do Nordeste, a Naegleria fowleri é encontrada em águas quentes e paradas como lagos, piscinas e rios.
O protozoário também pode estar presente em piscinas não tratadas, já que é sensível à cloração. Casos de meningoencefalite amebiana primária, segundo a especialista, acometem crianças, jovens e adultos saudáveis.
Por conta da investigação, a Sesa e a Prefeitura de Caucaia realizaram uma série de ações visando readequar o sistema de água e evitar a possibilidade de novos casos. Na comunidade onde a menina morava, a filtragem, origem da água e mecanismo de cloração foi revista. Além disso, também foram conduzidos testes em lagos próximos e em um açude.