Em seis meses, multas por desmatamento em Guaramiranga atingem R$ 60 milhões

O valor foi confirmado pelo superintendente do Ibama no Ceará, Deodato Ramalho

Escrito por
Bruna Damasceno bruna.damasceno@svm.com.br
(Atualizado às 08:51, em 28 de Abril de 2025)
Imagem mostra rua de Guaramiranga com névoa ao fundo, focando em casas coloridas de uma rua deseta
Legenda: A Área de Proteção Ambiental (APA) do Maciço de Baturité tem mais de 32 mil hectares
Foto: Gentil Barreira | Arquivo DN

Em pouco mais de seis meses, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) registrou cerca de 130 procedimentos administrativos por desmatamento na Serra de Guaramiranga, no Maciço de Baturité, Ceará.

As irregularidades incluem autuações, embargos e notificações, totalizando aproximadamente R$ 60 milhões em multas. A informação é do superintendente do Ibama no Ceará, Deodato Ramalho.

Segundo ele, esses casos foram registrados entre setembro de 2024 e o início de abril deste ano. Os processos estão em fase inicial, compreendendo a abertura de prazos para apresentação de defesas e a interposição de recursos dos envolvidos.

“Estamos enfrentando também algumas situações de ações judiciais, nas quais algumas das partes interessadas entraram com mandado de segurança”, disse, durante o lançamento do Movimento SOS Guaramiranga, na noite de quinta-feira (24), no hotel Gran Marquise, em Fortaleza. 

Deodato é um homem branco e grisalho, que veste fardamento do Ibama composto por blusa de gola polo verde e calça marrom, além de usar boné marrom e óculos de grau. Ele está ao microfone durante o evento, que tem decoração inspirada na serra, com folhas e muito verde
Legenda: Deodato Ramalho, superintendente do Ibama no Ceará, falou da importância de preservar a Serra de Guaramiranga
Foto: LC Moreira / Divulgação SOS Guaramiranga

“Felizmente, temos sentido que os juízes têm sido mais cuidadosos no sentido de não conceder imediatamente medidas liminares, alinhados ao princípio da prevenção que rege o direito ambiental”, destacou. 

Nos últimos meses, gerou polêmica em Guaramiranga a criação de uma Autarquia do Meio Ambiente, por meio de um projeto de lei enviado pela Prefeitura aprovado na Câmara Municipal.

Uma das competências do órgão é “administrar e executar o licenciamento ambiental de obras e atividades consideradas potencial ou efetivamente poluidoras e degradadoras do meio ambiente municipal, (...) executando atividades de fiscalização e controle ambiental”.

Com isso, para solicitar autorizações e licenciamentos em Guaramiranga, pessoas físicas ou jurídicas devem acionar os órgãos estaduais: Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) e Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Ceará (Sema).

A criação de uma autarquia, acredita a população, pode flexibilizar e acelerar a concessão de licenças e permissões para construções na serra.

Quais irregularidades foram identificadas 

As principais irregularidades são estratégias para burlar a regulamentação ambiental, como a construção de empreendimentos sem o licenciamento ou com aprovação para uma finalidade distinta daquela implementada.

Dentre elas, a edificação de um condomínio residencial em um terreno cuja aprovação era para a construção de um prédio destinado a pousada.

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Ramalho exemplifica que, recentemente, em uma área previamente embargada e autuada, houve o descumprimento da ordem judicial, provocando o aumento da área desmatada.

“Em virtude do descumprimento do embargo, a multa inicial para esse caso foi de R$ 6 milhões. No entanto, por se tratar de uma unidade de conservação, o valor é dobrado, elevando-se para R$ 12 milhões de reais”, detalhou.

No período, foram conduzidas 18 fiscalizações em Guaramiranga. Atualmente, o Ibama Ceará desenvolve um plano de ação que considera a proximidade geográfica da região e o número de fiscais disponíveis para sua implementação.

Segundo Ramalho, o objetivo é manter visitas periódicas para monitorar a efetivação das medidas estabelecidas e prevenir novas infrações. 

Impactos do desmatamento na região

Um homem branco e grisalho, que veste camisa branca e calça bege e fala ao microfone durante o evento
Legenda: O biólogo Fábio Nunes explicou sobre o desequilíbrio biômico provocado pelo aumento da exploração econômica na região
Foto: LC Moreira / Divulgação SOS Guaramiranga

Durante o evento, o biólogo Fábio Nunes, mestre em Ecologia e Recursos Naturais e coordenador do projeto Periquito Cara-Suja da ONG Aquasis, falou sobre o desequilíbrio biômico provocado pelo aumento da exploração econômica na região. 

Segundo o especialista, esse crescimento tem resultado no surgimento de espécies invasoras, como uma cobra cascavel, e na redução populacional de aves cruciais para a manutenção da floresta, devido ao desmatamento. 

Por esses motivos, frisou, é fundamental reforçar a proteção da Área de Proteção Ambiental (APA) do Maciço de Baturité, cuja extensão abrange mais de 32 mil hectares.

O biólogo e outras autoridades ambientais prestigiaram o evento de lançamento do Movimento SOS Guaramiranga, na noite desta quinta (24). A iniciativa congrega importantes empresários cearenses com o objetivo de promover ações de preservação.

A diretoria da entidade é composta por Antônio José Mello, Assis Machado, César Montenegro, José Carlos Pontes, Ricardo Wagner Oliveira e Pio Rodrigues Neto, enquanto o Conselho Consultivo integra Ivan Bezerra, Lúcio Alcântara e Roberto Macedo.

Na ocasião, além do empresariado cearense, estiveram presentes o arquiteto Fausto Nilo e o ex-prefeito Roberto Cláudio.

SOS Guaramiranga

Na imagem, os oito homens que compõem a diretoria do SOS Guaramiranga aparcem ao lado um do outro. São todos homens brancos e grisalhos, que estão no palco de um evento.
Legenda: César Montenegro, Antônio José Mello, Assis Machado, José Carlos Pontes, Pio Rodrigues, Ivan Bezerra, Lúcio Alcântara e Roberto Macedo
Foto: LC Moreira / Divulgação SOS Guaramiranga

O diretor do SOS Guaramiranga, Pio Neto, destaca que a iniciativa nasceu da preocupação com o crescimento desordenado da serra.

“Os governos têm por norma e dever constitucional incentivar, por exemplo, a industrialização do Ceará. O governo concede isenção fiscal, doa terrenos e, enfim, apoia integralmente essa atividade. Em contrapartida, existem áreas que demandam proteção especial, como Jericoacoara e Guaramiranga, que representam porções sensíveis e preciosas do território cearense. Nesses locais, portanto, as questões ambientais possuem relevância singular”, observou.

“Nesse sentido, defendemos essa perspectiva de proteção. Nossa atuação não se restringe a este momento específico; o movimento possui caráter atemporal e é pautado por profundo conhecimento técnico”, completou. 

Segundo Pio, o grupo promoverá um encontro com autoridades locais e moradores de Guaramiranga no dia 6 de junho, com o intuito de debater estratégias. Entre as ações previstas para o SOS Guaramiranga, estão práticas de educação ambiental e a realização de eventos e palestras.

O superitendente da Semace, João Gabriel Rocha, destacou a importância de fortalecer o diálogo com a sociedade civil e as demais instituições e órgãos de controle ambiental. 

“Na Semace, temos acompanhado de perto essa situação, reconhecendo o problema e suas dificuldades. Como órgão responsável pelo controle ambiental e pela emissão de licenças, realizamos um monitoramento constante”, disse. 

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