Após atraso de um ano, quarentenário de tartarugas do Ceará deve ser entregue até julho
Estrutura deve evitar mortes de animais em risco de extinção e contará com apoio de veterinário, oceanógrafo, agentes ambientais e voluntários

Cinco espécies de tartarugas marinhas mergulham e vivem no litoral cearense, que deve ter o primeiro equipamento para atendimento emergenciais destes animais até julho deste ano, conforme a Secretaria do Meio Ambiente do Estado (Sema). Centro de Atendimento Emergencial das Tartarugas Marinhas do Ceará chega com um ano de atraso devido aos prejuízos da pandemia da Covid-19.
Os esforços para evitar a extinção desses animais ganha maior evidência no Dia Mundial da Tartaruga, celebrado nesta segunda-feira (23). No Estado, são abrigadas as espécies tartaruga verde, tartaruga de pente, tartaruga oliva, tartaruga cabeçuda e tartaruga de couro.
O quarentenário deve ter estrutura para atendimento emergencial, sala de necrópsia e uma área administrativa. Estarão disponíveis um médico veterinário e um oceanógrafo, além de voluntários.
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Fazem parte da iniciativa equipe do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) e membros do Instituto Verdeluz. O equipamento vai funcionar no Centro de Estudos Ambientais Costeiros (Ceac) do Labomar, na Universidade Federal do Ceará (UFC), no Eusébio. Essa estrutura já existe e recebe adpatação para abrigar o quarentenário.
Também integram o grupo a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), o Batalhão de Polícia do Meio Ambiente (BPMA) e o Corpo de Bombeiros.
Esse conjunto deve atender animais em uma situação vulnerável. As tartarugas foram seriamente impactadas pelas manchas de petróleo cru que chegaram ao Ceará em setembro de 2019. Essa tragédia ambiental, inclusive, despertou a criação do quarentenário, como avalia Artur Bruno, titular da Sema.
É a extensão do litoral cearense somando os 20 municípios com área de praia
“O que motivou a decisão de ter um quarentenário foi justamente as tartarugas manchadas, a gente percebeu que o Poder Público tinha que agir. O problema já existia, as manchas de óleo trouxeram uma gravidade maior e aí tomamos a decisão”, reflete.
Isso porque os animais contaminados pelo poluente precisavam ser encaminhados o Projeto Cetáceos da Costa Branca (PCCB) da Universidade do Estadual do Rio Grande do Norte (UERN).
Rodrigo Castro, médico veterinário e bolsista do Programa Cientista Chefe do Meio Ambiente, explica que o transporte é liberado entre 24h e 72h.
"Precisamos de uma estrutura para manter o animal estável e com atendimento de emergência inicial. Assim, poderemos atender com mais rapidez os encalhes vivos uma vez que eles já terão de antemão um local específico para serem encaminhados”, destaca.

A ideia em um prazo máximo, pode ser antes, até o final de julho já estar funcionando. Estamos concluindo os acordos de cooperação técnicas com as entidades e vamos fazer um treinamento envolvendo os municípios
Isso acontece um ano depois do prazo inicial divulgado, quando a entrega seria feita no primeiro semestre de 2021. “Nós tivemos dois anos de pandemia, que atrasou muito porque nós tivemos que contratar construtora, fazer licitação, para fazer tudo isso”, explica Artur Bruno.
Sinal de prejuízos ao ambiente marinho
As ameaças à sobrevivência desses animais acontece quando a degradação do ambiente marinho se estabelece, como explica Alice Frota, bióloga e doutoranda em Ciências Marinhas Tropicais.
“As tartarugas são espécies chamadas ‘guarda-chuvas’, pois uma vez que protegemos os espaços que elas habitam, se alimentam e desovam, protegeremos toda fauna e flora do local em conjunto”, destaca a também voluntária no Instituto Verdeluz.
Aqui na Praia do Futuro e Sabiaguaba temos importantes áreas de desova da Tartaruga-de-pente, a espécie com maior risco de extinção. Por isso, precisamos criar áreas protegidas, como o Refúgio da Vida Silvestre das Tartarugas Marinhas na Praia do Futuro
Ela defende a criação da Unidade de Conservação para garantir a preservação daquele espaço. "Irá proteger a área de desova das tartarugas de pente na Praia do Futuro e, por consequência, toda a vida natural que ainda existe nessa praia", frisa.
Resgates de tartarugas no Ceará
O secretário do meio ambiente explica que o Observatório Costeiro e Marinho do Ceará tem relação com os 20 municípios de praia do Estado. Isso é estratégico para o atendimento dos animais encalhados.
“Quando uma tartaruga encalhar, nós vamos vamos de forma mais célere possível a polícia ambiental ou o corpo de bombeiros, ou quem estiver mais próximo, vamos contactar o Verdeluz, que vai fazer o trabalho técnico”, explica sobre os resgates.
As tartarugas com patologias mais simples devem ficar no quarentenário até a recuperação e soltura no mar. Já aquelas em situação mais delicada serão estabilizadas até terem condições de transferência para outros centros de recuperação.

Será possível fazer análises da saúde dos animais nos laboratórios e procedimentos de estabilização. No equipamento, serão atendidos animais sem contaminação por óleo.
“Com relação aos animais oleados eles sempre devem ser encaminhados para um centro de despetrolização. Aqui no Ceará, a Aquasis possui estrutura especial para lidar com esse tipo de descontaminação”, contextualiza Rodrigo Castro.
Artur Bruno frisa que as intervenções no local estão em fase final. "Nós teremos uma estufa com tanques onde essas essas tartarugas irão receber o tratamento. O próprio Labomar fez uma reforma para uma área de ambulatório, sala de necropsia e uma sala administrativa”.