Número de tartarugas mortas em 2020 é o maior dos últimos três anos no Ceará, afirma instituto

De acordo com a organização Verdeluz, que monitora os animais na Capital, 29 animais morreram neste ano. Especialista reforça a presença das manchas de óleo no litoral nordeste como fator preocupante

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Tartaruga
Legenda: Segundo Instituto, registros aumentaram após o aparecimento das manchas de óleo no Ceará.
Foto: José Leomar

O número de tartarugas marinhas que chegaram mortas no litoral do Ceará, até julho de 2020, superou o registrado nos três anos anteriores. Conforme dados do Instituto Verdeluz, Organização da Sociedade Civil (OSC) que monitora os animais no Estado, já são 29 animais encontrados mortos neste ano, contra 21 óbitos de janeiro a agosto de 2019, por exemplo.

Nos anos anteriores, 2017 e 2018, foram 8 e 18 tartaguras mortas, respectivamente. Casos continuam surgindo em agosto, mas os dados parciais do mês não foram divulgados pela organização. Na manhã dessa quinta-feira (20), uma tartaruga foi encontrada morta por banhistas na Praia do Mucuripe, em Fortaleza. Uma nadadeira do animal estava presa por uma corda. 

Tartarugas encontradas

  • 2017    10 encalhes: 2 vivas, 8 mortas
  • 2018    24: 6 vivas, 18 mortas
  • 2019    23: 2 vivas, 21 mortas
  • 2020    32: 3 vivas, 29 mortas

De acordo com a bióloga e coordenadora do Instituto, Alice Feitosa, mestranda em Ciências Marinhas Tropicais pela Universidade Federal do Ceará (UFC), a situação ficou mais intensa após o surgimento das manchas de petróleo no litoral nordestino, no ano passado. Segundo a profissional entre o aparecimento do material oleoso até este ano a quantidade de encalhes mais que dobrou. 

“Entre 2015 e o começo de 2019, nós registramos por volta de 100 ocorrências no litoral. Mas, a partir de setembro do ano passado, os números foram crescendo progressivamente por mês. Estamos perto de chegar aos 240 encalhes este ano”, ressalta Alice, que pesquisa o conteúdo estomacal das tartarugas.

A presença do óleo foi percebida pela bióloga durante a necropsia nos bichos encalhados na orla. O procedimento investiga os motivos que levaram à morte do animal. “Nós recebemos cada vez mais tartarugas com óleo na boca e no intestino. Essa substância afeta as mucosas e podem deixar o animal desnutrido porque afeta o apetite. Elas não conseguem comer. As ocorrências aumentaram muito. Em um dos casos mais recentes, achamos também petróleo no pulmão do animal”, confessa. 

Além do óleo, a profissional atribui a poluição dos mares ao aumento dos casos. O descarte irregular de materiais para pesca, além da presença de lixo na costa, estariam entre os motivos. “Nós encontramos muito material de pesca durante os exames. Chamamos isso de pesca fantasma, quando o pescador joga material perto de corais. As tartarugas se alimentam por lá e a linha da pesca enrosca e sufoca o animal. Achamos também muito lixo, principalmente no intestino”, explica. 

Sobre o aumento já apontado antes da chegada do óleo ao Ceará, a bióloga vê como uma resposta ao alcance das ações da organização. “Não podemos dizer se foi um aumento significativo ou se somente conseguimos registrar mais encalhes. Como o nosso projeto ficou mais conhecido ao longo do tempo, conseguimos notificar mais casos com a ajuda de voluntários, principalmente na Região Metropolitana”, aponta. 

Monitoramento

A situação, contudo, não é exclusiva do Ceará, de acordo com Alice. Como o Instituto Verdeluz tem parceria com outros órgãos nordestinos de observação de animais marinhos, a equipe recebe informações sobre casos similares de fora do Estado. “Temos registros parecidos no Rio Grande do Norte, no Vale da Paraíba. Mas é algo mundial, não é somente aqui no nordeste. os casos vem aumentando em escala mundial com a poluição”, confessa. 

O Instituto é o único órgão cearense com foco em análises de tartarugas marinhas, de acordo com a pesquisadora. Apesar da licença ambiental de necropsia para atuação do grupo compreender apenas o litoral de Fortaleza, a equipe recebe animais de todo Ceará através de órgãos ambientais como o Ibama e a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace). 

Alice informa que, como não há um levantamento de dados a nível estadual, as informações do Instituto Verdeluz são as mais completas sobre o assunto. “Mesmo que a gente se debruce mais sobre o litoral de Fortaleza, nossos dados são os mais completos, tanto para dentro como para fora da Capital, por esse encaminhamento de animais de outras regiões para a gente. Precisamos fazer essa notificação para os órgãos estaduais e federais, então, temos os registros”, garante.

A reportagem entrou em contato com a Semace sobre notificações de encalhe em todo o Ceará. Por e-mail, a Pasta respondeu que não é responsável pela questão. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) também foi questionado sobre o assunto mas, até o fechamento desse material, não respondeu a solicitação.

Resgate

Mesmo que o Instituto Verdeluz volte a atuação para a análise de encalhados, a equipe também direciona resgates das tartarugas que chegam até à costa vivos. Desde 2016, calcula Alice, a OSC conseguiu recolher 37 animais com vida. “Destes, 6 vieram a óbito porque não conseguimos transporte ou local para encaminhá-las a tempo”, lamenta a pesquisadora.

No Ceará, não existem polos de resgate para tartarugas marinhas. Os animais recebidos pelo Instituto são transportados, quando possível, para o Projeto Cetáceos da Costa Branca, ligado à Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN).

“Até 2017 nós enviamos para a unidade do Centros de Triagem de Animais Silvestres do Ceará, mas eles pararam de receber novos animais. Alguns oleados que são encontrados vivos são encaminhados para a Aquasis, outro projeto. Mas eles recebem mais cetáceos”. A Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), é uma das unidades que recebe animais silvestres marinhos no Ceará, com ênfase no resgate de mamíferos marinhos.

Saiba como ajudar

O Instituto Verdeluz também recebe informações sobre encalhe de animais. Mas, como geralmente os bichos chegam à costa em uma situação estressante, é preciso tomar alguns cuidados antes de comunicar o achado aos órgãos competentes.

  • Caso o animal esteja vivo ou o achado seja de um ninho de tartarugas, é necessário deixar um espaço livre entre o bicho e o mar. 
  • Sempre fazer registro fotográfico do local de encalhe. Assim, fica mais fácil para a equipe identificar a espécie e a localização do animal. Outras informações, como indicar um ponto de referência nas proximidades do achado, também são úteis. 
  • Quando o encalhe for de tartarugas vivas, o ideal é que o animal seja mantido na areia. Nunca mover o bichinho com o ventre para cima. 
  • Como os animais podem chegar em situação estressante, o mais indicado manter uma certa distância para evitar ataques. Por serem animais silvestres, as tartarugas podem transmitir algumas doenças, como a salmonela. 

Após a identificação, o banhista deve entrar em contato com o Grupo de Estudos e Articulações sobre Tartarugas Marinhas (GTAR), com o  Batalhão de Policiamento Ambiental (BPMA) na central 190, ou com o Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE), no número 193. Aguardar no local de encalhe pela equipe também ajuda. os telefones para contato do GTAR são (85) 99914 4318 ou (85) 98820 0642. 

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