‘Um tempo que não deixou saudade’

Segundo Severino Neto, nada se compara há inflação das décadas de 80 e 90, mas é preciso controlar o índice atual

Escrito por Redação ,

Sobreviventes. É assim que o empresário, Severino Ramalho Neto, 55 anos, diretor presidente dos Mercadinhos São Luiz, que também preside a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Fortaleza, define a sua empresa e todas aquelas do mesmo setor que conseguiram resistir ao período inflacionário vivido no Brasil entre os anos 80 até a primeira metade da década de 90.

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Inaugurado na década de 70, os Mercadinhos São Luiz possuem 43 anos de mercado e contam atualmente com 15 lojas. E, curiosamente, foi justamente a partir da década de 80 que o São Luiz se transformou na maior empresa supermercadista natural do Estado do Ceará.

“Pouquíssimas empresas sobreviveram àquela época e estão presentes no mercado hoje. Grandes redes do passado se desestabilizaram com aquela inflação surreal. Era uma corrida contra o tempo. Foram tempos difíceis”, lembra.

Conforme o empresário, a inflação exorbitante, seguida do congelamento de preços e da falta de produtos nas prateleiras dos supermercados foram grandes desafios. “Os donos de supermercados viviam um dilema. Não havia o que comprar para repor o estoque e os produtos que havia eram vendidos com preço elevado, deixando os supermercadistas sem margem de venda para comercializar. Esse processo significou um pedalar constante para todo o setor”.

Outra dificuldade, segundo ele, era o atraso tecnológico da época face à diversidade imposta pela carestia. “Tudo era manual, máquinas, etiquetagem. Imagine o que era etiquetar todos os dias centenas de produtos um a um?”.

Depois do congelamento, ele recorda que veio outra fase ainda mais difícil, que foi enfrentar a fúria dos próprios clientes. “Foi uma loucura jogar a população – os fiscais do Sarney, contra as lojas e os gerentes. Até bem pouco tempo havia gerente respondendo a processo daquela época. Foi um tempo que não deixou saudade. Uma década perdida em que o Brasil andou para trás”, resume.

Sem comparação

Sobre a inflação atual, Severino Neto, garante que não há comparação. “Temos uma inflação que não significa nada em relação ao que era. Mas não devemos esquecer que qualquer inflação não começa do zero. Então temos de cuidar para que ela não seja acelerada. Porque ninguém ganha com a inflação”, frisa.

Prévia

Dados mais recentes do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), a prévia da inflação oficial, revelam que em agosto a inflação já começa a dar sinais de que está perdendo força. Em Fortaleza, o Índice registrado no mês foi de 0,14%, desacelerando em relação aos 0,36% registrados em julho. No acumulado do ano, o IPCA-15 atingiu 6,78% na Capital cearense, enquanto no acumulado dos últimos 12 meses o indicador chegou a 9,07%.

No Brasil, o IPCA-15 teve alta de 0,43% em agosto, um aumento de 0,16 ponto percentual em relação ao mês anterior (0,59%). Apesar da alta, a inflação apontada passa longe do nível estratosférico de mais de 200% ao mês que o índice atingiu no País em 1993, no começo do governo Itamar Franco.

Para o empresário Severino Neto o que falta é encontrar a medida adequada para por fim à inflação, pois a forma de combate utilizada hoje pelo governo não é coerente. “Hoje, se provoca uma recessão para combater a inflação. Querem que ela caia a qualquer preço, mesmo inibindo o consumo”, diz.

Doença

Ele compara a inflação a uma doença. “A inflação é uma doença que pode ser controlada. E acreditamos que ela é reversível. Mas o remédio que está sendo aplicado está matando o doente e não a doença”, explica. (AC)

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