Regiane Alves estrela peça sobre o direito à autonomia de pessoas autistas em Fortaleza
Com reflexões sobre laços familiares e a finitude da vida, peça "Nosso Irmão" tem sessões de sexta (8) a domingo (10), no Teatro Brasil Tropical
Depois de uma estreia de sucesso na capital paulista, o espetáculo “Nosso Irmão”, estrelado por Regiane Alves, Marina Elias e Bruno Ferian, chega a Fortaleza para uma curta temporada neste fim de semana, com apresentações de sexta-feira (08) a domingo (10).
A comédia dramática marca a retomada do CENA (Circuito Cearense de Teatro) e discute questões como o luto, a complexidade das relações familiares e o direito à autonomia de pessoas com deficiência.
Dirigido por Dan Rosseto, o espetáculo tem texto do espanhol Alejandro Melero e conta a história de Teresa, Maria e Jacinto, três irmãos que se reencontram após a morte da mãe e precisam, além de executar o testamento, reaprender a conviver.
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Na trama, Jacinto (Bruno Ferian) é autista e necessita de suporte familiar. Após a perda da mãe, Teresa (Regiane Alves) e Maria (Marina Elias) se veem responsáveis pelo irmão e começam a elaborar alternativas para evitar a responsabilidade de prover afeto e cuidados para ele, à medida em que descobrem segredos de família que irão mudar as perspectivas do trio.
Em entrevista ao Verso, a atriz Regiane Alves comentou o retorno aos palcos de teatro após um período totalmente dedicado a dar vida à polêmica personagem Clara em Vai na Fé (2023).
“Já estou nesse projeto há três anos, mas aí veio pandemia, Dança dos Famosos, Vai na Fé… Mas o Bruno (Ferian, também produtor da peça) disse ‘vou te esperar, vou te esperar’. E tudo acontece na hora certa”, brinca.
Após a rotina intensa de gravações da novela global, Regiane começou a se dedicar aos ensaios de “Nosso Irmão” entre setembro e outubro do ano passado. A peça estreou em novembro, no Teatro Tucarena, onde esteve em cartaz até o domingo passado (03). Fortaleza é a primeira cidade da turnê nacional.
A atriz já se apresentou na Capital com peças como “Amor Perverso” e “Entre Nós” e destaca que o público cearense é “sempre receptivo e muito caloroso”. “Fortaleza é uma das minhas cidades favoritas do Nordeste para passear e para curtir a gastronomia. Depois de uma pandemia, é muito gratificante poder voltar”, afirma.
Dóris, 20 anos depois
Conhecida por interpretar personagens femininas complexas e polêmicas, como a inesquecível Dóris, de Mulheres Apaixonadas (2003), Regiane Alves conta que, ao se deparar com a personagem Teresa, comentou com uma amiga que interpretá-la seria como ver “a Dóris, 20 anos depois”.
“Jacinto chama ela de ‘irmã má’, porque ela é mais objetiva, quer resolver a casa, tomar uma decisão, internar ele. Aos olhos de alguns, ela é uma pessoa má, de fato. Para outros, ela tem razão”, explica. “Brinco que é uma versão mais velha da Dóris, mas é uma outra personagem, num outro contexto. Às vezes, o público dá muita risada de nervoso dela, porque ela fala muitos absurdos”.
A postura impositiva tem razão de ser. Teresa é a mais velha dos irmãos e a mãe de cinco filhos que a abandonaram. Por trás da racionalidade “extrema”, pouco a pouco, muitas vulnerabilidades são descortinadas ao longo do espetáculo.
Para Regiane, os três irmãos têm elementos que farão as pessoas se identificarem com os personagens. “As pessoas dão muita gargalhada e depois se emocionam muito”, promete.
É uma peça para pessoas que têm muitas certezas na vida e que podem descobrir que nem tudo é como parece ser. Espero que as pessoas estejam disponíveis e de coração aberto para poder olhar o próximo com um outro olhar.
A atriz destaca que o personagem Jacinto, eixo central da peça, faz um importante lembrete às irmãs – e ao público. “Ele vem para que nunca esqueçamos que essas pessoas com deficiência têm opinião própria e capacidade de poder tomar certas atitudes”, ressalta.
Outro aspecto trabalhado no texto é a finitude da vida. Ao lidar com uma situação das mais difíceis – a perda da matriarca –, os filhos são obrigados a refletir sobre questões mais profundas e a olhar para dentro.
“A peça retrata isso: o que realmente importa? A herança, o dinheiro ou as relações e o respeito?”, questiona. “Ninguém está preparado para o final da vida. É uma coisa que ninguém presta atenção, e a peça fala um pouco dessa finitude e das decisões que você precisa tomar no fim da vida”, conclui.
Serviço
Espetáculo "Nosso Irmão"
Quando: 8, 9 e 10 de março (sexta e sábado às 20h, domingo às 19h)
Onde: Teatro Brasil Tropical (Av. da Abolição, 2323 - Meireles)
Valores: De R$ 25 a R$ 80 | Vendas no Sympla
Mais informações: @nossoirmaoapeca