QUE NEM TU: Roniele Suira fala sobre luta da comunidade Boca da Barra e relação com a natureza

Pescador falou sobre resistência da comunidade tradicional da Sabiaguaba e tentativa de apagamento

Escrito por Redação ,

O pescador Roniele Suira, liderança da comunidade tradicional da Boca da Barra, que vive na Praia da Sabiaguaba, em Fortaleza, luta para manter a identidade do povo em diversas esferas. 

Entrevistado da semana do “Que Nem Tu”, podcast do Diário do Nordeste, Roniele falou sobre os desafios enfrentados pela comunidade em meio à poluição e as constantes tentativas de expulsão. O grupo de cerca de 70 pessoas vive em áreas de proteção ambiental permanentes no Parque Estadual do Cocó e No Parque Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba.

Segundo Suira, os territórios da comunidade acabaram reduzidos e eles acabaram “espremidos em um pequeno espaço”. O pescador se tornou voz ativa na luta ao perceber os impactos do apagamento histórico, como o fim de tradições coletivas e o desconhecimento da existência da comunidade por pessoas que passam pelo local. 

Ele ressalta que, apesar da tentativa de invisibilização, a comunidade deixou marcas no território e também é transformada por ele. “É um povo que sempre teve a praia, sempre se viu diante de um território, se fez parte de um território, com sua diversidade de paisagens, com lagoas, com dunas, com mangue, com rio, com mar, com a segurança alimentar, com ancestralidade, com sentimento de pertencimento. Essas pessoas sendo jogadas num buraco, como seriam? Porque nossa percepção de casa é território”, explica.

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Devido à forte conexão com a natureza, a comunidade da Boca da Barra acaba sentindo mais os danos ambientais, segundo Roniele. O pescador aponta que a quantidade de lixo encontrada durante os mergulhos no mar e nas idas ao mangue é "assustadora". Há temor de que a saúde dos moradores seja diretamente impactada, já que se alimentam do pescado da região.

Roniele lembra que, durante um dos projetos realizados para coleta de resíduos na Praia da Sabiaguaba, foram recolhidos setenta sacos de 200 de lixo em apenas uma hora. O pescador aponta que a preocupação com o meio ambiente é natural para seu povo, já que eles se veem como parte da natureza

Quando eu crio essa separação entre homem e natureza, eu me sinto superior a ela. E nós povos tradicionais não, a gente tem uma relação íntima. Relação de se aceitar e se acolher. E a natureza não te cobra, não te pede, ela te aceita do jeito que você é 
Roniele Suíra
Liderança da comunidade da Boca da Barra

 

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