Para além de 'Parasita', de Bong Joon-ho, cultura coreana já é realidade no cotidiano de cearenses
O cinema e o Kpop tem influenciado o crescimento pela procura dos aspectos culturais da Coreia do Sul, levando os fãs a conhecerem mais sobre a cultura, a culinária e até o idioma do país
O mundo direcionou o olhar para a Coreia do Sul depois que “Parasita”, de Bong Joon-ho, levou a estatueta de 'Melhor Filme' na premiação mais tradicional da indústria do cinema, o Oscar. A cultura coreana já vem influenciando os brasileiros há algum tempo em diversos aspectos, seja no cinema, música, gastronomia e até mesmo no idioma.
A expansão cultural coreana não é recente, ela é resultado de investimentos reforçados do Ministério da Cultura da Coreia do Sul. De acordo com um levantamento de dados realizado pelo G1, em 2005, o Governo coreano criou um fundo de US$ 1 bilhão para a música popular do país, o Kpop. Como consequência disso, a Coreia do Sul deixou a 30° para a 6° posição de maior mercado fonográfico do mundo em 10 anos, de 2007 a 2017. Durante o mesmo período, o Brasil avançou apenas duas posições no mesmo ranking.
A explosão do Kpop no Ocidente aconteceu em 2012, com o hit "Gangnam style", de Psy. Desde então, os fenômenos da Coreia do Sul, como BTS, Black Pink e Monsta X conquistaram fãs em diversas partes do mundo, inclusive no Ceará.
Kpop
A dança é uma das características mais marcantes da música popular coreana. Os grupos desse estilo musical realizam coreografias elaboradas durante suas apresentações e videoclipes, se tornando uma “febre” mundial entre os jovens. Aprender essas coreografias faz parte de ser fã de um grupo ou artista de Kpop.
Em Fortaleza, não é diferente. Jovens se reúnem para ensaiarem juntos as músicas de seus grupos favoritos. O que parece hobby, no entanto, já é visto com um olhar profissional por alguns fãs da capital. O Kouhai é um desses grupos. Ele foi fundado em setembro de 2019 e já participou de diversas competições de coreografia de Kpop.
Nesses eventos, os grupos reproduzem os passos elaborados pelos artistas coreanos e investem em roupas semelhantes aos utilizados pelos ídolos de Kpop. O estudante Gabriel Sampaio é um dos doze membros do Kouhai e acredita que se apresentar nas competições é uma forma de ter reconhecimento da dedicação dos participantes. “Além de estarmos fazendo uma coisa que a gente gosta, precisamos ver também um propósito nisso, de forma que isso dê um resultado, tanto pessoal como financeiro também”, explica.
Para reproduzir as coreografias, o Kohai ensaia semanalmente no Cuca Mondubim. Além das competições, o grupo participa também de mostras de Kpop em outros eventos de Fortaleza. Por conta desses encontros, Gabriel diz que passou a conviver mais com outros aspectos da cultura coreana. “Nos eventos, sempre há a venda de pratos típicos da Coreia, além de comentarem sobre as características do país. Então, a gente se aprofunda mais”, contou.
Idioma
A paixão pelo Kpop foi o motivo que levou Beatriz Gurgel, de 11 anos, a estudar o idioma coreano sozinha em casa por meio de videoaulas e plataformas de pesquisa. A estudante começou as pesquisas para entender as letras das canções e compreender o que os artistas coreanos falavam em entrevistas. “É uma língua complicada, acho que o mais difícil é decorar o que significa cada símbolo e a pronúncia”, diz.
Fã de BTS, Blackpink e Twice, ela quis conhecer mais sobre a cultura da Coreia do Sul depois que conheceu Kpop. Além da música, a estudante passou a consumir também pratos da culinária coreana e Doramas, séries de drama do país, por meio de plataformas streaming.
O crescimento da popularidade da música, do cinema e dos programas de televisão coreanos é apontado por Yeji Yeom, coordenadora e professora do Instituto de Língua Coreana em Fortaleza, como as principais razões pelo aumento da procura do curso de coreano na instituição, que conta com cerca de 90 a 100 alunos por semestre.
Nascida em Busan, na Coreia do Sul, Yeji conta que, antes de morar no Brasil, viajou por vários lugares do mundo, e sempre encontrava pessoas interessadas nas músicas, comida, cinema e no estilo de vida do país asiático. Em Fortaleza, o padrão se repetiu e a coordenadora percebeu que muitos fortalezenses tinham vontade de aprender o idioma, mas não encontravam cursos com professores nativos.
Identificando essa necessidade, Yeji fundou o instituto em 2016. “Muitas pessoas perceberam que a Coreia do Sul é um case de sucesso na área de educação e industrialização. Isso tudo faz com que mais pessoas queiram aprender sobre o país e consequentemente a nossa língua”, afirma.
Culinária
Vegetais, macarrão e arroz são alguns dos principais ingredientes utilizados na culinária da Coreia do Sul. Caracterizados pelo sabor apimentado, os pratos do restaurante Kbab precisaram sofrer algumas alterações nas receitas originais devido à carência dos produtos no comércio de Fortaleza.
Branco Sung, dono do restaurante, também nasceu em Busan, na Coreia do Sul, e conta que precisou substituir o arroz coreano pelo japonês, mas que os molhos e o macarrão utilizados nos pratos são importados do país asiático. “Outros ingredientes como carne e verduras nós compramos no mercado local aqui. Para arroz, usamos o japonês porque é similar ao arroz coreano”, explica.
No Kbab, os pratos mais pedidos pelos clientes são o Japchae, um macarrão à base de batata doce, e o Bibimbap, uma tigela de arroz com vegetais e molho picante fermentado coreano. Branco explica que comer arroz é algo bastante cultural na Coreia do Sul, onde as pessoas chegam a se alimentar tradicionalmente com o produto três vezes ao dia. “Uma das verduras que os coreanos mais gostam é a acelga. Nós fazemos KIMCHI com acelga, por exemplo, que é pickle picante fermentado”, conta.
As receitas coreanas do Kbab vêm conquistando o paladar dos cearenses desde 2015.
Serviço
Instituto de Língua Coreana
Av. Bezerra de Menezes, 1250, Sala 1501, São Gerardo
Mais informações: (85) 99996-2485
Restaurante Kbab
Av. Desembargador Moreira, 90, Meireles. Segunda à sábado, 12h às 22h.
Mais informações: (85) 3085-1760
Kouhai
Instagram: @kouhai.dg