O que é Queerbaiting e o que isso tem a ver com o novo clipe de Juliette e Marina Sena
Prática tem sido discutida no meio artístico por levar em conta a apropriação da causa LGBTQIAPN+ para fins mercadológicos ou de popularidade
Desde que lançou o clipe de "Quase Não Namoro", na última quinta-feira (10), Juliette é pauta nas redes sociais. No vídeo, ela e a também cantora Marina Sena chegam a trocar carícias e olhares sensuais, protagonizando uma cena que faz referência ao filme "Ghost - Do Outro Lado da Vida" (1990).
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Esse clima de pegação entre as duas é o principal motor de discussão do que seria Queerbaiting. O termo condensa os vocábulos “queer”, que engloba conceitos do universo LGBTQIAPN+, com o substantivo “bait”, traduzido livremente como “isca”.
Trocando em miúdos, define uma estratégia de marketing em que uma suposta homossexualidade de um determinado artista ou personagem é sugerida, mas jamais confirmada ou negada abertamente. As informações são do jornal O Globo.
O meio artístico, por sinal, está repleto de exemplos da prática. Um dos mais lembrados é Harry Styles. O cantor e ator tem uma postura contra a heteronormatividade – pela forma com que se comporta e se veste –, mas só assumiu relacionamentos com mulheres, o que é alvo de críticas de parte dos fãs.
Até onde se sabe, Styles é heterossexual, já namorou a atriz e diretora Olivia Wilde e, atualmente, tem sido ligado à atriz Taylor Russell. Por conta disso, membros da comunidade LGBTQIAPN+ questionam o que enxergam como uso indevido de elementos da cultura gay pelo cantor. Na tentativa de fisgar audiências sexualmente diversas, o popstar estaria fazendo Queerbaiting.
Nos filmes e séries também
Ainda citando Harry Styles, há uma produção da qual ele participa que também levanta o debate sobre a adoção da prática nas obras de ficção como um todo. No longa "Meu policial", ele interpreta um agente da lei que leva uma vida aparentemente feliz com a namorada, enquanto mantém um relacionamento com um amigo do casal.
A fluidez sexual e afetiva do protagonista parece cair como uma luva para o britânico. Harry é um defensor ativo da diversidade sexual, empunhando a bandeira do arco-íris nos shows e aparecendo de saias de vez em quando. Mesmo assim, conforme citado, só se relaciona com mulheres.
Outro caso é o da popular "Stranger Things", série da Netflix. Alguns fãs ficaram incomodados com o fato de a sexualidade do personagem Will não ser definida claramente, mesmo dando indícios desde a terceira temporada de que o personagem seria gay. Acusaram, então, a empresa de fazer Queerbaiting.
A gota d’água aconteceu quando o garoto foi visto carregando um projeto de escola sobre Alan Turing, considerado o pai da ciência da computação. Turing foi condenado por sua homossexualidade e tirou a própria vida.
De acordo com especialistas, há uma linha tênue entre a importância de abordar a pauta LGBTQIAPN+, com a existência de personagens na indústria cultural, e o Queerbaiting, que tem essa “intenção perversa, voltada para o ganho pessoal".
Apropriar-se desses signos e causas imaginando que tenham efeito positivo midiático pode ser efeito de um mundo transformado, em que se busca gerar impulsionamento da carreira, de filmes ou pessoas.