O que é, o que faz e o que pode a Pró-Reitoria de Cultura da Universidade Federal do Ceará
Criada há um ano, Procult tem entre os próximos passos a instalação de pelo menos três novos equipamentos, o retorno do Festival UFC de Cultura e a criação do Plano de Cultura da instituição
Shows musicais na Concha Acústica, programações diversas no Corredor Cultural do Benfica, exposições do acervo histórico do Museu de Arte, passeios pela Casa de José de Alencar, descobertas lúdicas na Seara da Ciência, encontros no Centro de Convivência no Pici e concertos da Camerata de Cordas. Tudo isso — e muito mais — é cultura na Universidade Federal do Ceará.
Tudo isso são, também, ações, equipamentos, grupos e espaços ligados ao escopo de atuação da Pró-Reitoria de Cultura da Universidade Federal do Ceará, que, nesta sexta (23), completa um ano desde que deixou o nível de secretaria, neste que foi um dos atos iniciais da gestão da administração superior que assumiu a UFC em 2023.
No aniversário da Procult, o Verso destaca o percurso da unidade administrativa até aqui e também os planos futuros, que incluem novos equipamentos culturais em campi da Capital e do interior, a retomada de projetos como o Festival UFC de Cultura e o Salão Universitário e a construção de um Plano de Cultura em parceria com o Governo Federal.
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Primeiros passos
“Esses 12 meses foram bastante intensos, porque a gente está fazendo a estruturação da pró-reitoria. Ela já nasce grande, no sentido de que nós temos nove equipamentos e perspectiva de novos serem inseridos”, começa o professor Sandro Gouveia, pró-reitor de Cultura da UFC.
Pró-reitora adjunta, a professora Glícia Pontes define a unidade administrativa como “articuladora”. “Ela não é um equipamento cultural, que promove eventos, mas uma articuladora dos diversos equipamentos e grupos culturais que existem na Universidade”, resume.
Como ressalta Glícia, a afinação entre as diferentes partes que compõem a cultura na instituição foi buscada neste momento inaugural. “As políticas eram feitas de maneira muito atomizada por cada equipamento, com atuação até dispersa em relação à própria política da UFC”, analisa.
A professora destaca a intenção da Procult de “fortalecer” as experiências culturais vivenciadas na instituição por estudantes e servidores. “Queremos tornar isso mais permanente e concreto no cotidiano dos diversos campi, principalmente em espaços que muitas vezes não têm relação com arte e cultura de maneira mais óbvia”, afirma.
Equipamentos culturais da Procult UFC:
- Casa Amarela Eusélio Oliveira
- Casa José de Alencar
- Centro de Convivência da UFC
- Concha Acústica
- Memorial UFC
- Museu de Arte da UFC
- Rádio Universitária FM
- Seara da Ciência
- Teatro Universitário Paschoal Carlos Magno
Novos equipamentos na Capital e no interior
Entre os novos equipamentos citados pelo pró-reitor está um cineteatro no campus de Itapajé, que “vai impactar toda a região do Vale do Curu”, aponta Sandro, já com construção em fase de finalização. “A gente tem o papel de levar a cultura para os campi do interior”, reforça o professor.
Haverá, ainda, a instauração de um espaço cultural na Reitoria, cujo piso térreo será aberto ao público com atrações artísticas. Finalmente, outro projeto futuro é o chamado “Espaço São Pedro”.
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Para o terreno do antigo Edifício São Pedro, o reitor adianta que está prevista a construção de um Centro Cultural do Banco do Brasil em parceria com a instituição financeira e, antes, haverá um espaço provisório para dar início às ações culturais.
Outros planos incluem uma parceria com a Casa de Vovó Dedé e a renovação do projeto do Corredor Cultural Benfica. Antes realizado pontualmente em alguns domingos somente na região do bairro, ele deve ser estendido para um trajeto que vai da Reitoria à Estação das Artes.
“Fizemos um mapeamento e temos em torno de 30 equipamentos (nesse caminho) envolvendo Universidade, Governo do Estado, Prefeitura e também privados. O diálogo vai ser importante quando a gente for efetivamente construir o Corredor”, ressalta.
Parcerias externas e captação de recursos
Outro passo importante dessa caminhada inicial, destaca o pró-reitor, foi a busca de parcerias externas. “A gente entende que a cultura tem esse potencial e a gente fez esse caminhar no sentido de participar de editais e fazer diálogos e parcerias, por exemplo, com o Ministério da Cultura, com o Instituto Brasileiro de Museus e outros organismos”, cita.
Com o Ibram, a Procult coordena o 8º Fórum Nacional de Museus, que acontece em novembro. Já com o MinC, ela inaugurou oficialmente no último dia 14 uma parceria para a construção do Plano de Cultura da UFC.
Nessa toada, a participação em editais citada pelo pró-reitor se liga à necessidade de verbas.
“A gente começou um processo de se fortalecer a partir da elaboração de projetos culturais para que a gente consiga fomento. A universidade tem como atividades-fim ensino, pesquisa e extensão, então não tem, por exemplo, uma destinação de recurso específico para a cultura”, explica Glícia.
Projetos da Procult inscritos em editais preveem, por exemplo, a volta do Festival UFC de Cultura — que deve ocorrer em dezembro como culminância dos seminários iniciais da construção do Plano de Cultura — e a digitalização e disponibilização de acervos da instituição.
Demandas de equipamentos e grupos devem guiar ações
“Tem gente que conhece a UFC, o primeiro lugar que pisa, por um equipamento. Um estudante que conhece a Seara da Ciência no ensino médio ou fundamental conheceu a UFC através de um equipamento cultural”, ressalta a professora Glícia Pontes.
A importância dos espaços e também dos grupos culturais de extensão, abertos à comunidade, é reconhecida pela gestão da Procult, bem como as questões que os perpassam.
"Alguns grupos ainda carecem de institucionalização. Temos grupos que funcionam, historicamente, a partir da garra dos servidores que estão envolvidos neles, professores ou técnicos", reconhece Glícia.
O horário de funcionamento dos equipamentos também é citado por ela como um desafio, uma vez que, enquanto serviço público, a Universidade tem horários de funcionamento específicos.
“Se a gente, por exemplo, hoje abre o Museu de Arte da UFC aos sábados em algumas semanas, é por força de vontade dos servidores. A gente tem que aprimorar e entender que o campo da cultura tem algumas exigências do ponto de vista do trabalho que diferem de outros”
Camerata em busca de institucionalização e verba
As falas são corroboradas pela professora Liu Man Ying, uma das coordenadoras da Camerata de Cordas da UFC, que compõe a Orquestra de Cordas da instituição. Os dois grupos têm ligação com a Procult.
"Esses projetos resistem ao tempo graças à perseverança e à tenacidade de quem participa, porque nós não temos nem local, nem dinheiro, nem reconhecimento da Universidade de que nós precisamos de verba para manutenção do grupo", partilha.
A Camerata, explica a professora, surgiu em 2016 para desenvolver a parte artístico-musical de alunos do curso de Música. "Ela tem a dupla função de formar o jovem músico e divulgar a boa música de concerto. Queremos que, além do aluno aprender, a gente divulgue ao grande público", aponta Liu, que ressalta aulas gratuitas oferecidas à comunidade.
As ações, no entanto, esbarram nas necessidades já citadas e ainda outras, como a construção de espaços de guarda de instrumentos e partituras, um local específico de ensaio e a permanência do vínculo de egressos com o projeto.
A professora destaca, no entanto, a importância das bolsas oferecidas pelo Programa de Promoção de Cultura Artística (PPCA), instituído em 2013 na UFC com objetivo de oferecer a estudantes e servidores “condições para produção, realização e fruição de bens artístico-culturais”, como descrito no site da Procult.
“Estudantes colaboram conosco através do PPCA, então nós temos bolsistas, por exemplo, da área de Design, Arquitetura, Sistemas e Mídias Digitais, que nos ajudam com a divulgação dos concertos, produção de folders e flyers, cuidam do Instagram, entre outras funções nessa parte de produção”, descreve.
Conforme a Procult, o número de bolsas ofertadas em projetos do PPCA aumentou 50% desde a criação da unidade administrativa. Houve, ainda, mudanças para simplificar cadastramento de novos projetos, adição de novas categorias e edital feito em linguagem simples.
Reformas são prioritárias na Casa de José de Alencar
Na realidade de um equipamento, o professor de História Leandro Bulhões partilha que a Casa de José de Alencar (CJA), na qual atua como diretor, tem as principais demandas referentes a reformas estruturantes.
O local, define o gestor, "oferece à sociedade qualificação da educação patrimonial", principalmente a partir da mediação cultural em espaços como a recentemente reaberta Pinacoteca Floriano Peixoto, o Museu Arthur Ramos e a reserva técnica, além de outras ações e pesquisas ligadas a ela.
No momento, a CJA elabora projetos para editais visando, por exemplo, a ampliação do Museu Artur Ramos — que reúne peças e artefatos africanos e afro-brasileiros — e a criação do Museu Afro-brasileiro, do Museu das Rendas e de centros de estudos indígenas e afro-brasileiros.
No âmbito estrutural, busca a reforma do restaurante, a transformação do auditório em sala multimídia, um projeto de trilha no parque, a limpeza do lago e a criação de um jardim, entre outros pontos.
"Trata-se de um equipamento que tem um tempo considerável e precisa de reformas robustas, considerando a necessidade de qualificação de acesso, acessibilidade, novas pesquisas, abordagem crítica, novas curadorias e expografias. A gente precisa encontrar caminhos — já estamos fazendo isso — para reorganizar a narrativa do espaço e ampliar o repertório de acesso à História", elabora.
Plano de Cultura como norteador
No evento de lançamento da parceria entre a UFC e o Ministério da Cultura, ocorrido no dia 14, o Secretário de Formação, Livro e Leitura (SEFLI) Fabiano Piúba adiantou outra parceria futura entre o MinC e o Ministério da Educação que prevê ações voltadas aos equipamentos.
"A gente está em conversa, os dois Ministérios, para fomentar a rede dos equipamentos das universidades, como museus, teatros, orquestras e bibliotecas, por exemplo", afirmou.
Tanto Piúba quanto a diretora de Educação e Formação Artística da SEFLI Mariangela Andrade destacaram a relevância do momento de construção do Plano de Cultura da UFC para a ação da Procult.
"A ideia é que a UFC possa passar os próximos meses fazendo escuta, realizando seminários, ouvindo a comunidade acadêmica, para entender o que a própria Universidade quer em relação aos equipamentos de culturas e às ações que vão ser realizadas"
Na avaliação de Leandro, o futuro Plano de Cultura da UFC será "um documento fundamental". "A criação vai ajudar a consolidar uma série de práticas que estão em marcha, em diferentes formas e performances em outros equipamentos", antevê.
"A ideia é construir agendas e ações comuns, qualificar experiências de gestão, de rede. A gente está com grandes expectativas que esse documento nos ajude a fortalecer as ações culturais que estão em marcha e outras que virão", confia.
“A expectativa é que isso nos ajude a planejar estrategicamente o desenvolvimento do que é permanente, como a Camerata de Cordas e a Orquestra de Cordas, com ações que permitam crescimento a longo prazo”, ecoa Liu.
As intenções são compartilhadas pela pró-reitora adjunta. “O Plano pode ser um momento de fazer essa reflexão para que nossos equipamentos culturais sejam mais conhecidos e receptivos às diversas demandas da sociedade. Ele pode dar um passo importante para a gente se inserir dentro do circuito cultural da Cidade e do Estado e conseguir ter uma relação mais direta com quem está fora da universidade”, defende Glícia.
UFC é 4ª federal do País com Procult
No Brasil, a Pró-Reitoria de Cultura da UFC é somente a quarta exclusivamente voltada à área no âmbito das Universidades Federais, surgindo após as Procults das instituições do Cariri, Juiz de Fora e Minas Gerais.
“Há universidades que não tem Pró-Reitoria de Cultura, que só tem de Extensão e Cultura, outras que só tem de Extensão. É um campo que ainda carece de institucionalização e essas experiências que a gente vai trocando vão nos fortalecendo e também dando um entendimento de como a universidade pode ser um agente importante na cultura”, ressalta Glícia.
1 ano da Pró-Reitora de Cultura da UFC
- Quando: sábado, 24, de 9 às 12 horas
- Onde: Jardins da Reitoria (av. da Universidade, 2853 - Benfica)
- Entrada gratuita.
- Mais informações: @procultufc