Novo filme de Wolney Oliveira registra relação afetiva do cearense com a água

"Memórias da Chuva" narra os impactos em torno da construção doas Açudes Orós e Castanhão

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@svm.com.br
Filme
Legenda: Filme "Memórias da Chuva", de Wolney Oliveira
Foto: Wolney Oliveira

Após narrar o drama de nordestinos na região amazônica com "Soldados da Borracha", o cineasta Wolney Oliveira adentra a relação afetiva do cearense com a água. Dois marcos hídricos na história do Estado conduzem a trama do próximo trabalho.

O documentário "Memórias da Chuva" recupera os acontecimentos e impactos em torno da construção dos açudes Orós e Castanhão. Em cena, uma produção mergulha na memória de comunidades que foram varridas do mapa.

Concebidas com a missão de suprir a histórica carência de água no Ceará, as obras foram erguidas em décadas e contextos políticos distintos. Na década de 1960, o surgimento do Orós apagou a localidade conhecida por Conceição do Buraco. Em 2001, a cidade de Jaguaribara foi tomada pelas águas do Castanhão. Nesse último, 16 anos depois, foi onde Wolney iniciou as investigações para o filme.

"Vimos ser duas histórias totalmente diferentes. A logística de Orós foi um desastre. Pessoas saíram com água na canela. No Castanhão foi planejado. Saíram para uma cidade nova, inclusive houve o transporte de restos mortais da velha à nova Jaguaribara. O que não aconteceu em Conceição do Buraco e arredores", descreve o diretor.

Assim, "Memórias da Chuva" costura estes dois acontecimentos. Em paralelo, emoldura as lembranças queridas, a emoção de quem testemunha a água cair do céu. "Para tanto, a pesquisa do documentarista reúne livros e até filmagens caseiras de ex-moradores. O filme resgata a história de vida dessas pessoas, o que aconteceu por detrás disso", aponta.

Contra o tempo

A filmagem também agrega relatos de especialistas e lideranças locais. O intuito é costurar passado e presente, esgarçando a força expressiva das reminiscências e apreço pelo chão de origem. Reflexões acerca da edificação das raízes familiares e do pertencimento.

Wolney Oliveira explica que o material segue atualmente em estágio de pré-produção e edição. "Esperamos que esteja pronto ainda este ano", explica. No entanto, a finalização do trabalho precisa lidar com os impactos diretos do contexto pandêmico.

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Legenda: A filmagem agrega relatos de especialistas e lideranças locais
Foto: Wolney Oliveira

"Memórias da Chuva" é um dos projetos contemplados com a Lei Aldir Blanc, via Edital de Apoio ao Audiovisual Cearense. Ao todo, 18 trabalhos de longas-metragens contam com o aporte deste auxílio emergencial. Os prazos de execução e prestação de contas estão apertados, segundo o realizador cearense.

"É uma mistura de paraíso com inferno. Viabilizei um projeto que tão cedo eu teria condições de ter recursos, seja pelas leis estaduais, federais ou Ancine, que está praticamente parada. Ao mesmo tempo, o prazo de entrega é final de maio", descreveu Wolney.

O aumento dos casos de Covid-19 configuram dor de cabeça e pesam na condução do cronograma de realização do longa. "Mesmo tendo uma pessoa da área médica, além da preocupação com minha equipe, tem o temor também com as pessoas que vou entrevistar. Tem gente acima de 65 anos. Entramos em contato, vamos aguardar elas tomarem a segunda dose para depois marcar a filmagem", asseverou.

Wolney descreve que existe movimentação nacional, com apoio e participação da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult) e outras secretarias estaduais para que o Governo Federal prorrogue a entrega dos projetos.

"Existe uma sinalização de Brasília para estender até dezembro. Mas, pedimos para junho de 2022. Estamos no fim de fevereiro e distribuição de vacinas no País é muito lenta. Não sabemos quando essa pandemia vai terminar (...) Não me sinto seguro de viajar a Orós, nem para mim, nem para aqueles que vamos registrar para o filme", conclui Wolney Oliveira.

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