Mostra "J. Borges 80 anos" traz obras inéditas do artista pernambucano para Fortaleza

Com abertura nesta terça-feira (8), a exposição apresenta 40 xilogravuras retratadas em 10 temas

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@diariodonordeste.com.br
Legenda: Aos 83 anos de idade, J. Borges encaminha suas criações em Bezerros (PE), onde nasceu e reside até hoje
Foto: FOTO: Xirumba

A vasta produção do artista visual e poeta José Francisco Borges (PE), o "J. Borges", já ganhou um memorial em Bezerros, sua terra natal. "A gente brinca com ele que isso só se faz quando a pessoa morre", observa o amigo e artista plástico José Carlos Viana. Com a curadoria desse parceiro e de Marcelle Farias, um recorte pontual das criações do pernambucano compõe a mostra "J. Borges 80 anos", em cartaz na Caixa Cultural Fortaleza (Praia de Iracema) a partir desta terça (8). O acesso é gratuito.

Reunindo 40 xilogravuras do acervo do artista, a exposição destaca 10 obras inéditas. "J. Borges 80 anos" ocupa o circuito das sedes da Caixa Cultural desde 2016. No ano passado, a mostra esteve em Brasília (DF) e, depois da capital cearense, segue para o Rio de Janeiro (RJ). Em dezembro de 2015, o cordelista e gravurista homenageado completou 80 anos.

Para José Carlos Viana, a porção inédita das obras é o "carro-chefe" da exposição. "Nós encomendamos essas 10 gravuras, com o convite para ele revisar as décadas da vida dele, da infância até a atualidade. Depois, escolhi mais 30 da produção avulsa", situa o curador.

Viana acompanha a produção de J. Borges desde a década de 1980. Ligado a Bezerros (PE), município onde o gravurista nasceu e mora até hoje, o curador recapitula que, quando surgiu o convite para realizar a concepção da exposição, "já tinha meio caminho andado". Assinado pelo jornalista Eduardo Homem, um vídeo sobre a vida e a obra de J.Borges será exibido durante a mostra. A visitação ocorre até o dia 10 de março.

Além do registro audiovisual, que se tornou um conteúdo exclusivo do projeto, a exposição conta também com obras assinadas por J. Miguel e Manassés Borges, filhos de J. Borges. Todo o material é dividido em 10 temas: "No tempo da minha infância", "Na minha adolescência", "Vendendo bolas dançando e bebendo", "Serviços do campo", "Cantando cordel", "Plantio de algodão", "A vida na mata", "Plantio e corte de cana", "Forró nordestino", "Viagens a trabalho e negócios".

Dimensão

Indagado sobre a divisão dos temas, o curador José Carlos Viana dimensiona a obra de J. Borges. O artista mantém, segundo o parceiro, "quase um quarteirão inteiro de obras" em Bezerros (PE). "A obra dele abrange todo o universo popular da vida nordestina, sobretudo (da região) do Agreste. A gente tentou mapear mais ou menos isso, mas são muitas obras. O J. Ainda não teve o cuidado de arquivar a produção dele, embora os filhos e a família trabalhem com ele", detalha. Viana especula que J. Borges teria criado uma quantidade de obras suficiente para ocupar cinco museus. Em torno do "memorial" em Bezerros, a 100 quilômetros de Recife, jovens estudantes visitam o acervo com frequência. No entanto, o próprio artista ainda não atentou para a necessidade de catalogar as criações de um modo mais organizado.

Segundo o curador, "quando ele quer vender as matrizes (das gravuras), vende. Não se preocupa muito. E existem muitos colecionadores da obra. Ele recebe muito pedido de gente dos Estados Unidos, da Alemanha, tentando negociar os direitos autorais".

Risco

J. Borges ficou conhecido pela espontaneidade ao fazer gravuras. José Carlos Viana confirma que o parceiro nunca fez rascunho no processo criativo. "Ele já desenha, e corta direto na madeira, com a faca. Não tem esboços. O J. Borges é muito dinâmico, e tem uma intuição estética extraordinária. Ele já visualiza o desenho na memória, e começa a talhar direto", especifica o curador da mostra.

Antes de começar a fazer gravuras, o pernambucano já escrevia cordéis. Há mais de cinco décadas, J. Borges versa sobre o cotidiano do Agreste, acontecimentos políticos, fatos lendários e curiosos da vida no interior nordestino.

Foi o contemporâneo Mestre Dila, um dos xilogravuristas mais reconhecidos de Pernambuco, quem ilustrou um cordel de J. Borges, a princípio, e estimulou o parceiro a enveredar pelo desenho na madeira.

"Mais na frente, um professor da Universidade Federal de Pernambuco e um artista plástico do Rio de Janeiro pediram pra ele fazer um desenho maior que o espaço da gravura, e ele fez uma xilogravura grande, daí começou a atender muitos pedidos. E faz gravuras enormes hoje, como vocês verão na exposição", antecipa José Carlos Viana.

Serviço
Exposição J. Borges 80 Anos
Abertura da mostra de gravuras nesta terça (8), às 19h, na Caixa Cultural Fortaleza, com visita guiada pelo curador José Carlos Viana (PE). 
A visitação é aberta ao público, de 9 de janeiro a 10 de março, de terça a sábado, das 10h às 20h; e aos domingos, das 12h às 19h. 
Contato: (85) 3453.2770

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