Francisco Brennand deixa legado para a arte e a cultura brasileiras

O artista plástico pernambucano morreu ontem, aos 92 anos, vítima de complicações de uma infecção respiratória. Conhecido por gigantescas esculturas, ele foi o responsável pelo Parque das Esculturas, em Pernambuco

Escrito por Redação ,
Legenda: No Porto do Recife, fica o Parque das Esculturas, construído em 2000
Foto: Rafael Martins

As formas únicas e seguras de Francisco Brennand ficam no legado da arte brasileira. O ceramista pernambucano morreu ontem, aos 92 anos, em decorrência de complicações de uma infecção respiratória. Ele estava internado há 10 dias no Real Hospital Português, em Recife. O artista foi velado na Capela Imaculada Conceição e será cremado hoje.

Reconhecido pelo trabalho de escultor, nas mãos de Brennand o barro ganhava vida e virava totens, armaduras, seres zoomórficos e soldados, sob influências de Pablo Picasso e Paul Gauguin. O artista plástico tinha apreço também por retratar formas femininas. Algumas dessas obras fazem parte do acervo da Oficina Cerâmica Francisco Brennand, uma antiga olaria herdada do pai e que funcionava como museu e ateliê. 

Dentro desse complexo, há ainda a Capela Imaculada Conceição, onde o corpo do escultor foi velado. A cerimônia foi aberta ao público. A cremação de Brennand será realizada hoje, no Cemitério Morada da Paz, no município de Paulista, fechada para os familiares.

Em 2016, o artista publicou diários, divididos em quatro volumes. Ele deixa mulher, Maria Gorette, cinco filhos, dez netos e dez bisnetos. 

Em décadas dedicadas à arte, não só as esculturas estão presentes em seu catálogo de trabalho. Pouco menos comentadas, mas também de grande relevância, as pinturas foram igualmente exploradas por Brennand logo no início da carreira, na década de 1940. Em sua maioria, retratavam elementos naturais como flores e frutos em cores puras, que pareciam flutuar. 

Relevância

Para o ceramista cearense Túlio Paracampos, o trabalho de Brennand é de grande relevância especialmente por abrir as portas para essa tipologia artística no Brasil. “Foi a primeira expressão de reconhecimento da cerâmica autoral em nível nacional. Antes dele, tínhamos somente as expressões indígenas para chamar de escultura brasileira”, pontua. 

Em agosto deste ano, Túlio teve a oportunidade de conhecer o mestre e o momento é lembrado por ele com saudosismo. Nesse encontro, Brennand compartilhou com o cearense o motivo inicial que o levou a ser escultor. Já com 40 anos, ele pediu permissão ao pai para usar as ruínas da fábrica de cerâmica. “Você só não começa hoje, pois já são 17h”, foi a resposta obtida. No dia seguinte, Brennand começava a produzir as esculturas.

“Certamente, eu produzo cerâmicas por conta da proposta que ele abriu no Nordeste e do mercado que ele construiu também”, fala Túlio sobre a influência do pernambucano em suas obras.

Já para Bosco Lisboa, também ceramista cearense, o acervo de Brennand mostra para todo o País que o barro pode ser um nobre elemento para este tipo de produção. “Ele deixou uma obra importantíssima. Trabalhar com cerâmica é arte, não é um trabalho menor”.

Apesar de nunca ter tido contato direto com o escultor, Bosco reconhece as influências do artista para outros. 

Exposições em Fortaleza

Legenda: Parte da exposição realizada em 2018, em Fortaleza
Foto: Jailton Costa

A arte de Brennand esteve presente nos museus de Fortaleza. A última exposição na capital foi realizada em 2018, na Caixa Cultural. Sob a curadoria de Rose Lima, a mostra era composta por esculturas, desenhos e pinturas desde o início da carreira.

No ano de 2008, o Centro Dragão do Mar recebeu duas exposições: “Um Pedaço de Alma de Brennand” e “Brennand: Uma Introdução”, compostas por 33 esculturas, 17 pinturas e nove desenhos. A segunda mostra apresentava referências à figura feminina e à sexualidade. 

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