Fast food cearense, galeto tem origem italiana e virou tradição aos domingos devido a sabor, preço e praticidade

Assada na brasa, cortada ao meio e pronta para servir, iguaria se vale do costume de décadas para continuar influente no paladar e ser patrimônio gastronômico

Escrito por
Diego Barbosa diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Praticidade, sabor e os acompanhamentos da iguaria justificam o fato de o galeto ser tão querido na mesa cearense
Foto: Thiago Gadelha

Domingo sem galeto não é domingo. A movimentação da cidade comprova: todo mundo sai de casa ou pega o celular para pedir aquele frango assado na brasa, cortado ao meio e acompanhado de baião, farofa e vinagrete. Totalmente sem defeitos. Parte da identidade cearense, o galeto é obrigatório na mesa aos fins de semana, e resguarda detalhes curiosos.

Um deles é o fato de ter origem italiana e conseguir inserção no Brasil a partir das regiões Sul e Sudeste. “No Ceará, passou a fazer parte do cotidiano por ser um prato prático – espécie de fast food – e pelo preço ser atrativo e acessível. O nome dele, por sua vez, se dá por ser um galo jovem de porte pequeno”.

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Quem explica é o chef Luiz de França, professor da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco. Segundo ele, praticidade, sabor e os acompanhamentos da iguaria justificam o fato de ela ser tão querida, sobretudo aos domingos – quando ninguém quer ir para a cozinha e prefere desfrutar do descanso da semana.

“É um hábito geralmente cultivado aos fins de semana em todo o Estado, mas percebe-se a venda durante a semana também”. O preparo geralmente envolve corte, passagem pelo fogo em brasa num espeto, mais um corte ao meio e preparo de temperos antecessor ao processo de assar – sal e pimenta são os principais insumos.

Legenda: Para pesquisador, o galeto é o fast food cearense, e pode ser encontrado na versão balcão ou para servir no restaurante
Foto: Thiago Gadelha

Na seara das novidades, o chef diz já existirem galetos totalmente desossados ou trinchados. Eles também podem acompanhar batatas rústicas ou maionese de batatas. Engana-se, porém, que o costume é só coisa nossa. Nos Estados do Sul e do Sudeste, o galeto também ganha os domingos, embora seja mais encontrado em padarias.

Para o futuro, Luiz de França acredita que a tradição seguirá firme e forte por ser uma comida prática, barata, de fácil preparo e versátil, capaz de ser utilizada em qualquer ocasião e dia da semana sem deixar de agradar a todos. “O que pode mudar são as apresentações, formato de vendas e acompanhamentos”, observa.

Trinta anos de galeto

Com duas unidades em Fortaleza – na Aldeota e no Parque Manibura – o Cantinho do Frango faz jus ao próprio nome e comercializa galeto desde o começo das atividades, em 1994. São 30 anos de história com a iguaria. “Nossa missão é fazer os clientes se sentirem em casa com aquela comidinha que muitas vezes lembra casa de vó”, diz a proprietária, Amanda Fonseca. 

Legenda: Galeto desossado do Cantinho do Frango é um dos pratos mais pedidos do restaurante
Foto: Thiago Gadelha

O domingo é imbatível no restaurante e registra o maior número de vendas de galetos, tanto no delivery como nas mesas. Para Amanda, as pessoas pedem mais frango nesse dia por ele ser um prato perfeito para dividir, agradando de bebês a idosos. “Virou a comida tradicional de domingo pelo sabor, praticidade e também por ser um prato bem servido”.

O galeto do Cantinho do Frango é temperado com vinho, e a média de preço vai de R$ 22 a R$ 105 – a depender da complexidade do prato e dos acompanhamentos. De acordo com a proprietária, o diferencial é que a empresa cobra um tamanho mínimo do frango aos fornecedores, mantendo a qualidade dos produtos utilizados no tempero. Além disso, colaboradores são treinados continuamente para manter o frango no padrão. 

Legenda: O prato Galos, noites e quintais é perfeito para dividir com a família e apresenta o galeto de um jeito diferente
Foto: Thiago Gadelha

“Nosso carro-chefe é o frango desossado e o kit Frango a Cantinho do Frango, composto por frango desossado, baião, farofa de ovo e purê de batata. Estamos sempre testando receitas novas. No momento não temos nenhuma para entrar no cardápio, mas tudo pode mudar a qualquer momento”, adianta.

“Começamos nosso negócio justamente com a venda de frangos. Temos o Frango com Osso, o Frango Desossado e as variações do desossado (com queijo e metido a galo, no qual, além do queijo, vai tomate, orégano e manjericão)”. Festival de sabores para reiterar o quanto a delícia é querida e não dá provas de esmorecer.

Sabor protagonista

“Galeto: Tradição cultural do fast food cearense” reforça esse componente. O artigo, publicado na revista dos Encontros Universitários da Universidade Federal do Ceará em 2017, situa a onipresença da comida ao mapeá-la tanto em casas especializadas quanto em restaurantes e galeterias do Estado, passando por açougues e padarias.

“No Brasil, o galeto teve origem no Rio Grande do Sul, e hoje é tradição culinária no Estado do Ceará, principalmente em Fortaleza. É protagonista em pratos de inserção no cardápio de restaurantes populares e até em renomados estabelecimentos da cidade”, aponta a descrição geral do trabalho, escrito por Paulo Henrique Ribeiro dos Santos.

Legenda: Para pesquisador, sucesso do galeto é fruto da interseção entre rápido tempo de preparo e preço acessível
Foto: Thiago Gadelha

O levantamento foi realizado a partir de pesquisa de campo, analisando preços e o tempo que consumidores recebem o produto – uma vez que a tese do artigo é que, de fato, o galeto é nosso fast food. Conforme o autor, “observou-se que o sucesso dessa iguaria é a interseção do tempo e o preço. Ao conhecer as galeterias espalhadas pela cidade, o preço varia de R$ 8 a R$ 21, com tempo de espera imediato até 15 minutos”.

Os tempos e valores mudaram, claro, mas algumas coisas permanecem. À época, por exemplo, o trabalho enfatizou que a preparação é mais consumida em domicílio aos fins de semana e quase sempre acompanhada de baião de dois, farofa e vinagrete (molho campanha). Nada diferente sob o sol.

Tradição e modernidade

Distante do Centro de Fortaleza, mas igualmente atuante na gastronomia, o Alow Frango é outro estabelecimento que investe no comércio de galeto, aliando tradição e modernidade. Com unidades no Eusébio e na Maraponga, o franguinho assado na brasa continua, mas com bônus: é possível pedir via aplicativo e ter um tipo diferente de experiência na entrega.

Esta distinção está sobretudo na embalagem personalizada para caber um galeto – bem distante do papel que envolve o frango e posto na sacola, como geralmente é encontrado. “Frango assado é um prato coringa, combina com tudo. Além de acessível, é super saudável. No Alow Frango, em menos de 5 minutos você garante seu almoço, então não faz sentido sujar as panelas em casa”, dizem os proprietários, João Neto e Myrna Saboia.

Legenda: No lugar de papel envolvendo o galeto, na Alow Frango existem embalagens personalizadas para alocar a delícia
Foto: Thiago Gadelha

Com preços a partir de R$21,90, a unidade da casa no bairro Maraponga – com apenas 10 meses de existência – tem média de vendas semanal de 1500 frangos, ou seja, quase 2 toneladas de frangos por semana. Na unidade do Eusébio, a quantidade chega a triplicar. O dia mais corrido, claro, é o domingo.  “Até brincamos que domingo é o Dia Internacional do Frango Assado”, gargalham.

“Consequentemente, é o dia de maior faturamento, responsável por 50% das vendas em geral. A Alow Frango nasceu em 2019 e, desde o início, nosso prato principal é o frango assado. Atualmente, além dele, temos pratos executivos, carne assada e porções de acompanhamento”.

Legenda: Do pedido do balcão ao delivery, passando por preparo e corte, galeto passa por diferentes etapas até chegar à mesa
Foto: Thiago Gadelha

Por sinal, o começo da história do estabelecimento é curiosa. Aconteceu no Eusébio devido à falta de opções no município para comprar galeto. A Alow Frango enxergou crescimento durante a pandemia de Covid-19 como resultado do já grande investimento em delivery. “Fez a gente ser referência no segmento”, situam.

“Nosso conceito é entregar o melhor produto em menor tempo, seja no balcão ou no delivery. Fazemos valer nosso slogan: ‘Da Brasa para sua Casa'”. Para o futuro, o plano é seguir com boa atuação no mercado. Atualmente, a casa tem parceria com uma grande marca nacional visando sempre a qualidade do frango. 

“Temos um tempero 100% natural, desenvolvido por nós. A receita fica guardada a sete chaves. O frango fica marinando por 24 horas e há todo um processo na hora de assar, deixando ele assadinho por fora e suculento por dentro”. Os próximos passos compreendem desenvolvimento de novas embalagens e estruturação para iniciar franquia. Aguardemos.

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