Exposição Terra em Transe evidencia recortes do Brasil por meio da fotografia

Mostra entra em cartaz nesta quarta-feira (5) no Dragão do Mar compondo a programação do Fotofestival Solar

Escrito por Diego Barbosa , verso@verdesmares.com.br
Legenda: Do pernambucano de Olinda Ricardo Labastier, fotografia faz parte da série "Santu+Árido_Um Peji Particular" (Olinda, PE, 2015/2016)

Polêmico, revolucionário, intenso. E, de quebra, inspirador. Situar "Terra em Transe" no contexto da filmografia nacional requer necessariamente esbarrar em um desses termos, comprovando a dimensão que a obra-prima de Glauber Rocha (1939-1981) adquire a cada mergulho, cada revisita.

Mesmo após mais de meio século da primeira exibição, o longa-metragem segue com inquestionável influência sobre artistas de todo o mundo, dialogando com múltiplas linguagens e referências.

O mais recente exemplo de esgarçamento das possibilidades que a narrativa desperta é a exposição homônima que entra em cartaz a partir desta quarta-feira (5), às 19h, no Museu de Arte Contemporânea do Ceará (MAC). Trata-se da nova empreitada curatorial de Diógenes Moura, escritor, curador de fotografia, roteirista e editor pernambucano, conhecido pelo trabalho realizado durante 20 anos à frente da Pinacoteca de São Paulo. É ele o responsável por unir, na mostra, os trabalhos de 53 fotógrafos nacionais de olhar plural sobre os Brasis, evocando imagens de forte cunho documental e reveladoras de aspectos caros às discussões dos tempos de agora e de outrora.

Legenda: Do premiado Juca Martins, a foto "Manifestação do Movimento contra a carestia" (Praça da Sé, SP, 1978)

Legenda: Imagem feita pelo baiano Ricardo Sena (1973), da série "Navio Negreiro" (Salvador, BA, 2011-2015)

Legenda: De Rosa Gauditano, "Crianças na Cidade de São Paulo" (São Paulo, 1984) tem como cenário a Praça da Sé

Reflexões

A exposição é a maior das cinco que serão capitaneadas pelo Fotofestival Solar, evento cuja primeira edição acontece de 5 a 9 de dezembro no Centro Dragão do Mar de Arte Cultura (CDMAC) e na Escola Porto Iracema das Artes. O projeto pretende ser bienal e possui extenso roteiro de atividades buscando ampliar perspectivas de discussões sobre o fazer fotográfico.

Por meio de 420 obras e três vídeos, a "Terra em Transe" estruturada por Diógenes transgride o tempo e passeia por registros ora antigos, ora atuais, passeando por imagens de cidades, religiões, sexualidades e contextos políticos, entre outras manifestações.

Legenda: "No coreto da praça" (Pão de Açúcar, Alagoas, 1999), do alagoano Celso Brandão

Legenda: A foto, da gaúcha Miriam Fichtner, integra a série "Cavalo de Santo" (Terreiro Ilê OniElegbara, Porto Alegre, RS, 2006-2011)

Legenda: De Lalo de Almeida, a foto "Mudança para o Reassentamento Urbano Jatobá depois da construção da hidrelétrica de Belo Monte" (Rio Xingu, PA, 2014)

São registros impactantes e que conversam frontalmente com o tema do festival, "Abismo", ao imergir em representações dos abalos físicos e mentais que acometem há muito o Brasil. "É uma mostra que tem o pensamento de um curador e um escritor a respeito de seu próprio país", afirma Diógenes, fazendo uma referência a si mesmo.

"Interessou-me realizá-la sobretudo porque é uma exposição em que posso falar sobre o que eu quero a partir do trabalho de outros", justifica. Nesse movimento, vale ressaltar que a quase totalidade de expositores estará presente na abertura. Do total, três são de nossa terra - Nicolas Gondim, Fernando Jorge e Celso Oliveira (carioca radicado cearense).

É importante pôr em relevo ainda aquilo que o curador quer passar ao público com a ação. "Não assumo trabalhos bonitos, para agradar. Quero mostrar a realidade e por isso recorri aos registros que estarão expostos. E tão importantes quanto as imagens são os textos que as acompanham. Espero que as pessoas entrem no museu e sintam que estamos em um momento de reflexão".

Serviço

Exposição "Terra em Transe". De 5 de dezembro a 31 de março no Museu de Arte Contemporânea (R. Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema). Visitação: de terça a sexta, das 9h às 19h; aos sábados e domingos, das 14h às 21h (acesso até meia hora antes do horário de término). Entrada franca. Contato: (85) 3488-8600

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