‘Esse camarote tá mais pra pipoca’: BBB23 e a definição sobre a fama nos dias atuais

Anúncio dos participantes do Big Brother Brasil 2023 (BBB23) gerou burburinho nas redes sociais e rendeu discussão sobre o conceito e critérios da fama atualmente

Escrito por Lívia Carvalho , livia.carvalho@svm.com.br
Legenda: Elenco completo dos participantes da edição 23 do BBB
Foto: Reprodução/gshow

Após o sucesso da primeira edição com famosos, em 2020, o Big Brother Brasil 2023 repete a fórmula e traz 10 participantes no grupo Camarote. O anúncio dos brothers e sisters na última quinta-feira (12) causou, claro, burburinho nas redes sociais e um dos assuntos mais comentados pelos internautas era de que muitas celebridades não eram tão conhecidas assim.  

“Esse camarote tá mais pra pipoca”. “Eles são famosos?”. “Nunca vi e nem ouvi falar”. Esses foram alguns dos comentários feitos no post do Instagram do Diário do Nordeste sobre os participantes. O que define, afinal, a fama de uma pessoa? É possível que um indivíduo conhecido apenas entre um grupo restrito de pessoas seja considerado uma celebridade?  

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Professora do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutora em Comunicação na USP, Naiana Rodrigues explica que o conceito de fama tem base nas reflexões do sociólogo francês Edgar Morin sobre os olimpianos e a cultura de massa.  

"Ele denominava de olimpianos essas pessoas que detinham uma grande visibilidade midiática, no século XX, baseada em atores hollywoodianos, esportistas, políticos, sujeitos comparados aos deuses do Olimpo. Estavam separados dos outros mortais circulando nos meios de comunicação e, por isso, se diferenciavam dos outros indivíduos", diz.  

Logo, os famosos da geração analógica conquistavam esse status por conta de um talento ou da profissão. Se antes, cantores, atores, políticos ou esportistas figuravam nesse campo do imaginário coletivo, hoje esse espaço pode ser ocupado simplesmente por pessoas que mostram sua rotina nos stories do Instagram.  

Famoso do século XXI  

O doutorando em Comunicação e educomunicador da Rede Cuca, Pedro Brandão, acrescenta que a fama "seria como se fosse um agregador de atenção”. Porém, o conceito de fama foi mudando ao longo dos anos, influenciado principalmente por conta das redes sociais.  

"Não há mais um órgão centralizador, batedor de martelo, que define quem é famoso ou não. Antes, era a TV, os estúdios cinematográficos. Com a internet, isso mudou, é um terreno sem muita certeza de quem é famoso ou não, um vídeo viral pode tornar uma pessoa famosa da noite pro dia, pro bem ou pro mal. Os algoritmos são mais difusos e, por vezes, aleatórios”.  
Pedro Brandão
educomunicador

Assim, vão surgindo os famosos do século XXI. “Essa ascensão desses sujeitos que estavam lá na massa e passam a se destacar por causa da internet, conseguem se comunicar pra outra grande massa de indivíduos e encontrar fama entre seus nichos”, pontua Naiana. 

O que acaba por refletir em uma mudança de estratégia do reality show ao mostrar que o “famoso não é simplesmente o ator da Globo, não é só o cantor de sucesso e consequentemente tá na TV”.   

“A internet funciona de uma forma diferente, se constrói a partir das bolhas e, por isso, muita gente diz que não conhece os participantes do camarote. Isso se explica por essa segmentação, essa personalização que o molde da internet possibilita, esses ‘filtros-bolha’. O algoritmo vai te mostrar o que você gosta a partir dos filtros digitais". 
Naiana Rodrigues
professora de Jornalismo da UFC

Checklist da fama? 

Kelly Key já cantava em 2003 o ‘checklist da fama’. Em ‘Chic, chic,’, ela dizia: “eu quero ser famosa, ser uma grande artista, gravar comercial, ser capa de revista”. Há duas décadas, ocupar esses espaços midiáticos confirmavam a fama de pessoas públicas. Hoje, o mercado editorial das revistas arrefeceu e o Instagram ou o TikTok viraram a vitrine – e o atestado – do status de celebridade.  

Por isso, de acordo com Pedro, não podemos considerar que há critérios a serem preenchidos para considerar alguém famoso ou não. “O algoritmo ainda funciona de uma forma misteriosa, por isso, quem se torna famoso também. O que explica o influenciador X ganhar espaço e o Y não?”. 

Certamente, você deve seguir um produtor de conteúdo que tem centenas de milhares de seguidores que, para você é famoso, mas para outra pessoa do seu convívio não. A fama se tornou algo relativo. 

Marília é uma das participantes do grupo pipoca desta edição do BBB, considerado de ‘anônimos’, e entra no reality com 940 mil seguidores, 140 mil desses foram conquistados após o anúncio da participação no programa. Eu, por exemplo, nunca tinha ouvido falar dela, mas talvez para seu público, ela seja considerada famosa.  

Naiana pondera que, hoje em dia, essa fama é construída em torno de saber usar os meios de comunicação, principalmente a internet. “Essas pessoas sabem manejar os algoritmos, produzem conteúdo excessivamente com o intuito de obterem visibilidade. É preciso entrar no jogo do algoritmo”.  

Subcelebridade ou nicho 

Outro conceito relacionado ao assunto é o de subcelebridades, que surgiu na virada dos anos 2000 para diferenciar das celebridades tradicionais.

"A denominação de subcelebridades era atribuída justamente a esses sujeitos que ganhavam notoriedade muito rápido na internet, mas não conseguiam sustentar essa fama por tanto tempo. Hoje em dia, tá mais próxima de uma diferenciação dentro da própria web do que de meios de comunicação", afirma Naiana.

A doutora em Comunicação indica que, no universo da web, as subs estão mais associadas ao microinfluenciadores, ou seja, aqueles que produzem um conteúdo mais segmentado para um público fiel e não há tanta preocupação em manejar o algoritmo. 

Pedro, por sua vez, acrescenta que as subcelebridades vivem na 'periferia' da atenção e também estão atrelados à questão do nicho. "Para as marcas que não têm dinheiro pra pagar o cachê de celebridades como Neymar ou Luciano Huck, é uma excelente estratégia". 

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