Encontro Sesc Povos do Mar completa 10 anos com programação virtual

Evento celebra a efeméride continuando a disseminar práticas e costumes das comunidades praianas de 24 municípios cearenses

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Uma verdadeira galeria a céu aberto poderá ser conferida por meio da exposição "AquaVelas", que abre a programação do evento
Foto: Jr. Panela

Muitas imagens habitam a mente de Vando Farias, 49. Todas relacionadas ao mar. Criança em Fortaleza, observava a vastidão de água cobrindo terra e se encantava com a cor e os enigmas do oceano. A devotada paixão fê-lo, anos depois, adquirir jangada, vender peixe e atribuir à filha um dos epítetos de Iemanjá: Inaê.

Há doze anos vivendo em Guajiru – localidade do município de Trairi, litoral cearense – o homem passou a transferir toda aquela vivência marinha para o fazer manual. Artista plástico autodidata, Vando é um dos dez nomes integrantes da exposição flutuante “AquaVelas”, que abre a edição comemorativa da primeira década do Encontro Sesc Povos do Mar.

Legenda: O artista visual Vando Farias representa em sua vela sete seres marinhos
Foto: Jr. Panela

O momento acontece neste domingo (6), às 8h30, por meio do canal do YouTube do Sesc Ceará. Na ocasião, o público, da própria casa, poderá observar obras de arte pintadas em velas de jangadas, que desfilarão pela orla da Capital em homenagem às comunidades e povos litorâneos do Estado. 

A tela confeccionada por Vando traz ilustrados sete seres marinhos, a exemplo da lagosta, da moreia e da arraia. “Todos esses personagens habitam dentro de mim”, conta o artista que, desde as primeiras edições do projeto, participa das atividades.

“É a ocasião em que, nós, cearenses, afirmamos esse nosso belo litoral. Nesses dez anos, só tenho uma gratidão imensa, pois compartilho meus conhecimentos nesse movimento de troca. É uma teia que vamos tecendo junto a todas as comunidades que integram o projeto”, festeja.

A programação do evento segue até o dia 11 de dezembro, apenas de forma virtual, em face da pandemia de Covid-19. No roteiro, uma diversidade de ações: exibição de websérie, diálogos, festival, socialização de práticas gastronômicas, laborais e artísticas, apresentação de danças, entre várias outras.

A ênfase é fortalecer o desenvolvimento social, econômico e cultural das comunidades tradicionais, mostrando como vivem e se renovam os povos das localidades praianas de 24 municípios do Ceará, abrangendo também as serras e os sertões.

Difusão

Consultor do Sesc e um dos idealizadores do projeto, Paulo Leitão afirma que, após uma década de evento, a avaliação da organização é de que o encontro contribuiu para a difusão e visibilidade de práticas e conhecimentos ancestrais realizados no Estado, reforçando vínculos de uma maneira que empodera.

Legenda: Websérie "Dicumê" apresenta pratos típicos das 24 comunidades praianas cearenses participantes do evento
Foto: Divulgação

“Nesses 10 anos, durante uma semana a cada edição, as comunidades se encontraram, trocando experiências por meio de oficinas, minicursos e rodas de conversa. Foram tecidas, assim, muitas redes sociais – de integração, multifacetadas, com diversas maneiras de compartilhamento”, dimensiona.

A emergência da pandemia fez o Sesc otimizar reuniões a fim de desenvolver novas linguagens comunicativas para manter a visibilidade das comunidades, valorizando-as. Assim, foi criada uma programação híbrida, na qual a instituição organizou uma caravana com funcionários por todos os municípios do litoral cearense, construindo uma websérie em seis capítulos. A intenção é apresentar, via audiovisual, todos os territórios que compõem os nossos 573 km de costa.

“Cada vez mais a gente tem uma imagética, um conjunto de imagens que falam. Nós, do Sesc, valorizamos processos de oralidade e precisamos estar nos atualizando para fazer com que essas dinâmicas continuem fortalecidas. Aprendemos com as comunidades, trocamos saberes e é isso que nos move a continuar esse trabalho de multilinguagens”, destaca, mencionando ainda que, entre os outros conteúdos à disposição da audiência, estarão momentos filmados na cozinha do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e lives transmitidas diretamente de barcos no Rio Ceará.

Legenda: Costumes e práticas dos povos indígenas também ganham espaço na iniciativa, disseminando saberes
Foto: Divulgação

Segundo ele, o instante é de intensa festa, mas igualmente de reflexão e criticidade, haja vista a necessidade de educação social para tecer olhares de maior cuidado e preservação das culturas ligadas às tradições populares. Em suma, revigorar as identidades por meio das manifestações de povos indígenas, movimentos quilombolas e de ciganos, artesãos, pescadores, entre outros povos que identificam o Brasil, o Nordeste e o Ceará.

“Todos os conteúdos que estamos construindo em parceria com as comunidades ficarão na internet, para compartilhamento e socialização. Então, para além do momento de lançamento desse conjunto de ações, sabemos que isso pode ter inúmeros desdobramentos depois. A gente espera, portanto, que venham mais 10 anos para que possamos colher ainda mais frutos”, conclui.

Engajamento

Outro artista visual participante da exposição “AquaVelas”, Júlio Silveira traz um tom de denúncia à vela que confeccionou para a mostra a céu aberto. O trabalho reflete sobre a urbanização feita de maneira irregular em territórios próximos ao mar, às lagoas e aos rios.

São espaços sagrados, os quais temos que ter mais cuidado para não estar construindo. Minha maior preocupação com a questão da arte é que ela sirva também como veículo de denúncia”, sublinha.

Legenda: O artista visual Júlio Silveira traz um tom de denúncia à vela que confeccionou para a exposição flutuante que abre o evento
Foto: Jr. Panela

Feito Vando Farias, ele igualmente participa do Encontro Povos do Mar desde as primeiras edições e avalia que o evento ganha em alcance ao acontecer totalmente no meio virtual. “Por um lado, perdemos aquele momento dentro da Colônia de Férias do Sesc, encontrando outras pessoas e culturas, vendo de perto tanta coisa bonita; por outro, pessoas do mundo inteiro vão poder ter acesso aos nossos fazeres via internet, olhando o Ceará de uma forma diferente”.

Por fim, Júlio Silveira projeta os passos do projeto em meio a um futuro-presente construído a muitas mãos. “O encontro trouxe uma renovação muito grande para a cultura do nosso povo e eu acho que o resultado nós vamos ver daqui a quatro, cinco anos, com essas localidades fortalecendo ainda mais seus modos de fazer arte, interagir, viver, com criatividade, beleza e a alegria que nosso povo tanto tem”, considera.


Serviço
10º Encontro Sesc Povos do Mar
A partir deste domingo (6) até o dia 11, por meio do canal do YouTube do Sesc Ceará. Programação completa no site oficial do evento

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