Descartes Gadelha e Fausto Nilo recordam da convivência com Sérvulo Esmeraldo
Ao relembrar o artista, os amigos destacam o prazer de ensinar e a intelectualidade que lhe eram características
Um viciado em ensinar. É assim que o artista plástico Descartes Gadelha traduz o amigo Sérvulo Esmeraldo. "Ele tinha prazer em transmitir conhecimento", resume, dizendo que se considera "privilegiado" por ter construído amizade com o autor que admira. "Sérvulo continua sendo um amigo de todos nós e um grande contribuidor para a nossa arte concreta abstrata", descreve Descartes ao considerar o artista como imortal.
Ao descrever o amigo, Gadelha explica que ele conseguiu romper com o "certo romantismo bucólico" da arte no Ceará. "O Sérvulo se contaminou, no bom sentido, com a ideia do movimento concretista, com essa intelectualidade artística, e trouxe para o Ceará. Ele inaugurou essa forma de arte pensada, medida, matematizada", comenta. Esse é o trunfo do amigo nas artes, acredita.
"A beleza da obra do Sérvulo está justamente nessas soluções que ele encontrava na tridimensionalidade. Ele chegava a criar poemas tridimensionais. Ele pensava a poética através dos cálculos. Ele conseguia criar obras com uma pureza formal sem nenhuma imitação", completa.
O mesmo carinho se traduz nas palavras do arquiteto e compositor Fausto Nilo, ao falar de Sérvulo. "Ele foi um desenhista. Foi no desenho que ele se fez durante muito tempo, mas foi na escultura onde obteve resultados de maneira mais sintética, com um trabalho muito equilibrado, com senso estético e boa formação pessoal. Ele era um artista que conhecia os instrumentos básicos", descreve.
Fausto relembra o artista como uma pessoa que tinha a "capacidade de fazer intervenções geniais", como as inscrições que deixou no memorial de Antônio Conselheiro, em Quixeramobim - obra concebida pelo arquiteto cearense.
Em algum momento, as obras dos dois se cruzam. A mais célebre talvez seja a concepção da obra "La Femme Bateau", que o escultor apresentou para Fausto, responsável por estruturar a reforma da Ponte dos Ingleses, onde a obra se instalou.
"Sérvulo mais do que artista, do ponto de vista pessoal, foi uma pessoa maravilhosa, de conversa inteligente. Me impressionei com ele desde quando nos conhecemos", resume.