Cumbuco, o paraíso litorâneo cearense que reúne todos os sabores do mundo
Localizada em Caucaia, praia reserva apetitosa experiência a quem deseja apreciar comida brasileira, argentina, coreana e europeia, tudo em um só lugar e com a leveza do oceano
É como entrar em um portal. A 28 quilômetros de Fortaleza, Cumbuco, no Litoral Oeste, revela-se imperdível. O clima de vila impera na praia, remetendo a um tempo em que a correria passa longe. Basta a noite chegar para outra riqueza ganhar força: a variedade gastronômica do paraíso. Tem comida para todos os apetites e culturas. É preciso conhecer.
Esta é a segunda reportagem da série Ceará, Rotas de Amar, que percorre diferentes lugares do Estado, destacando a importância do turismo que se baseia nas riquezas do oceano.O especial multimídia integra o projeto "Praia é Vida", promovido pelo Sistema Verdes Mares, com foco na valorização e sustentabilidade desse meio indispensável para a vida.
De pratos brasileiros a argentinos, passando pela culinária coreana, europeia e de rua, tudo em Cumbuco se concentra num só espaço. A praça central e adjacências são repletas de pequenos e grandes restaurantes, além de trailers e comerciantes que armam a barraquinha no meio da calçada mesmo. O que importa é garantir o sustento e o consumo. E que consumo!
São delícias provenientes tanto do trabalho de nativos quanto de pessoas que escolheram o território como novo lar. O primeiro caso remete, por exemplo, ao de Rodrigo Rosa dos Santos, 46. Nascido e criado na localidade, o pescador faz chegar nas casas de comércio alimentício insumos fresquinhos e suculentos. “Compram peixe, camarão e lagosta”, diz.
“Acordo às três da madrugada para ir pro mar. Cerca de 16h, chego com a embarcação. Gosto de morar aqui, não pretendo sair nunca. Envelhecer e morrer aqui. Tenho família, esposa e dois filhos. Cumbuco é pequeno, todo mundo se conhece, inclusive o pessoal que veio de fora pra morar. Minha comida favorita, claro, é peixe”.
Frutos do mar, por sinal, são o carro-chefe de um dos restaurantes mais sofisticados do lugar. O La Sala abriu as portas em novembro de 2018 com o objetivo de proporcionar à clientela uma experiência particular quando o assunto é alimentação. A comida internacional dá o tom do cardápio, farto em combinações pra lá de saborosas.
Após a entrada – Filé Mignon com Molho Gorgonzola – experimentamos o prato Frutos do mar com adicional de lagostas. Camarão, lula, polvo e as mencionadas lagostas chegam em aparência belíssima, num mix atraente. Cada insumo é grelhado e, ao término, acompanhado de legumes salteados e arroz. Quem detalha mais aspectos é o chef Matheus Viana.
“Esse é um prato que sai muito, principalmente na estação da lagosta”, destaca. “Outros que são bastante procurados são Polvo cozido no vinho – tanto como entrada como principal – Bife Ancho e Spaghetti Tailandês”. Não à toa, o grande mapa-múndi em madeira presente na decoração da casa: simboliza que generosa fatia do paladar do globo está concentrada lá.
Aproveite e também consulte a cartela de drinks. Suco feito com manga, maracujá e manjericão, limonada especial e soda de frutas vermelhas são excelentes pedidas. Na ocasião de nossa visita, fomos apresentados à nova aposta em bebida feita pelo restaurante. Vale a pena passar por lá para conferir. Ocupar a sala com originalidade e requinte.
Do Bic Mac ao Filé de Atum
O conceito do Muda Cumbuco é bem semelhante. Também prezando pela elegância no modo de servir, o restaurante foi criado pelo chef de cozinha Honza Bednar, natural da República Tcheca, em 2009. Ele veio para passar as férias na praia – sobretudo devido à prática do kitesurf –, se apaixonou pelo local e decidiu criar o empreendimento.
Hoje, a casa é referência quando o assunto é comida para todos os gostos. Tanto no térreo quanto no terraço, o público passeia por opções como Filé de Atum, Pasta Amatriciana, Lê Big Mac, Robalo e Muda Brownie. As iguarias aproximam o paladar de alimentos consumidos em todo o planeta, com toque genuinamente cearense.
O Filé de Atum dá protagonismo ao cliente. É a própria pessoa quem escolhe o ponto. A delícia é servida muito fresca com folhas de rúcula, tomate seco e creme de alho, camadas de batatas temperadas com mostarda dijon e gratinada com parmesão, além de um molho de alcaparras com alho frito e azeite ao lado. Irresistível.
Por sua vez, a Pasta Amatriciana é feita com pasta fresca artesanal (pappardelle), servida com molho à base de bacon e tomate, bacon crocante e parmesão em cima, com cebolinha. Na sequência, o Lê Big Mac igualmente prima pelo preparo artesanal, do pão à carne, servido com batatas chips crocantes ao lado e um molho de gorgonzola.
Insumos da região não deixam de ganhar espaço no cardápio. O Robalo é cozido no azeite e servido com molho teryaki e castanhas do Pará. Arroz com camarões completam a experiência, que pode finalizar com o Muda Brownie. A sobremesa, totalmente artesanal, é servida com sorvete com castanhas e calda de chocolate quente ao lado.
Carnes, pizzas, saladas e sabores entre terra e mar também não faltam por lá. Soma-se a isso o aconchegante espaço do Muda, e o combo está montado: passar pela casa é um passo a mais em direção a sabores com chances de entrar no rol de nossa preferência. Para relembrar um gosto ou inaugurar outro. Importante é o bem-estar do comer.
Entre a Argentina e o Nordeste
Nesse movimento, outra recomendação é o La Juanita. Mais acessível que as outras casas – embora com igual qualidade – o negócio nasceu em plena pandemia de Covid-19, no ano de 2020. À frente, estão Gaston e Michele Zunino. O casal enxergou nas tradicionais empanadas do vizinho sul-americano um modo de prover novidades gastronômicas no Cumbuco.
A designer de moda carioca e o designer gráfico argentino se conheceram em Buenos Aires, mudando-se para o Rio de Janeiro anos depois. Certa vez, após passar férias no Cumbuco, encantaram-se com o lugar e não quiseram mais voltar. O La Juanita surgiu como forma saborosa de recuperar as finanças perdidas em período pandêmico.
“Gaston resolveu fazer uma homenagem à avó dele, dona Juanita, ao colocar o nome do empreendimento assim. Com a ideia na cabeça, partimos para a ação”. A própria Michele aprendeu a cozinhar a delícia, com orientação do chef argentino Damian Gabriel Esteiro. Ele foi o responsável pela adaptação das receitas da dona Juanita.
No total, são 16 sabores de empanadas, dos mais variados. Carne, Frango, Presunto e Queijo, Calabresa e Atum abrem a dianteira como as mais clássicas. A criatividade fica por conta sobretudo de opções como Caprese, Carne Suína, Espinafre, Banana, Camarão, Romeu e Julieta, Cebola e Queijo e Nordestina.
Esta última foi uma das que provamos. É feita num processo bastante lento, com muito tempero. Depois de pronta, coloca-se um pouco de manteiga da terra – apurando o gosto de Nordeste –, recheia-se com mussarela e inclui crocante de queijo coalho por cima. Fica um capricho, profundamente cremosa e leve. Sensacional.
Já a Caprese leva mussarela, tomate seco e molho pesto (confecção própria dos dois) e uma folha de manjericão. A empanada de Frango Cremoso também é um apuro, feita de mussarela com frango desfiado e azeitona. O acompanhamento é com chimichurri. Interessante notar que o formato de cada empanada muda de acordo com o sabor.
“Mesmo brincando com os sabores, temos muito respeito com a cultura original das empanadas. Para mim, que cozinho, essa sempre foi uma responsabilidade: replicar ou chegar muito perto do que é a comida argentina”, diz Michele. O aperitivo deve chegar a Fortaleza e outras praças muito em breve, expandindo o que no Cumbuco apaixona nativos e turistas.
Os sabores do mundo cabem aqui
E assim a praia consolida não apenas um, mas vários paladares numa praça só. Churrasquinhos, docerias, burguerias, isopores com comida coreana, cafés, barraquinhas de crepe e de venda de castanha dividem espaço com uma população disposta: é sempre tempo de sair do mergulho do mar para embarcar em outro. Mergulho de sensações.
Toby Braeuer que o diga. Aos 51 anos, o alemão é visto na beira do oceano colhendo pedras para enfeitar o jardim. É kitesurfista conhecido mundialmente, e escolheu o Cumbuco como morada desde 2006. Por residir a alguns metros da praia, aproveita a efervescência da comunidade para se conectar com a comida da terra natal.
“Meu restaurante favorito daqui é o Exil, com gastronomia alemã”, revela. Fomos conferir: na cartela de refeições da empreitada, Sopa do dia (Tagessuppe), Salada Mista (Gemischter Salat), Hambúrguer, Filé Strogonoff e Camarões Exóticos (Krabben Exotika). Já imaginou? Não falta para ninguém.
Mais à frente dali, é hora também de sobremesa. Localizada abaixo do restaurante Muda, a Sorveteria Dorinha não para de receber gente. Eminentemente local, foi fundado há cinco anos por uma nativa da região e apresenta 24 opções de sabor na vitrine – incluindo delícias de outros países, como é o caso da Holanda.
Iogurte com castanha, Whisky com pimenta, Sorbetto de Manga, Leite Ninho com Nutella e Delícia de Abacaxi fazem a festa dos clientes. Todas as produções são artesanais. “Além da sorveteria, temos um braço no açaí e outro no milkshake. Em breve, a ideia é abrir uma loja apenas contemplando esta última sobremesa”, adianta Dorinha.
É noite, e o som das bandeirinhas de São João no céu se mistura com o ruído manso vindo do cais. Cumbuco sedia risadas, conversas, gente chegando para ocupar espaços. Quando for, observe: o pôr do sol à beira-mar anuncia experiências em boca, olhos e cheiros. Corpo todo preparado para se alimentar de tudo. O mundo cabe numa rua.
Na próxima reportagem do especial Praia é Vida, você conhece o costume tipicamente cearense da "Quinta do Caranguejo", que surge na Praia do Futuro e se espalhou por Fortaleza.