Com sal, leite condensado, páprica picante ou lemon pepper. Apresentada da forma mais tradicional ou da mais ousada possível. Não importa: a manga é sempre suculenta no Mango Mix.
O quiosque, localizado no Shopping Eusébio, Região Metropolitana de Fortaleza, tem feito sucesso ao aliar uma das delícias do paladar cearense à inovação no preparo e no servir.
Saladas de manga são o carro-chefe do estabelecimento, cujo alcance está cada vez maior após viralizar nas redes sociais. Rende até fila.
“Desde que a gente começou a vender o prato, a aceitação do público foi imediata. A galera viu que era uma opção saudável no shopping center – tanto para veganos e vegetarianos quanto para intolerantes à lactose e a glúten”.
O relato é de Pedro Gonçalves Neto, fundador do negócio junto aos pais, Raquel Correia e Sérgio Gonçalves. Segundo ele, um dos pulos do gato do Mango Mix é que a clientela não precisa se lambuzar nem se sujar inteira para se conectar à memória afetiva de comer manga com sal. É tudo muito mais rápido e fácil.
Outra vantagem – e esta se confunde com a originalidade do empreendimento – está no modo de servir o quitute. Cada manga passa por uma máquina que corta a fruta em tirinhas, como se fosse um espaguete. Aparentemente muito diferente do habitual, a ousadia logo se tornou sensação e é o item mais cobiçado do quiosque. “Quem compra uma vez, volta”.
O preparo da salada de manga temperada também é interessante. Primeiro, Pedro descasca a fruta e a coloca na já citada máquina de tirinhas. A sobra, então, é cortada em pedacinhos para compor a montagem da delícia, servida em um copo de 500 ml. Prático, o processo faz com que a espera na fila não seja grande e abre espaço para a exploração de todo o cardápio.
Na seção das saladas, por exemplo, primeiro você escolhe o tipo de manga – manga de vez, madura ou verde; depois, parte para os temperos. Tem de tudo: sal, lemon pepper, páprica picante, pimenta preta, leite condensado, molho picante, vinagre, molho shoyu, mel e molho agridoce.
“É algo que não pesa na dieta, além de ser um alimento muito bom e viciante. É o que as pessoas mais falam quando veem nossos vídeos na internet: quando estamos preparando, dá muita água na boca. E a mesma coisa é pra quem está passando pelo quiosque e lembra do sabor. Um negócio totalmente saudável e que todo mundo quer mais”.
Sucos, vitaminas, smoothies, sanduíche natural e pó de guaraná completam o menu.
Como tudo começou
A novidade em solo cearense nasceu em terras distantes. Pedro viajou aos Estados Unidos para estudar e jogar futebol pela ASA College em Miami, na Flórida. À época, precisava fazer uma grana extra, o que o fez trabalhar inclusive no ramo da construção civil. Mas visava outro serviço, algo que não sugasse tanta energia.
A saída foi um quiosque colombiano, no qual atuou durante dois anos – dedicando mais da metade desse tempo como gerente. O lugar vendia exatamente salada de manga temperada, e o rapaz aprendeu toda a metodologia do preparo. Ao voltar de férias para o Brasil, fazia degustação para a família e recebia aprovação geral – verdadeiro termômetro para o que viria.
Uma conversa com a própria mãe mudou tudo. Outrora gamer em jogos virtuais durante a pandemia de Covid-19, Pedro decidiu abrir o negócio em novembro de 2023 valendo-se da experiência em terras americanas e do próprio jeito aguerrido da matriarca. Por residir no Eusébio, foi fácil lançar o empreendimento no principal shopping do município.
“Somos pioneiros no país, é uma maneira diferente de vender. A manga no Brasil já é muito popular, tendo em vista que as pessoas comem com sal, pimenta ou vinagre. Mas aqui nunca se comercializou assim, diferentemente de outros países, como Colômbia, Venezuela, Honduras e Nicarágua, em que, na porta dos colégios, vendem manga temperada”.
Outro detalhe importante que o empreendedor cultiva é a seleção cuidadosa das mangas. Diariamente um fornecedor se dirige ao quiosque para deixar as frutas e movimentar o negócio. Para que tudo esteja funcionando sem erros, Pedro e mais quatro colaboradores fazem a contagem dos materiais, articulam novos pedidos e deixam tudo prontinho.
“Manga verde com sal, pimenta do reino ou vinagre é algo que o cearense e o nordestino sempre amaram comer. Na América do Sul e na América Central, há outros jeitos próprios de consumo. No México também. Em alguns se come muito picante; em outros, inclui-se até tempero de carne. A gente juntou um pouquinho de cada país e montamos o Mango Mix”.
História e caminhos da manga
Citar o Ceará e o Nordeste como celeiros da manga não é exagero. A fruta está bastante presente no cotidiano da região – sobretudo “in natura” nos períodos de outubro a março, quando a colheita é farta. Na terrinha, ela vem do Maciço de Baturité e do Litoral Leste. Pernambuco e Bahia também se destacam na produção.
“Apesar de a fruta ser de origem asiática – principalmente da Índia – se adaptou muito bem aos países de clima tropical”, explica o chef, professor e consultor gastronômico Luiz de França.
No Ceará, de acordo com ele, a época de colheita da manga acontece de outubro até, no máximo, o mês de março. O plantio também ocorre nesse mesmo intervalo de tempo.
Porém, deve-se considerar o período de crescimento, floração e colheita. As etapas, se bem desenvolvidas, aquecem o comércio em torno da fruta, fazendo com que os preços fiquem bastante acessíveis, facilitando o alto consumo.
“A manga é bem versátil, podendo ser utilizada para fazer sucos, polpas, geléias, compotas, sobremesas e lanches”, enumera.
Nesta última parte, cita exatamente a manga com sal e pimenta. E complementa, incluindo ainda opções diferenciadas: pode ser utilizada como complemento de pratos quentes – típico da cultura asiática – além de em ceviches, pudins, saladas e tartares. “Funciona super bem com frutos do mar e leite de coco também”.
Docente da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco, da Unifametro e da Pós-Graduação da Universidade de Fortaleza, Luiz de França diz que o cearense gosta mesmo é de consumir de todo jeito – seja como sobremesa, cortando os pedaços (geralmente a rosa) ou chupando a Itamaracá numa calçada, cena bastante comum.
Para o estudioso, isso demonstra que esse de comer é bastante enraizado em nossos hábitos alimentares – além, claro, da preferência pelo sabor único da amarelinha. “É uma fruta cheia de vitaminas, A, C e B, fonte de oxidantes e que ajuda na digestão, combate a acidez e, se consumida pela manhã, evita doenças do estômago”.
Evoluir o empreendimento
Diante dos benefícios, o chef celebra as diferentes experiências envolvendo a fruta e torce para que elas se multipliquem.
“Ultimamente, com a fusão das gastronomias no mundo todo, vem-se observando a utilização de forma criativa e saborosa nos mais diversos pratos, sejam eles doces ou salgados. Essas influências de fora são de países como Tailândia, Índia e Vietnã, que a utilizam de vários modos possíveis”.
O Mango Mix, assim, está no rastro certo. Pedro Gonçalves revela existir 300 pedidos de franquia de todo o Brasil – todos ansiosos para abrir o empreendimento em outras praças. Contudo, quer ir com calma. “Estamos organizando tudo, vendo as melhores oportunidades, pra fazer a formatação de franquia e, assim, torná-la uma realidade”.
Até lá, o jovem de 26 anos – que nunca cursou Gastronomia e, desde pequeno, se lambuzava com manga entre os joelhos – quer levar a experiência para Fortaleza e, então, expandir para todo o país. De uma coisa tem certeza: vai dar muito certo. “Será uma marca nacional, de Norte a Sul do Brasil. Já é realidade, é só questão de tempo”.