Além de Iracema, Beira Mar tem esculturas de touro, dinossauro e São Francisco feitas de sucata

Obras assinadas pelo artista cearense Edismar Arruda compõem paisagem da Praia de Iracema e chamam atenção de quem passa

Escrito por
João Gabriel Tréz joao.gabriel@svm.com.br
Escultor cearense Edismar Arruda é o artista responsável por obras que têm chamado atenção de quem passa pela Beira Mar
Legenda: Escultor cearense Edismar Arruda é o artista responsável por obras que têm chamado atenção de quem passa pela Beira Mar
Foto: Kid Junior

Quem passa pela avenida Beira Mar, na altura do Aterro da Praia de Iracema, vem tendo a atenção conquistada para além da conhecida estátua de Iracema Guardiã: no local, é possível encontrar figuras, feitas com peças de metal reaproveitadas, que vão de um touro a uma imagem de mais de 3 metros de altura que representa São Francisco de Assis.

As obras são assinadas pelo artista cearense Edismar Arruda, nascido em Jaguaribara. Responsável pela fabricação de mais de 300 obras que reutilizam metais diversos, o escultor celebra a repercussão do lançamento da mais recente, a do santo católico.

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“Para chegar no São Francisco, tenho que contar um pouco do meu início”, inicia o cearense em entrevista ao Verso. Relembrando a Jaguaribara de nascença, Edismar partilha que, na infância, construía os próprios brinquedos.

“Minha família não tinha tantas condições, então foi aí que eu criei essa habilidade de construção, de fazer esculturas. Com o dom, e também com a dificuldade, eu aprendi”, atesta.

Já mais crescido, trabalhando em uma oficina, migrou da construção de brinquedos na infância para a produção de peças com sucata. “Nos intervalos, eu pegava a máquina de solda e emendava parafusos, brincava, fazia carrinhos, motos, só por hobby mesmo”, explica.

Edismar, então, foi “tomando gosto” e passou a produzir mais peças, sempre de metais diversos. “Todo aquele metal que foi utilizado de alguma forma e não serve mais, eu colho, recebo doação, trago para casa”, explica

“80% é de peças automotivas, mas tem pá, enxada, colher, garrafas, parafuso, porcas, qualquer tipo de metal que esteja no lixo ou que não sirva mais eu transformo em obra de arte”
Edismar Arruda
artista

O cearense passou a buscar expor as obras produzidas, tanto participando de feiras da Central de Artesanato do Ceará (CeArt), quanto vendendo na rua. Assim, passou a chamar a atenção do público.

“Foi  uma trajetória difícil, eu vinha do interior vender (obras) no chão ali na Beira Mar, ficava tentando, mas tudo com muita dificuldade”, lembra. Em uma feira da CeArt, porém, conseguiu vender um jacaré para um cliente que passou a encomendar diversos outros animais.

O touro em exposição no local foi uma das primeiras obras encomendadas a Edismar pelo empresário Deusmar Queirós
Legenda: O touro em exposição no local foi uma das primeiras obras encomendadas a Edismar pelo empresário Deusmar Queirós
Foto: Kid Junior

“Ele veio me encomendando um bode, um cavalo, um touro…”, elenca o artista, que foi desafiado, então, a realizar três esculturas de grande porte: uma girafa, um elefante e um leão. Cumprido o desafio, as obras viralizaram nas redes sociais e chegaram ao empresário Deusmar Queirós.

“Ele me encomendou uma primeira obra, um touro que está lá na Praia de Iracema”, contextualiza. O local, próximo a uma das farmácias da rede do empresário, passou a receber outras peças sob encomenda feitas pelo artista — de jumento a velociraptor.

Desafios de produção da escultura de São Francisco de Assis incluíram o tamanho da obra e a representação humana
Legenda: Desafios de produção da escultura de São Francisco de Assis incluíram o tamanho da obra e a representação humana
Foto: Kid Junior

A mais recente delas é a de São Francisco de Assis, que soma 3,2 metros de altura e pesa,  segundo estimativa aproximada de Edismar, 800 quilos. Segundo o artista, a imagem marca um desafio inédito na carreira dele, reconhecida pelas obras de animais.

“A maior dificuldade do São Francisco foi no rosto, na anatomia humana. Sou especialista em animais, então aceitei esse desafio e tive que fazer alguns estudos, comecei a pesquisar sobre a anatomia humana e gostei do resultado”, orgulha-se.

Outro desafio do processo, reconhece Edismar, foi a construção de uma escultura tão grande em um espaço que não comportava a altura. “Tive que fazer em várias partes, não fiz inteira”, explica.

O momento de destaque chega, então, como uma espécie de confirmação de carreira para Edismar. “Desde 2016 que trabalho com escultura, mas trabalhava de empregado, depois montei uma metalúrgica fazendo grade, portão, mas sempre participando de feiras”, contextualiza.

“Hoje, tenho peças expostas em outros estados, além da Praia de Iracema tem no Porto das Dunas, muitas obras de arte já espalhadas pelo Brasil”, celebra. “As esculturas eram só um complemento, só um dinheirinho a mais que, se eu vendesse ali, eu tinha esse lucro, mas hoje eu vivo da arte”, atesta.

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