Transposição deve impulsionar novas culturas agrícolas no Estado, aponta Luiz Roberto Barcelos
Diálogo Econômico: empresário e diretor institucional da Abrafrutas ressalta que a segurança hídrica garantida pela chegada das águas do Rio São Francisco ao Ceará vai estimular desenvolvimento do agronegócio na região
A histórica batalha contra a estiagem no Ceará não impediu um grande desenvolvimento do agronegócio no Estado nos últimos anos. E esse potencial - que inclui boas condições de solo e infraestrutura - deve atrair ainda mais investidores a partir da transposição de águas do Rio São Francisco.
Embora ainda direcionadas ao consumo humano, a expectativa é que em breve as águas também beneficiem a agricultura, destaca o sócio da Agrícola Famosa e diretor institucional da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Luiz Roberto Barcelos.
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Com isso, a pauta agrícola cearense deve ser ampliada e diversificada. Entrevistado desta semana do Diálogo Econômico, Barcelos ainda pontua que o setor, mesmo com a pandemia, não teve dificuldades de produção e comercialização, incluindo exportações.
De fato, além de registrar a maior safra de grãos desde 2011, com 794,5 mil toneladas, o Ceará também produziu mais de um milhão de toneladas de frutas frescas no ano passado, um crescimento de 17,55% frente a 2019.
Entre as frutas, seis produtos representam 84% da produção local: banana de sequeiro e banana, maracujá, mamão, melão e melancia irrigados. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No ano passado, foram exportadas 121,8 mil toneladas de frutas pelo Estado, 3,83% a mais que em 2019, vendas que chegaram a US$ 153,5 milhões, segundo dados do Ministério da Economia.
Localizada em Icapuí, a Agrícola Famosa é a maior produtora de melão do País e possui cerca de 3 mil hectares destinados ao cultivo de melões e melancias. A produção é voltada principalmente à exportação - para aumentar a participação no mercado interno, Barcelos aponta ser necessário superar alguns obstáculos
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Confira a entrevista completa:
Como o agronegócio tem se desenvolvido no Ceará nos últimos anos?
O agronegócio tem se desenvolvido no Brasil todo e o Ceará não é exceção. A gente tem crescido e você vê que ano passado, dos setores, o agronegócio foi o único que cresceu e cresceu acima de 10%, ou seja, um crescimento chinês no agronegócio do Ceará.
Ele vem dando sinais positivos de que é um setor que está se modernizando, se atualizando, para cumprir o seu papel no desenvolvimento do Estado, crescendo ano a ano. Então, isso é muito positivo.
Dentro do agro, a gente representa a fruticultura, que é um setor que é um privilégio que o Estado tem, pelas condições climáticas e geográficas dele favorecerem essa agricultura, principalmente ela voltada à exportação, e aí principalmente melão e melancia.
Por que isso? Porque a gente tem um sistema de irrigação altamente eficiente, com gotejamento, uma tecnologia israelense, na qual você consegue jogar todos os nutrientes que a planta precisa gotejando na raiz, então, não tem desperdício nenhum, é de uma eficiência altíssima.
Esse tipo de cultura se dá muito bem em lugar seco, ou seja, chuva atrapalha, traz muita doença, bactérias, fungos. Você tem problemas para ter uma boa qualidade da fruta quando chove. Então, como chove pouco, isso funciona bem para a fruticultura.
É diferente do caso do sequeiro, que depende muito do regime de chuvas de cada ano. Se chove bem, vai produzir mais, se chove menos, produz menos, mas tem sido muito positivo.
E o que tem a gente tem notado ultimamente, que tem ajudado muito também no agronegócio, é que nesse momento de chuva, quando o melão e a melancia praticamente param de ser produzidos, está existindo uma produção de grãos, de sorgo, de forrageira, que no final vai alimentar o gado do Estado. Então, está tendo aí uma simbiose, uma parceria.
Essas terras que ficavam paradas no passado, agora estão sendo utilizadas na época da chuva para a produção de alimentos para o gado e principalmente para o pessoal que explora o leite. A gente tem notado esse crescimento que tem ajudado bastante.
A fruticultura está aumentando, as exportações têm crescido. O Porto de Pecém é o porto que mais exporta frutas do Brasil, inclusive recebemos frutas de outros estados. A infraestrutura do Estado é boa nessa questão de exportação. Então, tem crescido, tem aumentado bastante.
A principal dificuldade ainda é a questão hídrica? A chegada da Transposição do Rio São Francisco deve mudar esse cenário?
Um dos grandes gargalos é realmente a segurança hídrica. A gente não tem um lençol subterrâneo, a maioria usa poços, que são recompostos na época da chuva. E
ntão, quando a chuva é pouca, essa recomposição não vem adequadamente, a qualidade da água fica baixa, porque o volume fica baixo. E a transposição é uma forma da gente conseguir essa segurança.
Agora, ainda está chegando algo muito pequeno e a estrutura que está montada não é ainda para usar para irrigação. É mais para consumo humano e de animais.
Mas, sem dúvida nenhuma, uma vez concluída a obra, a gente poderá aumentar esse volume de água e aí, então, começar também a utilizar ela para fruticultura, outros produtos e produção agrícolas.Isso, realmente, vai dar um crescimento ainda maior.
Com essa segurança hídrica, com certeza, outros tipos de frutas, outros tipos de plantações poderão ser desenvolvidos aqui no estado.
Outro gargalo que a gente tem é que nós temos uma legislação recente do Ceará que proíbe a pulverização aérea. Não melão e melancia, mas tem algumas frutas e atividades agrícolas que utilizam essa tecnologia de pulverizar. Então, isso limita. Tendo essa proibição, não uma regulamentação, limita alguns setores agrícolas do Estado.
A justificativa é que ela seria prejudicial para a população sem nenhum comprovação científica. De todos os estados do Brasil o único que tem (a proibição) é o Ceará. Quando, na verdade, se tem uma situação de aplicação do defensivo que expõe muito mais as pessoas do que o avião.
O avião é todo fechado, você tem uma eficiência na aplicação muito maior. Quando você olha, por exemplo, aquela bomba que a pessoa coloca nas costas e fica pulverizando, aquilo traz muito mais risco, é muito mais prejudicial.
Então, a gente defende que tem que ser regulamentado. Você tem que olhar onde tem nascente, onde tem água, onde tem pessoas morando, quando tiver um vento acima de tantos quilômetros por hora. Regulamenta de forma que dê segurança, mas a proibição não é o melhor caminho, porque você acaba prejudicando a produção agrícola em si.
No fim, parece que é uma questão ideológica que quer prejudicar o desenvolvimento do agro, quando na verdade a gente tem que cuidar é para não prejudicar das pessoas.
E essa tecnologia se usa no mundo inteiro, se ela não for regulamentada, ela pode prejudicar sim, mas se ela for regulamentada, ela não prejudica. Hoje está assim, sem regulamentação, você não pode nem utilizar. Então, isso é ruim.
Tem alguma cultura que chega a ficar inviabilizada sem o uso dessa técnica?
Algumas sim. A banana, por exemplo, porque como as folhas ficam lá em cima, você não tem como pulverizar. Imagina uma pessoa pulverizando de baixo da cima, a pessoa que está lá embaixo toma um banho de defensivo, isso sim faz mal.
O avião, não, é muito mais seguro. A banana fica inviabilizada sim, muitas empresas que tinham banana aqui estão se mudando, porque não conseguem produzir.
Ainda sobre a Transposição, já se sabe como será a distribuição dessa água e qual o custo dela?
O custo já está acertado. Existe um valor por custo da energia do bombeamento que já está estabelecido. Ele tem um sistema de desconto nos primeiros anos bastante grande, de 95% no primeiro ano, de 85% no segundo, e vai diminuindo esse desconto até chegar no quinto ano. Mas é um valor ainda muito alto que a gente vai ter que readequar para viabilizar a utilização.
Enquanto prevalecer esse desconto inicial, ainda é viável, mas quando terminar (os descontos), é inviável, é muito caro. Então, a gente tem que achar um caminho para que esse custo seja reduzido.
A outorga, o volume que está vindo para o Ceará, que é de 10m³ por segundo, é calculado não para produção, mas para matar a sede das pessoas, não tem volume ainda para produção.
Mas isso pode ser alterado. À medida que o Rio São Francisco, que a barragem de Sobradinho tenha volume alto de água, como está agora, isso pode ser aumentado.
O que se tem entendido junto ao Governo é que a estrutura de bombeamento já esteja montada para isso (expansão da outorga). Para que, se precisar aumentar, tenha condições de aumentar.
Então, os canais estão prontos, ou seja, por onde vai passar a água já está ok, é só uma questão estrutural do bombeamento e aumentar a outorga de água para o Ceará na medida que exista essa reserva de água lá na barragem de Sobradinho, que é de onde vem a água do São Francisco.
Qual o impacto concreto dessa água para o setor? Novos produtores podem escolher o Ceará para investimentos com essa segurança?
Para você ter uma noção, todos os distritos de irrigação do Ceará, sem exceção, tiveram restrição de utilização. Ou seja, como a água do Estado ficou muito restrita, quem estava instalado nos distritos de irrigação, fez investimento, montou suas fazendas, teve que paralisar os plantios, porque não tinha água.
Óbvio que isso espanta o investidor, isso não é exemplo positivo. Quem parou, foi embora, o outro não vai vir com uma situação dessa.
Então, à medida que a gente dá essa segurança hídrica, sem dúvida que as condições são muito favoráveis para produzir aqui: clima, solo, proximidade com o porto.
Resolvendo o problema de segurança hídrica, sem dúvida que vai atrair produtores do Brasil inteiro, não só de frutas, mas de outros produtos, até como grãos, hortaliças, forrageira para o gado. Isso realmente pode transformar o Estado.
Como o senhor mencionou, o agronegócio foi o único setor a crescer no Estado no ano passado. Qual foi o impacto da pandemia?
O impacto na questão da produção e comercialização não houve, foi praticamente zero e foi positivo na medida em que a gente produz alimento e, em lockdown ou isolamento social ou não, as pessoas têm que comer.
Principalmente as frutas, que são alimentos saudáveis, que é fonte de vitaminas, sais minerais, e que, portanto, ajudam o sistema imunológico das pessoas. Elas ganharam uma procura significativa.
As pessoas estão em casa, tomam café da manhã em casa de forma mais tranquila, comem uma fruta, deixaram de ter outros gastos e estão se alimentando melhor. O consumo foi bom, a produção também se manteve, então o impacto foi pequeno.
Tivemos alguns investimentos a fazer para a proteção das pessoas, dos colaboradores que estão na linha de frente. Tivemos que colocar mais ônibus para o transporte dos funcionários, mais distanciamento, mais espaçamento nos refeitórios e dormitórios, comprar máscara, álcool em gel.
Essas foram as mudanças que as fazendas tiveram que fazer. Mas em termos de demanda do nosso produto, ela continua bem e a produção foi boa também.
O escoamento da maior parte da nossa produção, que é voltada para exportação, é feita via marítima. Então, a gente tem uma boa estrutura portuária aqui, com o Porto do Mucuripe e, principalmente, com o Porto do Pecém, que é bem estruturado, com boas linhas de navegação que atendem aqui e vai rapidamente para a Europa. Então, funcionou muito bem.
Algumas frutas como manga, uva, que precisa utilizar o modal aéreo para escoar a produção sofreram mais, porque, muitas vezes, utilizam o porão dos aviões de passageiros, que teve seu fluxo interrompido. Então, teve escassez de frete e aí não conseguiram escoar e subiu muito o preço pelos aviões estarem transportando medicamentos.
Para nós que utilizamos o modal marítimo, não tivemos problema para escoar, mas quem usa o aéreo teve algum problema. O fluxo de carretas também funcionou normalmente.
No início da pandemia, havia uma incerteza em como as exportações iriam se comportar. Como foi o planejamento naquele momento?
No ano passado, quando começou a pandemia, a gente estava bastante preocupado em como seria o consumo, mas no fim passou, o volume que a gente produziu foi todo colocado, não tivemos nenhum problema de venda. Isso acabou sendo até uma surpresa positiva para o setor.
Esse ano, nós estamos já começando a preparar a próxima safra. Nós temos duas preocupações enormes que está na nossa atenção que é a falta de insumo, como madeira, embalagem, material plástico.
Além de aumentar o preço, os fornecedores não estão garantindo que vão ter material para entregar no momento certo. Então, a gente está tendo que preparar um estoque um pouco maior, isso acaba afetando o capital de giro da empresa.
O segundo ponto é o próprio preço do frete, que está aumentando. Os contêineres estão indo muito para a China, então tem uma falta de contêiner. Nós estamos tendo um aumento considerável do frete marítimo, o que acaba aumentando o preço do melão no final e, por consequência, pode reduzir o consumo.
Então, esse é ponto de atenção que nós temos para a próxima safra. Esperamos que ele não prejudique tanto a produção, que deve ser começar a ser plantada no próximo mês.
A expectativa, então, é de crescimento esse ano? Quais foram os resultados de 2020?
A nossa meta é repetir os números do ano passado. Esse primeiro semestre está demonstrando estar positivo, então a gente deve fazer um volume igual ao do ano passado, no mínimo.
Em volume exportado, a gente fala normalmente em número de contêineres. O setor em geral exportou algo em torno de 15 mil contêineres de melão e melancia.
São quase 20 toneladas por contêiner, dá umas 300 mil toneladas de exportação geral. O Ceará foi responsável por 70% disso, então umas 200 mil toneladas mais ou menos saíram por aqui.
Estamos vendo uma alta considerável das commodities. A fruticultura se beneficia de alguma forma dessa elevação?
A gente não é diretamente uma commodity, a fruta fresca não é diretamente, então ela não tem esse benefício direto. Pelo contrário, às vezes acaba até aumentando as exportações e os navios ficam mais cheios, embora algumas logísticas não sejam as mesmas.
Mas a gente está sendo muito mais beneficiado, por esse quadro geral, pela desvalorização do real, pela valorização do dólar e do euro. Isso tem nos ajudado até mais do que, por exemplo, a alta das commodities, que acabam até prejudicando um pouquinho.
O mercado interno continua sendo muito menos vantajoso que exportar? O que poderia aumentar essa competitividade?
A fruta chega muito cara nos supermercados. Nós temos a questão das perdas e desperdícios que aumenta o preço e a fruta acaba ficando muito cara. Então, diminuir o desperdício reduziria o valor delas.
Para que isso ocorresse, a gente teria que melhorar estrutura, construir frios, mudar a cultura do consumidor, que quando vê uma pintinha preta já não compra (a fruta) e ela acaba sendo jogada fora, mesmo a qualidade dela se mantendo. Reduzir perdas e desperdícios ajudaria a baixar o custo dela.
O outro ponto é a margem que os supermercados colocam no hortifruti, nas frutas e verduras. A margem que eles colocam é muito alta. Então, o preço que o produtor vende uma caixa de melão com oito unidades eles vendem um melão. Está muito caro, isso acaba retraindo o consumo.
E a própria situação econômica que o País vive hoje. Essa crise econômica faz com que as pessoas tenham menos dinheiro em casa.
Outro ponto é estimular a cultura. Muitas pessoas não comem frutas justamente porque não têm o hábito, não gostam. E acabam com problema de obesidade e outros problemas de saúde que isso traz, como pressão alta e diabetes.
As pessoas se alimentam mal por uma cultura ruim de alimentação que poderia melhorar à medida que campanhas governamentais mostrassem essa vantagem da alimentação saudável. Isso seria muito positivo.
O mercado interno ainda sofre um pouco por conta disso, o consumo ainda está baixo pela falta de hábito e pelo preço mais alto que as frutas chegam.
A Agrícola Famosa teria interesse em dedicar uma parte maior da produção para abastecimento do mercado interno? Ou o foco continua sendo a exportação?
A gente tem interesse. O País tem 200 milhões de habitantes. É um País que tem um consumo muito grande. Lógico que interessa para qualquer produtor. Você ter dois mercados é sempre melhor que ter só um.
Então, você tendo exportação e mercado interno, você pode regular as ofertas. Se um mercado está muito abastecido, você joga para o outro, e assim por diante, assim não precisa ficar baixando o preço.
Então, temos sim interesse em trabalhar com esse mercado, mas algumas condições realmente precisam melhorar para a gente poder explorar melhor.
Temos visto uma automatização dos processos produtivos, como forma de reduzir custos e aumentar a eficiência. Como a mão de obra de encaixa nesse cenário? A tendência é de redução de postos de trabalho?
Aqueles trabalhos muito manuais, que usam pouco o intelecto da pessoa e usam mais a força física, tende a diminuir no mundo inteiro. O que a gente tem defendido é que isso demanda, cada vez mais, capacitação das pessoas. Então, quanto mais capacitada a pessoa tiver, maior será o salário dela.
E, para o empresário, às vezes acham que não, mas quanto maior o salário que a gente paga para a pessoa, significa que mais retorno está trazendo. Então, a gente quer pessoas mais capacitadas mesmo para operar com máquinas, com tecnologia e ter salários melhores.
A gente está vendo mesmo essa diminuição da oferta de mão de obra braçal e aumento de mão de obra mais qualificada. Isso é fato. Então, nós temos que investir muito na qualificação das pessoas para que elas tenham empregos melhores, empregos mais rentáveis.
Essa tendência está aumentando, a gente tem cada vez mais qualificação, o que tem ajudado a ter mecanização dos processos produtivos, dá mais padrão, dá mais qualidade. Isso tem acontecido. Mas tem algumas limitações. As frutas sempre vão ter uma absorção grande de mão de obra.
Diferente dos grãos que faz tudo com máquinas, 100% com máquina, a pessoa não coloca a mão em nada, na fruta não é assim. Você tem vários processos que são feitos manual ainda e vai continuar, porque você não consegue colher um melão maduro e deixar o que ainda não está no ponto com máquina.
Tem vários exemplos assim. A própria embalagem da fruta ainda vai precisar de mão de obra. Mas está acontecendo aos poucos, mesmo com essa limitação.
Nesse setor de frutas em geral, segundo o IBGE, são gerados dois empregos por hectare. O melão e melancia gera 0,9 por hectare, praticamente uma pessoa por hectare diretamente.
A inflação dos alimentos tem disparado nos últimos meses. O preço das frutas tem acompanhado esse ritmo? O que explica a elevação?
Esse ano, o índice da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) indica que está caindo os preços das frutas e legumes. Subiu muito no ano passado.
Quando se fala em alimentos, está muito generalizado. Não é o caso da fruticultura, não tivemos esse aumento todo.
Eu atribuo esse aumento geral dos alimentos a uma série de coisas. À produção de embalagens, ao aumento do custo do óleo diesel, da energia elétrica, são insumos muito utilizados na produção.
Tivemos problemas climáticos em várias regiões do Brasil. Então, produziu-se um pouco menos, aí aumenta o preço. Houve aumento de exportação, então fica menos produto dentro do Brasil.
Mas não é o caso das frutas. De modo geral, elas ficaram estáveis e muitas até diminuíram de preço nos últimos 12 meses.
A Abrafutas ajuda pequenos e médios produtores a começarem a exportar seus produtos. Esse continua sendo o principal trabalho da associação? O que esses produtores precisam fazer para serem bem sucedidos nesse segmento?
Estamos estimulando pequenas empresas a exportar. Temos feito um trabalho junto com a Apex, que é a Agência de Promoção de Exportação, para que a gente consiga aumentar a exportação de frutas, que ainda é muito pouco.
O Brasil exporta menos de 3% do que produz. É o terceiro maior produtor de frutas do mundo, mas é o 24º exportador. Então, tem muito trabalho para ser feito e é isso que a Abrafrutas tem feito.
Com isso, conseguimos capacitar mais a produção, profissionalizar mais e trazer mais divisas para o País, que ajuda na circulação de dinheiro e gera mais emprego e mais impostos.
Primeiro, os produtores têm que criar associações, porque precisa de um pouco de escala, tanto na compra dos insumos como na venda. Esse é o primeiro ponto, criar uma cultura associativista, os pequenos precisam estar mais unidos.
Em segundo lugar, é capacitação mesmo. Viajar, ver outros mercados, ver o que tem lá fora, participar de feiras. Lógico que com a pandemia é mais complicado, mas tudo isso ajuda a abrir a cabeça do produtor e a criar uma cultura exportadora.
A Abrafrutas, junto com a Apex, tem projetos, missões com cursos. Sempre aparece alguma coisa para ajudar a criar essa cultura exportadora.
Já tem muitas empresas que não exportavam nos últimos anos e que começaram a entrar nesse ramo e estão contentes. Produtores de goiaba, de chia, de frutas que nem tinham tanta expressão na exportação e estão começando.