Seguindo as pegadas do governo do Ceará, o vizinho Rio Grande do Norte decidiu desburocratizar a atividade da carcinicultura, que lá, como aqui, cresce na velocidade do frevo. Durante a Feira Nacional do Camarão (Fenacam), realizada nesta semana em Natal, a governador Fátima Bezerra, do mesmo PT do seu colega Elmano de Freitas, governador do Ceará, assinou decreto, criando o Programa de Interiorização da Carcinicultura e estabelecendo que áreas de até 5 hectares de área inundada produtiva “estarão dispensadas do pagamento das taxas de outorgas para uso de água e das taxas de licenças ambientais”.
Tem mais: Foram reduzidos “a zero os valores de taxas, emolumentos e demais custos cobrados pelos órgãos e entidades da administração do Estado”.
Tudo semelhante ao que o Palácio da Abolição, sede do governo do Ceará, estabeleceu, há quase dois anos, para a criação de camarão na geografia cearense.
Como consequência do decreto da governadora Fátima Bezerra, acontecerá no Rio Grande do Norte o que aconteceu – e segue acontecendo – no Ceará: o rápido avanço da carcinicultura, a tal ponto que mais de dois mil agricultores do Vale do Jaguaribe trocaram a enxada do roçado pelo manejo dos seus tanques de criação de camarão.
Detalhe: o retorno do capital investido na carcinicultura é, no mínimo, três vezes maior e mais rápido do que o investido na agricultura de subsistência – informam os carcinicultores.
Tom Prado, CEO da Itaueira, que – além de fazendas de produção de melão, melancia, mel de abelha, pimentões coloridos, uvas sem caroço e suco de frutas na Bahia e no Piauí – produz camarão no Rio Grande do Norte, não tem dúvida de que o Ceará, que já é o maior produtor de camarão do país, não só avançará para ampliar essa produção, mas para consolidar sua posição de liderança nacional.
Por sua vez, Cristiano Maia, maior produtor de camarão do país e presidente da Camarão BR, entidade que reúne os maiores carcinicultores brasileiros, está feliz com a decisão da governadora do Rio Grande do Norte, de quem é amigo.
Na sua opinião, o Nordeste, que responde por 98% da carcinicultura do Brasil, está dando passos importantes para o futuro próximo, “que é promissor”. E é mesmo: o governo do Reino Unido está prestes a autorizar a importação do camarão brasileiro, cujas fazendas nordestinas foram visitadas em setembro passado por técnicos britânicos, que gostaram do que viram.
Já de olhos voltados para a exportação do camarão cearense para o mercado europeu, a Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec) adquiriu um conjunto de drones que serão usados no monitoramento das áreas da carcinicultura, com foco no correto uso da água, conforme sua outorga.
A iniciativa da Faec, apoiada pela Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE), do governo do estado, envolve, ainda, a elaboração de um cadastro geral e pormenorizado dos carcinicultores e de suas respectivas áreas de criação, com as devidas outorgas e com dados sobre a mão de obra empregada.
Uma novidade: Na geografia de Iguatu, no Centro-Sul cearense, os antigos rizicultores (produtores de arroz) estão agora investindo na criação de camarão. Tornaram-se carcinicultores.
Mas a carcinicultura cearense já está advertida para algumas providências que têm de ser tomadas no curto prazo. Por exemplo: a instalação de unidades industriais para o beneficiamento do camarão, principalmente no Vale do Jaguaribe. Em Morada Nova, o que foi tabuleiro de arroz é agora viveiro de camarão.
O empresário cearense Santana Júnior, que produz camarão no vizinho Piauí, pede espaço para mostrar o potencial do camarão no Ceará e no Nordeste, e revela:
“O Equador, um pouco maior que o estado do Ceará, produziu, no ano passado, 1,5 milhão de toneladas de camarão e exportou 98% dessa produção. O Brasil (leia-se o Nordeste) produziu 130 mil toneladas, 100% para o mercado interno. O Equador tem 280 mil hectares produzindo camarão, dos quais 50 mil em tanques de água doce, às margens do rio Guayas. No Nordeste brasileiro, Brasil, temos de 30 a 35 mil hectares e um imenso potencial para crescermos na atividade, com a interiorização. O Ceará já é um exemplo dessa realidade”.