BNB "não empresta por emprestar" e sim para gerar impacto, diz Romildo Rolim; confira entrevista
Diálogo Econômico: Presidente do Banco do Nordeste enaltece papel de fomento do BNB na pandemia, fala sobre respaldo do Governo Federal com sua gestão e destaca a importância de reformas para a economia
Em meio aos efeitos devastadores da pandemia, tem sido crucial para a sobrevivência de empresas, neste momento crítico, o apoio de entidades de fomento. Ano a ano, o Banco do Nordeste vem assinalando resultados robustos quanto à liberação de recursos e, durante esta longa turbulência, precisou alicerçar setores que sofreram amargamente com o encohimento da atividade econômica.
Em entrevista exclusiva, no Diálogo Econômico desta semana, o presidente do BNB, Romildo Rolim, destaca o papel de suporte do Banco na pandemia, principalmente para as micro, pequenas e médias empresas. Ademais, enfatiza as recentes conquistas e assume o compromisso com as metas de financiamento.
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Ele também reitera que goza de total respaldo por parte do Governo Federal. Em junho do ano passado, após intensa movimentação política, Romildo deixou o comando do BNB para dar lugar a Alexandre Borges Cabral, que seria exonerado do cargo 24 horas após assumir. Romildo fora reconduzido ainda naquele mês de junho à presidência do Banco. Hoje, a relação com o Ministério da Economia, ele garante, é de total apoio.
Romildo avalia ainda que as reformas estruturais, com destaque para a tributária e a administrativa, são indutoras do crescimento e devem fortalecer o ímpeto de empresas e investidores; e fala também sobre o cenário dos juros no País.
Confira entrevista com Romildo Rolim na íntegra
Como o Banco do Nordeste vem atravessando a pandemia?
No ano de 2020, logo no início de março - logicamente a gente fez todo ano um planejamento estratégico para aquele ano -, mas em março a gente montou uma plataforma de trabalho. Primeiro a questão de cuidar da saúde de pessoas, colaboradores, funcionários, clientes, cumprindo todos os protocolos sanitários para fazer a prevenção de saúde.
Um outro pilar também, a gente teve que cuidar da operação do banco. Então, naquele momento, por conta do isolamento necessário, a gente teve que ver toda uma estratégia de atendimento, em que poderia, por exemplo, uma agência estar só com metade dos funcionários atendendo de forma presidencial.
Nós tivemos que fazer todo essa estratégia de atendimento ao nosso cliente, ávido por notícias sobre se haveria repactuação da dívida, tendo em vista que alguns segmentos foram mais impactados; a questão dos créditos emergenciais para recurso para capital de giro, para dar liquidez às empresas, manter os empregos, pagar os custos fixos e atravessar aquele momento, que se esperava que passasse durante o decorrer do ano de 2020.
Então, nós tivemos que trabalhar estes pilares, as repactuações, suspensão de dívidas, suspensão dos pagamentos e encargos pra quem já era cliente tradicional, fazendo as repartições até dezembro de 2020, fizemos uns estudos internos, mas também tivemos resoluções de Governo, que nos deram todo o respaldo. Fizemos essas repactuações dando fôlego para poder receber a partir de janeiro de 2021.
E por outro lado, também os créditos novos, os créditos emergenciais. Nós operacionalizamos aqui uma linha de crédito do recurso do FNE Emergencial de R$ 3 bilhões, a 2,5% ao ano. Nós fizemos os R$ 3 bilhões
Nós acabamos nos adaptando e aprendendo a conviver com aquele momento de isolamento.
E neste novo momento da pandemia, com a segunda onda, quais são as prioridades do banco?
A gente viu que alguns setores, sobretudo o varejo, o ramo de material de construção, a indústria farmacêutica não tiveram tanto impacto. Mas em outros setores foi diferente. Então a gente continuou com essas regras de repactuação de dívidas.
Temos em andamento uma nova repactuação. Já estão em andamento também hoje repactuações possíveis para alguns setores, sobretudo olhando para micro, pequena e média empresa não rural – porque o agro a gente vê diferente, de caso a caso - até junho de 2021, essa suspensão de principais encargos. Para quem fatura até R$ 16 milhões por ano, é possível solicitar até pela internet ou pelo aplicativo do banco. Então, nós avançamos nessa questão do atendimento digital.
Estamos concluindo um estudo para poder elastecer para alguns setores, sobretudo os que mais estão sofrendo, até dezembro de 2021. E também continuar esta questão dos créditos emergenciais para esses setores. Claro que nós fazemos uma avaliação de risco, olhando a questão de endividamento, da capacidade de pagamento, da viabilidade técnica, econômica e financeira dos empreendimentos para continuar dando apoio creditício aos nossos clientes.
E o que se quer também é fazer todo o orçamento, que neste ano é em torno de R$ 40 bilhões, em torno de 24 bilhões de FNE. Estamos com muita demanda já dentro de casa. Temos um desafio de fazer R$ 15 bilhões do Crediamigo e outras operações pequenas de câmbio e capital de giro com recursos próprios. E assim continuarmos a nossa missão de fazer o crédito na visão de um banco de desenvolvimento, visando o impacto no emprego, renda, massa salarial.
Mesmo no cenário da pandemia, o lucro líquido recorrente do BNB aumentou. No ano passado, o crescimento foi de 12,8%. A que que você atribui este resultado?
Nós somos um bloco de desenvolvimento, o nosso resultado principal, o nosso objetivo, a razão de existir é fazer o atendimento às demandas de pessoas e empresas. É fazer os R$ 40 bilhões em operações de crédito, atender a todos, desde o microprodutor rural até a grande empresa rural, desde os pequenos negócios até a grande empresa. Esse resultado é que é o objetivo dentro do nosso planejamento estratégico.
Logicamente, a gente faz uma administração responsável, redução de despesas administrativas e custos administrativos, faz uma melhor gestão do risco de crédito. Aí os resultados começam a aparecer por conta da melhor qualidade da carteira de crédito, da redução contínua dos níveis de inadimplência, ou seja, a adimplência esperada é muito melhor. Ela foi melhor que em 2019 e 2018.
Então isso evolui por conta da melhoria da carteira. A carteira é melhor, o ativo é melhor. As operações foram feitas com mais estudo, a seleção do cliente é aprimorada e isso significa dizer que você tem uma melhor carteira. O resultado é fruto disso tudo.
Vocês lançaram neste ano uma linha de crédito exclusiva para mulheres. Como funciona essa linha e qual o objetivo estratégico dela?
Nós temos o maior programa de microcrédito da América Latina, o Crediamigo, temos 2,5 milhões de clientes ativos. No ano passado, nós contratamos 4,4 milhões de operações. Em torno de R$ 7,8 bilhões, foram direcionados para o público feminino, a empreendedora.
Neste programa, a gente tem visto que o público feminino se destaca, até pela atividade complementar, pela atividade informal, ou pela atividade mesmo formal. O fato é que elas vêm se destacando na performance do programa.
Com base nisso, a gente criou um programa específico para as mulheres, o Crediamigo Delas. Para isso, fizemos também captação de recurso internacional pelo Banco Europeu de Investimento, no valor de 200 milhões de euros.
Então este é um produto diferente dentro de todo um programa, com um prazo maior, que pode ir até 24 meses, com carência até 60 dias e taxa de juros menor, com limite de R$ 5 mil, suficiente para atender as necessidades do tíquete médio de empréstimo que temos feito pelo Crediamigo.
Como o banco tem atuado para fomentar a inovação no Ceará?
A questão da inovação é muito importante para o BNB, o banco criou o hub de inovação aqui em Fortaleza. E a gente, sobretudo, busca criar soluções para a operação do banco e dos nossos clientes. No início, a gente trabalhou muito para ampliar e viabilizar essa questão da transformação digital, que dentro dos bancos é muito importante.
A gente criou linha de crédito, como o FNE Inovação para projetos que têm cultura de inovação ou produto inovador. E a gente faz este financiamento. Também tem a questão das startups, a gente dá um apoio a boas ideias de startups, tornando isso uma realidade.
E nós estamos trabalhando muito forte neste princípio, porque é a inovação que traz sustentabilidade.
O Ceará tem se destacado muito no segmento de energias renováveis. Inclusive, a gente tem um grande projeto chegando, a usina de hidrogênio verde, a ser instalada no Pecém. Como o banco tem se posicionado neste segmento?
No ano passado, a gente já fez R$ 8,4 bilhões no Ceará. Desse valor, de FNE foi R$ 4,1 bilhões. A gente, de fato, ali no Pecém e no seu entorno, em projetos grandes estruturantes não só no Ceará, mas em outros estados, a gente tem sido o banco financiador. Desde 2017 a gente já aplicou mais de R$ 30 bilhões em todo o Nordeste.
E nós temos todo um trabalho que é feito na programação orçamentária do fundo constitucional do FNE. Todos os anos, quando a gente faz essa programação para o ano seguinte, a gente conversa com os governos estaduais, com as entidades de classe, federações de indústria, comércio, Sebrae, toda sociedade civil, através dos seus representantes, para ser discutido com a programação orçamentária, como a gente vai aplicar o recurso.
Os projetos estruturais são geradores de desenvolvimento, de emprego, de renda e estão dentro do nosso portfólio de negócios.
A tendência é que isso aumente, não é mesmo? Porque novos projetos estão chegando aqui e com cada vez mais força.
Tem uma quantidade muito grande de projetos, uma demanda grande. Nós temos programação orçamentária no FNE deste ano de R$ 24,1 bilhões, já aprovada pelo conselho deliberativo. As demandas têm sido grandes mesmo. Nossas esteiras negociais e técnicas estão lotadas, isso é fato. São projetos estruturantes e outros projetos estão saindo da gaveta.
O setor bancário como um todo tem passado por uma transformação digital muito expressiva, principalmente no setor privado. Como o BNB se insere neste fenômeno?
Transformação digital é um caminho sem volta. Temos trabalhado muito forte em alguns projetos de digitalização das nossas operações. Temos aplicativo do Crediamigo que a gente tá trabalhando cada vez mais para aumentar a funcionalidade.
A questão da micro e pequena empresa, a gente abre conta corrente, a gente já faz o cadastro digital, contrata crédito, renegocia dívidas, tudo online. São avanços. No Crediamigo a gente quer digitalizar toda a operação.
Estamos trabalhando cada vez mais para trazer esse tipo de movimentação, com foco na praticidade no atendimento aos nossos clientes, porque precisamos ser um banco competitivo.
Esta evolução digital de alguma maneira mudou a relação do banco com as agências físicas?
A operação do banco cresceu muito, pra você ter uma ideia, em relação a 2015 e 2016, hoje a programação orçamentária já é quase o dobro. A gente faz esses avanços pela modernização dos processos, pela digitalização da forma de atender.
Mas nós temos 292 agências, são 45 no Ceará. Temos um bloco de cem agências abertas nos últimos oito anos, mas elas já foram agências bem menores, porque todo o seu atendimento, a retaguarda é feita de forma centralizada, dentro de um outro processo que a gente tá fazendo já com todas as agências.
Hoje nós não temos nenhum plano para expandir mas também não temos para diminuir (as agências físicas). Todas são importantes para a gente manter, e é cada vez mais importante fazer ampliação de atendimento por outras ferramentas. E vale ressaltar que a gente tem atuação em 1990 municípios.
Ao longo dos últimos anos, o banco sempre vem apresentando resultados sólidos, inclusive sob a sua gestão. Mas houve alguns episódios de pressão política, como aquele momento em que o senhor saiu do comando do banco e em seguida retornou. Hoje, o senhor acha que tem uma ambiência política confortável pra gerir o Banco do Nordeste?
É confortável, sim. Temos todo o apoio do Governo Federal pra gente fazer nossa operação, ou seja, todos os assuntos que levamos, sobretudo ao Ministério da Economia, ao Ministério do Desenvolvimento Regional, as pautas de aperfeiçoamento da forma de fazer, captação de recursos... a gente sempre tem esse apoio. A gente sempre tem uma forte interação com o Ministério da Economia, Ministério da Desenvolvimento Regional, inclui também o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Então, a gente vem, realmente, tendo esse apoio, sim.
O senhor acha que o BNB tem atuado como um redutor de desigualdades regionais?
É, sim, nós temos esse papel e fazemos medições. Todo ano a gente mensura esses impactos. Então a gente precisa ver em cada segmento o que a gente gerou de emprego e renda. Nós temos esse levantamento e é importante prestar contas com a sociedade, com o Governo. O que a gente retorna para a sociedade? É em forma de aumento de emprego, de geração de renda, de crescimento da massa salarial, formação de tributos, formação de valor, aumento do PIB.
Não se empresta por emprestar e sim para gerar estes resultados e impactos oriundos das políticas públicas.
E se faz com responsabilidade, dentro de toda uma lógica de auto sustentabilidade, de responsabilidade com o recurso público, de forma que o dinheiro seja emprestado, mas também seja recebido.
Mudando um pouco de assunto, qual é a visão do senhor em relação à construção das reformas que estão em andamento no Congresso, a tributária e a administrativa?
Estas reformas são indutoras do crescimento da economia, são motores que vêm e impulsionam a vontade das empresas de crescerem, de fazerem investimentos. Isso aumenta a confiança na economia e no mercado e dá uma segurança econômica e jurídica para todos o setor produtivo.
A economia é movida por este sentimento de confiança. Então para um investidor brasileiro ou estrangeiro que quer investir aqui, isso traz, realmente, um impacto muito positivo e uma ciranda muito boa que leva crescimento ao País.
O senhor acredita que a Selic, a partir de agora, deva seguir uma tendência de alta? Como o banco está observando esta questão do juro?
O Banco Central vem administrando a taxa estática de juros com muita responsabilidade. A gente tem estudado e visto algumas previsões de alta até o final do ano, mas a gente acredita que essa tendência é de ajuste, né? É como se ela tivesse fazendo um ajuste para perto de 4%. A gente acredita que isso é uma tendência de equilíbrio dentro da economia.
Neste possível cenário de alta no juro, o que muda para o BNB?
A gente tem que trabalhar com todos os cenários. São 67 anos que a gente atua nessa nossa missão e cada ano a gente precisa olhar dentro do nosso segmento, sempre olhando para os pequenos, a formatação de produtos que sejam compatíveis, realmente, com a realidade dos nossos clientes, de forma que em cada momento, a depender de cada cenário, o que a gente faz no nosso papel de banco fomentador é criar condições para que cada um consiga gerar receitas necessárias para o cumprimento de suas obrigações, para sua capacidade de pagamento, suas vendas, a manutenção do poder de compra de seus clientes.
O que o senhor espera para o futuro do BNB?
A gente tá trabalhando para deixar o banco cada vez mais forte, temos feito isso nos últimos três anos. O corpo de funcionários trabalha bastante para manter o banco cumprindo a sua operação.
Posso dizer que nos últimos três anos fizemos todo o orçamento previsto, aplicamos todo o FNE, fazendo todos os nossos programas de microcrédito urbano e rural, atendendo todo o setor produtivo, apoiando a micro pequena empresa, o pequeno negócio, mas também os projetos estruturantes que são geradores de oportunidades de trabalho. Os indicadores do banco estão no seu melhor patamar, a inadimplência sempre menor, qualidade do crédito sempre maior.
Então, os indicadores do banco dentro do sistema financeiro, eles são compatíveis com os bancos públicos, com os bancos do seu tamanho. E nós prestamos serviço para sociedade, atendendo com responsabilidade, com velocidade, fazendo todo o trabalho interno com ética, integridade, aplicando recursos públicos, prestando contas.
Eu vejo um futuro promissor, de muitos anos, com a gente trabalhando nisso, sempre cuidando pra manter estáveis os recursos aqui dentro e captando ainda mais recursos. Queremos avançar na liderança do microcrédito, queremos ser o banco da micro, pequena e média empresa na nossa área de atuação e queremos aplicar o Fundo Constitucional cada vez com maior responsabilidade. Então são todas ações de um futuro promissor que vamos continuar construindo.