Só um produto subiu mais que combustíveis no Ceará em 2021; veja top 10 da inflação

Itens de alimentos e transportes lideram o ranking no acumulado do ano e no último mês de dezembro

Escrito por Samuel Quintela , samuel.quintela@svm.com.br
Legenda: Além dos itens de alimentação, outros itens, como passagens áreas, maquiagem e cinema, também foram listados pelo IBGE
Foto: Shutterstock

Os itens ligados a transportes e serviços foram os que mais puxaram a inflação de Fortaleza durante o ano de 2021. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), todos os 10 produtos que mais encareceram na Capital no último ano se enquadram em desses setores.

A tendência para 2022, segundo economistas consultados pela reportagem, é que a pressão inflacionária se estabilize e caia levemente de patamar. 

De acordo com os dados do IBGE, Fortaleza acumulou uma inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 10,63% em 2021, ficando acima da média nacional, de 10,06%. Entre os itens que mais tiveram alta de preço estão o café moído, o óleo diesel, a gasolina, o gás veicular, a cebola e frango.

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Os 10 itens que mais subiram no Ceará em 2021

  1. Café moído: 56,29%
  2. Óleo Diesel: 50,43%
  3. Gasolina: 47,27%
  4. Açúcar refinado: 44,85%
  5. Fubá de milho: 40,67%
  6. Gás veicular: 37,64%
  7. Cebola: 36,13%
  8. Gás de botijão: 35,15%
  9. Frango em pedaços: 33,20%
  10. Pneu: 30,71%

De acordo com Ricardo Coimbra, conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon-CE) no Ceará, essa tendência pode ser explicada pela desvalorização cambial do real frente ao dólar e pelo impacto da pandemia no mercado internacional, que criou um desbalanceamento dos níveis de oferta e demanda no mundo. 

"No ano de 2021 o processo inflacionário foi fortemente impactado pela elevação do câmbio, que estimulou exportações e como consequência a elevação dos preços dos produtos de alimentos nacionais que os produtores optaram por comercializar no mercado externo, principalmente a carne, a soja, o arroz, milho, o que diminuiu a oferta no mercado interno", disse. 

"Além disso, os preços dos produtos no mercado interno, como combustíveis também tiveram impacto, além do trigo, então você acaba tendo impactos forte do câmbio", completou.  

A perspectiva é corroborada por Raul Santos, sócio fundador da Aveiro Consultoria, que ainda apontou a leitura de instabilidade por parte do mercado brasileiro durante a crise gerada pela pandemia e o atraso do governo no andamento das reformas estruturantes, como a tributária e a administrativa. 

Questões logísticas

Os economistas apontaram algumas questões logísticas para explicar o resultado da inflação de Fortaleza ter ficado acima da média do Brasil. Segundo Coimbra, a capital cearense acaba registrando um impacto maior no encarecimento de alguns produtos por estar muito distante geograficamente dos grandes centros produtores. 

Como o Brasil ainda depende muito do modal rodoviário, se gastos com transporte sobem, muitos produtos passarão por um efeito cascata, elevando os preços para o consumidor final. 

"É importante destacar que muitos produtos que são produzidos no Sudeste ou Centro Oeste, por exemplo, como a carne, que teve uma inflação muito forte por conta da exportação, e a gente é meio que a ponta do processo logístico, então a distância acaba ajudando a encarecer um pouco, visto que parte significativa desse processo não se dá pelo mar, mas por rodovias, e isso encarece muitos produtos aqui no Ceará, como carne, óleo de soja, tomate, cebola, combustíveis, e outros", explicou. 

Ranking dos 10 itens que mais encareceram em dezembro de 2021 em Fortaleza

  1. Cebola: 32,32%
  2. Maracujá: 13,74%
  3. Passagem Aérea: 9,56%
  4. Goiaba: 8,44%
  5. Acém: 7,39%
  6. Ônibus interestadual: 6,43%
  7. Picanha: 5,75%
  8. Perfume: 5,34%
  9. Cheiro-verde: 5,25%
  10. Transporte por aplicativo: 5,21%

Projeções para 2022

Já em relação às previsões para este ano, ambos os especialistas destacam a expectativa de estabilização da inflação, que deverá cair de patamar. No entanto, Raul Santos destacou que essa redução não deverá se igualar aos resultados registrados há 5 ou 6 anos, quando havia um cenário menos preocupante para o IPCA.

Além disso, o economista apontou que, em alguns setores, a queda não será tão significativa, principalmente naqueles onde há dependência de compra de insumos em dólar ou se houver permanência de alto nível de demanda. Um dos exemplos citados por santos foi o setor de alimentos. 

A inflação deve se manter nesse patamar, mas com tendência de baixa. Em alguns setores, no entanto, ela deve continuar alta, como naqueles que dependem de insumos em dólar. O setor de alimentos também porque a demanda está muito grande, e no mercado interno está valendo muito exportar alimentos porque o dólar está muito alto, então isso pressiona bastante. 

Para o setor de energia, que enfrentou uma forte pressão inflacionária em 2021, as previsões também são de estabilização e redução de patamar nos próximos meses.   

"O setor de energia já sinaliza para se equacionar com essas chuvas que estão vindo no Nordeste, o que pode compensar a situação no Sul e no Sudeste, considerando a geração de energia limpa que temos aqui", disse. 

Estratégias de solução

Sobre as possíveis estratégias para contornar o avanço da inflação no País e no Estado, os economistas afirmaram que o Banco Central poderia atuar de forma mais ampla. Atualmente, a Instituição tem adotado a postura de controlar a inflação a partir da elevação da taxa de juros. 

Contudo, para Raul Santos, essa iniciativa, considerando a crise gerada pandemia, só colabora para reduzir o nível de atividade econômica e frear as intenções de empreendedores para fazer novos investimentos e gerar mais empregos no Brasil. 

"Eles estão entendendo que isso vai frear consumo e equilibrar oferta e demanda. Mas isso é ruim pro país porque temos taxa de juros elevada e inflação alta, então isso prejudica a atividade econômica, encarece o dinheiro e prejudica a criação de empregos, novos empreendedores, além de encarecer insumos", disse. 

Apesar de corroborar com a perspectiva, Ricardo Coimbra ponderou que a situação fiscal do País pode acabar pressionando as estratégias alternativas ao aumento da taxa Selic. 

"Interessante observar que a inflação não é de demanda, por isso essa necessidade tão forte de alta dos juros para tentar gerar algum impacto nesse processo inflacionário. A taxa de juros pode chegar até a 12%. O ideal seria observar outras variáveis nesse processo, mas a situação fiscal do País está bem comprometida, o que dificulta intervenções em que o Estado poderia criar mecanismos fiscais para conter essa tendência", afirmou.

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