Por que o cearense está cada dia mais interessado em energia solar? Entenda

Financiamento público para pessoas físicas quase dobrou em um ano; economia e abundância de recursos naturais contam como justificativas

Escrito por Luciano Rodrigues , luciano.rodrigues@svm.com.br
Foto que contém painéis fotovoltaicos
Legenda: Painéis fotovoltaicos vêm ganhando espaço em todo Ceará
Foto: Antônio Rodrigues

Em novembro de 2020, as contas apertaram na família da fonoaudióloga e empresária Cláudia Muniz. O preço elevado da eletricidade fez com que ela fizesse uma mudança radical: sair do sistema convencional de matriz energética e migrar para a geração própria energia a partir de geradores fotovoltaicos

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“Investi foi toda a minha rescisão e FGTS. Mas sempre pensando em como iria ter uma redução no futuro, poder usar sem peso na consciência e ter uma qualidade de vida. E o principal: contribuir para a energia renovável”, conta a fonoaudióloga.  

Cláudia também explica que a transição para a energia fotovoltaica (gerada a partir de uma fonte de luz, da qual se destaca a solar) trouxe economia significativa para as contas da família. Além disso, em mudança recente para um condomínio, as placas da fonoaudióloga irão fornecer energia para os demais apartamentos do imóvel. 

Minha conta era em torno de R$ 1.000 e depois zerou. Fiquei pagando apenas as taxas obrigatórias para todos. Passei a pagar em torno de R$ 150-200 (...) Mudei para um apartamento e conversei com o conselho/síndico para que fossem instaladas as placas. Consegui autorização e agora as placas passarão a gerar energia para nossa área comum. Isso é um grande benefício, porque vai melhorar para todos nós”.
Cláudia Muniz
Empresária e fonoaudióloga

A história da fonoaudióloga vai ao encontro do interesse crescente de pessoas físicas pela geração de energia solar na própria casa.

Conforme explica Mário Viana, diretor comercial e de marketing da Sou Energy, empresa especializada do ramo, o consumidor final busca fugir do alto preço cobrado pelas concessionárias de energia tradicional.

Para isso, os geradores fotovoltaicos são a opção mais escolhida pelos clientes por razões que vão desde a economia até o aproveitamento de recursos naturais abundantes na região. 

"Com a alta contínua do custo da energia elétrica, um número cada vez maior de pessoas tem buscado alternativas para controlar o orçamento doméstico, e estão encontrando na possibilidade de gerar sua própria energia uma alternativa extremamente viável, uma vez que o sistema tem uma alta taxa de eficiência, longa vida útil e equipamentos com longos períodos de garantia", pontua. 

Foto que contém painel fotovoltaico
Legenda: Painel fotovoltaico instalado na casa de Cláudia Muniz: geração excedente está indo para a rede de eletricidade do condomínio
Foto: Arquivo Pessoal

FINANCIAMENTO PÚBLICO EM DESTAQUE 

Com a procura cada vez maior das pessoas pela geração da própria energia, diversos bancos têm investido em oferecer facilidades ao consumidor final visando custear a instalação de geradores fotovoltaicos. O Banco do Nordeste (BNB), por exemplo, usa o FNE Sol Pessoa Física como principal carta de crédito. 

Nesta modalidade, os micros e minigeradores de energia podem obter empréstimos para a instalação de fontes de matrizes renováveis. Em toda a área de abrangência do BNB, isso inclui eletricidade solar, eólica ou biomassa.  

No Ceará, o destaque é para o setor de energia fotovoltaica, com recordes nos últimos anos. Na comparação entre 2021 e 2022, a procura de cearenses pelo crédito do banco deu um salto de 80%. Confira: 

  • Recursos contratados no FNE Sol Pessoa Física em 2021: R$ 16,1 milhões; 
  • Recursos contratados no FNE Sol Pessoa Física em 2022: R$ 28,9 milhões. 

O recorte de janeiro a junho coloca 2023 como recorde. Neste ano, a procura foi 3,5% maior do que em igual período de 2022 

  • Recursos contratados no FNE Sol Pessoa Física entre janeiro e junho de 2022: R$ 10,55 milhões; 
  • Recursos contratados no FNE Sol Pessoa Física entre janeiro e junho de 2023: R$ 10,93 milhões. 

Foto que contém painéis fotovoltaicos
Legenda: Painéis fotovoltaicos têm ficado mais comum em residências pelas facilidades de crédito junto a bancos
Foto: Tânia Rêgo/EBC

Uirá Cunha, gerente executivo de Suporte à Rede de Agências do BNB, expõe que a economia no custo da energia para o consumidor final torna ainda mais atrativa a contratação do financiamento, principalmente pelo fato de a eletricidade obtida por geradores fotovoltaicas ter uma vida útil longa. 

“A gente financia até 100% do valor do investimento. O cliente vê o benefício de imediato após a ligação do sistema. No mês seguinte à instalação, ele já vê os benefícios. O prazo máximo do financiamento é 8 anos, e a vida útil do equipamento é de 20 anos. Quando o cliente opta por isso, ele troca o custo de energia pelo financiamento. É uma operação autoamortizável”, ressalta Uirá. 

CUSTO-BENEFÍCIO QUE COMPENSA

Com o aumento das facilidades que minimizam o preço da instalação dos geradores fotovoltaicos, especialistas projetam que se torne ainda mais comum encontrar residências gerando a própria energia.

Para Raphael Amaral, professor do departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará (UFC), as linhas de crédito de bancos podem ser uma alternativa real ao consumidor de menor renda que quer economizar na conta de energia.

"Essa desvantagem de se ter o capital inicial elevado é tirada e quem tem acesso ao crédito, consegue fazer o financiamento e a instalação da microgeração. Aquilo que se pagava de conta de energia, por um tempo vai ser revertido em valor de parcelas que, em algum tempo depois, quando esse financiamento acabar, vai ser só lucro, um horizonte de 20 anos de lucro em unidades residenciais", aponta.

Apesar da "taxa do Sol", que entrou em vigor no início deste ano e que atribui novos valores pela distribuição da energia produzida a partir de painéis fotovoltaicos, o modal ainda é significativamente mais vantajoso do que a rede comum de eletricidade. 

Foto que contém painéis fotovoltaicos e pás eólicas
Legenda: Parques híbridos, com geração de energia solar e eólica, têm crescido no Ceará
Foto: Thiago Gadelha

Consumindo menos do que se está gerando, o excesso vai ser passado para a rede e vai ser abatida aquela energia que foi para a rede da sua conta de energia. Além disso, olhando mais para a frente, quando o mercado de energia se abrir, também se poderá entrar como um comercializador de energia para poder vender essa energia ao invés de estar apenas compensando".
Raphael Amaral
Professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFC

O professor ainda explana que é preciso aumentar as políticas públicas de fomento à energia produzida a partir de geradores fotovoltaicos, inclusive com a atração de investidores estrangeiros para a especialização da mão de obra local.

"O que pode ser feito é liberar os incentivos fiscais e também incentivos para que empresas produtoras de painéis venham se instalar no Brasil. Muitos materiais são vindos de fora, principalmente da China, e com produtos nacionais, com preços competitivos e mais baratos, ajuda na expansão desse modal. O Brasil tem um potencial de geração espetacular, e esse mercado ainda tem muito chão a ser explorado", argumenta Raphael Amaral.

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