Aeris reduz em quase 10 vezes prejuízo milionário, mas dívida sobe para R$ 1,5 bilhão
Situação da empresa continua crítica após alta demanda de produção
Os resultados financeiros da cearense fabricante de pás eólicas Aeris Energy continuam preocupantes em 2025. Nos três primeiros meses deste ano, a companhia teve prejuízo líquido de R$ 94,5 milhões, uma queda de 88,7% na relação com o trimestre imediatamente anterior (entre outubro e dezembro de 2024).
Naquele período, a Aeris encerrou o ano com um prejuízo histórico, de R$ 833 milhões. Já no comparativo com o primeiro trimestre de 2024, o prejuízo da empresa subiu quase 130%. Vale lembrar que, de modo geral, o saldo financeiro líquido trimestral da empresa vem sendo negativo nos últimos dois anos.
As informações constam no balanço trimestral da Aeris Energy divulgado no início da noite desta quarta-feira (7) ao mercado financeiro. Conforme a companhia, os resultados permanecem desafiadores e prolongam a situação crítica, mas estão dentro do esperado pela companhia.
Veja também
Em entrevista ao Diário do Nordeste, o CFO da empresa, José Azevedo, explica que, aos poucos, o caminho para a reestruturação vai mostrando resultado. Segundo ele, a Aeris "está em um bom caminho" para sair da crise.
"Realmente já somos uma empresa mais enxuta, a mais adequada ao tamanho atual e com uma margem satisfatória. Olhando a fase atual, comparado a uma realidade em experiências anteriores, com certeza que a gente daria uma margem mais próxima de zero do que acima de cinco", admite.
Esse processo é um pouco longo pela característica do produto que a gente vende. Isso foi feito não só para recuperar o caixa, mas também para nos dar tempo de olhar a estrutura de capital como um todo com mais calma, pensar como a gente volta a crescer. A empresa reduzida, de repente, é um susto, a gente anda atrás, mas também quando volta a crescer, tem um problema: precisa de dinheiro. Vivemos esses dois mundos.
Demanda "enfraquecida" também aumenta prejuízos
Em meio a um contexto de curtailment, onde as usinas geradoras de energia renovável, têm um limite estabelecido para produção de eletricidade, a Aeris tem apontado prejuízos que prejudicam as vendas de pás e demais componentes das turbinas eólicas.
"No Brasil, a crise enfrentada pelo setor eólico é profunda e tem causado impactos significativos em toda a cadeia produtiva. As perspectivas para o setor permanecem positivas no médio e longo prazo. Apesar de todos os desafios e a baixa demanda de mercado, a Aeris vem se preparando para enfrentar um cenário adverso a sua capacidade produtiva nos próximos dois anos", declara a empresa no relatório financeiro trimestral.
A empresa iniciou o ano com quatro linhas de produção ativas, mas desativou duas delas durante o trimestre, reativando-as já no começo de abril. Isso trouxe impactos na receita operacional líquida (ROL) da Aeris.
No primeiro trimestre de 2025, o indicador ficou em R$ 210,4 milhões, em uma suave queda de 0,5% no comparativo com os três meses finais de 2024. De acordo com a empresa, esse "desempenho reflete a quantidade de número de linhas ativas, associada a uma demanda de mercado ainda enfraquecida".
No comparativo com o 1º trimestre de 2024, a queda no ROL é ainda maior: de 59,2%. Na ocasião, o indicador foi de R$ 515,4 milhões. O custo dos produtos vendidos (1º trimestre de 2025 x 4º trimestre de 24) caiu 18%, mas o tombo neste trimestre é ainda maior no comparativo com os três meses iniciais de 2024: - 61,8% (na época, o indicador foi de R$ 470,2 milhões).
O Ebitda (sigla em inglês para valores antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado foi positivo no 1º trimestre de 2025 — R$ 11,3 milhões — na comparação com os três meses finais de 2024 (- R$ 1,6 milhão). Isso representa uma alta de 804,8%, mas queda de 86,7% na relação com o período entre janeiro a março do ano passado (R$ 42,5 milhões).
Renegociação faz dívida da Aeris quase duplicar
O impairment (baixa contábil) que fez com a companhia perdesse contrato com três empresas (Siemens Gamesa, Nordex e Weg) ainda continua impactando nos resultados. Para evitar maior pressão sobre as contas, a Aeris continua renegociando as dívidas.
Segundo José Azevedo, os principais credores da cearense são debenturistas (investidores que compram títulos de dívida de empresas, com direito a receber o dinheiro de volta mais juros) e três bancos - Banco do Brasil, BV e Santander. Juntos, eles somam quase 90% dos débitos da companhia, renegociadas ao longo deste ano.
"Anunciamos a renegociação de debêntures em 28 de março. Isso equivale a R$ 1,59 bilhão. Ontem (6 de maio), protocolamos mais uma renegociação. Esperamos terminar mais duas renegociações até o final desta semana. Com isso, a gente renegocia praticamente quase 90% da dívida total", expõe.
"Estamos com uma liquidez boa na companhia para os próximos anos. Na negociação, a gente está alongando o principal e está capitalizando os juros no principal, ou seja, não vamos pagar nem juros, nem principal nos próximos dois anos. Isso vai ajudar muito a companhia a se estruturar, até para recuperar o caixa operacional", completa o CFO.
Essas dívidas venceriam entre 2025 e 2026, mas com as renegociações, o pagamento para amortização envolverá um cronograma trimestral que começa em 2027 e seguirá até 2030.
Em pouco mais de um ano, a dívida líquida da Aeris só aumentou. No 1º trimestre de 2024, o endividamento da empresa era de R$ 774,6 milhões. Nos três meses finais de 2024, o valor já subiu para R$ 1,18 bilhão.
Já entre janeiro e março de 2025, o indicador foi de R$ 1,5 bilhão, alta de 26,8% no comparativo com os meses finais do ano passado e de quase 95% em relação ao mesmo período de 2024.
"Atualmente, estamos em processo de negociação para a repactuação das dívidas, com previsão de conclusão nas próximas semanas. Após a repactuação, não haverá mais a medição dos covenants (cláusulas contratuais com os credores que precisam ser cumpridas) financeiros", declara a Aeris.
José Azevedo ainda pondera sobre os investimentos da companhia no período, que somaram R$ 8,2 milhões, valor considerado "até alto para a receita que está". O montante só foi aplicado em razão de uma obrigatoriedade contratual de investimento em uma linha nova. O caixa da empresa também teve uma redução "significativa, mas já prevista".
"Tivemos R$ 250 milhões saindo da atividade operacional, dos quais R$ 200 milhões é a devolução de um adiantamento de um cliente. Isso estava previsto no início de janeiro", revela.