Aeris reduz em quase 10 vezes prejuízo milionário, mas dívida sobe para R$ 1,5 bilhão

Situação da empresa continua crítica após alta demanda de produção

Escrito por
Luciano Rodrigues luciano.rodrigues@svm.com.br
(Atualizado às 19:00)
Foto que contém um galpão branco com o nome Aeris na porção superior esquerda
Legenda: Fábrica da Aeris no Ceará. Empresa fabrica pás eólicas
Foto: Davi Capistrano/Divulgação

Os resultados financeiros da cearense fabricante de pás eólicas Aeris Energy continuam preocupantes em 2025. Nos três primeiros meses deste ano, a companhia teve prejuízo líquido de R$ 94,5 milhões, uma queda de 88,7% na relação com o trimestre imediatamente anterior (entre outubro e dezembro de 2024).

Naquele período, a Aeris encerrou o ano com um prejuízo histórico, de R$ 833 milhões. Já no comparativo com o primeiro trimestre de 2024, o prejuízo da empresa subiu quase 130%. Vale lembrar que, de modo geral, o saldo financeiro líquido trimestral da empresa vem sendo negativo nos últimos dois anos.

As informações constam no balanço trimestral da Aeris Energy divulgado no início da noite desta quarta-feira (7) ao mercado financeiro. Conforme a companhia, os resultados permanecem desafiadores e prolongam a situação crítica, mas estão dentro do esperado pela companhia.

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Em entrevista ao Diário do Nordeste, o CFO da empresa, José Azevedo, explica que, aos poucos, o caminho para a reestruturação vai mostrando resultado. Segundo ele, a Aeris "está em um bom caminho" para sair da crise.

"Realmente já somos uma empresa mais enxuta, a mais adequada ao tamanho atual e com uma margem satisfatória. Olhando a fase atual, comparado a uma realidade em experiências anteriores, com certeza que a gente daria uma margem mais próxima de zero do que acima de cinco", admite.

Esse processo é um pouco longo pela característica do produto que a gente vende. Isso foi feito não só para recuperar o caixa, mas também para nos dar tempo de olhar a estrutura de capital como um todo com mais calma, pensar como a gente volta a crescer. A empresa reduzida, de repente, é um susto, a gente anda atrás, mas também quando volta a crescer, tem um problema: precisa de dinheiro. Vivemos esses dois mundos.
José Azevedo
CFO da Aeris Energy

Demanda "enfraquecida" também aumenta prejuízos

Em meio a um contexto de curtailment, onde as usinas geradoras de energia renovável, têm um limite estabelecido para produção de eletricidade, a Aeris tem apontado prejuízos que prejudicam as vendas de pás e demais componentes das turbinas eólicas.

"No Brasil, a crise enfrentada pelo setor eólico é profunda e tem causado impactos significativos em toda a cadeia produtiva. As perspectivas para o setor permanecem positivas no médio e longo prazo. Apesar de todos os desafios e a baixa demanda de mercado, a Aeris vem se preparando para enfrentar um cenário adverso a sua capacidade produtiva nos próximos dois anos", declara a empresa no relatório financeiro trimestral.

A empresa iniciou o ano com quatro linhas de produção ativas, mas desativou duas delas durante o trimestre, reativando-as já no começo de abril. Isso trouxe impactos na receita operacional líquida (ROL) da Aeris.

foto da planta da Aeris no Porto do Pecém
Legenda: Cearense Aeris, fabricante de pás eólicas no Porto do Pecém, enfrenta crise financeira
Foto: Divulgação

No primeiro trimestre de 2025, o indicador ficou em R$ 210,4 milhões, em uma suave queda de 0,5% no comparativo com os três meses finais de 2024. De acordo com a empresa, esse "desempenho reflete a quantidade de número de linhas ativas, associada a uma demanda de mercado ainda enfraquecida".

No comparativo com o 1º trimestre de 2024, a queda no ROL é ainda maior: de 59,2%. Na ocasião, o indicador foi de R$ 515,4 milhões. O custo dos produtos vendidos (1º trimestre de 2025 x 4º trimestre de 24) caiu 18%, mas o tombo neste trimestre é ainda maior no comparativo com os três meses iniciais de 2024: - 61,8% (na época, o indicador foi de R$ 470,2 milhões).

O Ebitda (sigla em inglês para valores antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado foi positivo no 1º trimestre de 2025 — R$ 11,3 milhões — na comparação com os três meses finais de 2024 (- R$ 1,6 milhão). Isso representa uma alta de 804,8%, mas queda de 86,7% na relação com o período entre janeiro a março do ano passado (R$ 42,5 milhões).

Renegociação faz dívida da Aeris quase duplicar

O impairment (baixa contábil) que fez com a companhia perdesse contrato com três empresas (Siemens Gamesa, Nordex e Weg) ainda continua impactando nos resultados. Para evitar maior pressão sobre as contas, a Aeris continua renegociando as dívidas.

Segundo José Azevedo, os principais credores da cearense são debenturistas (investidores que compram títulos de dívida de empresas, com direito a receber o dinheiro de volta mais juros) e três bancos - Banco do Brasil, BV e Santander. Juntos, eles somam quase 90% dos débitos da companhia, renegociadas ao longo deste ano.

"Anunciamos a renegociação de debêntures em 28 de março. Isso equivale a R$ 1,59 bilhão. Ontem (6 de maio), protocolamos mais uma renegociação. Esperamos terminar mais duas renegociações até o final desta semana. Com isso, a gente renegocia praticamente quase 90% da dívida total", expõe.

"Estamos com uma liquidez boa na companhia para os próximos anos. Na negociação, a gente está alongando o principal e está capitalizando os juros no principal, ou seja, não vamos pagar nem juros, nem principal nos próximos dois anos. Isso vai ajudar muito a companhia a se estruturar, até para recuperar o caixa operacional", completa o CFO.

Essas dívidas venceriam entre 2025 e 2026, mas com as renegociações, o pagamento para amortização envolverá um cronograma trimestral que começa em 2027 e seguirá até 2030.

Pá eólica Aeris
Legenda: Fabricação de pás eólicas enfrentam queda de clientes e alta variação do preço do dólar
Foto: Divulgação/Aeris

Em pouco mais de um ano, a dívida líquida da Aeris só aumentou. No 1º trimestre de 2024, o endividamento da empresa era de R$ 774,6 milhões. Nos três meses finais de 2024, o valor já subiu para R$ 1,18 bilhão.

Já entre janeiro e março de 2025, o indicador foi de R$ 1,5 bilhão, alta de 26,8% no comparativo com os meses finais do ano passado e de quase 95% em relação ao mesmo período de 2024.

"Atualmente, estamos em processo de negociação para a repactuação das dívidas, com previsão de conclusão nas próximas semanas. Após a repactuação, não haverá mais a medição dos covenants (cláusulas contratuais com os credores que precisam ser cumpridas) financeiros", declara a Aeris. 

José Azevedo ainda pondera sobre os investimentos da companhia no período, que somaram R$ 8,2 milhões, valor considerado "até alto para a receita que está". O montante só foi aplicado em razão de uma obrigatoriedade contratual de investimento em uma linha nova. O caixa da empresa também teve uma redução "significativa, mas já prevista".

"Tivemos R$ 250 milhões saindo da atividade operacional, dos quais R$ 200 milhões é a devolução de um adiantamento de um cliente. Isso estava previsto no início de janeiro", revela.

 

 

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