Inadimplência desacelera no Ceará: o que está por trás da melhora?
A economia cearense encerra o mês de outubro com um dado que anima analistas e lojistas: a inadimplência continua crescendo, mas em ritmo menor. Segundo a mais recente edição do Radar do Varejo Cearense, divulgada pela Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará (FCDL-CE), o aumento do número de consumidores negativados desacelerou de 10,9% em setembro de 2025 para 7,9% em outubro, na comparação anual.
Ainda que o volume continue acima do registrado no ano anterior, a perda de força no avanço das dívidas em atraso é vista como um sinal de estabilização financeira das famílias cearenses.
Essa melhora, embora gradual, ocorre em um contexto econômico mais moderado, mas ainda resiliente. Os dados do Indicador de Inadimplência de Pessoas Físicas do Ceará, do SPC Brasil, mostram que, em outubro de 2025, o total de consumidores com nome negativado continuou apresentando alta em relação ao mesmo mês de 2024, mas com ritmo menos intenso.
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Cada devedor no Estado possui, em média, R$ 4.529 em dívidas, valor 8,9% superior ao de outubro de 2024. A composição dos débitos permanece concentrada nas faixas de menor valor: 31,7% dos inadimplentes devem até R$ 500, enquanto 19,7% acumulam dívidas entre R$ 2,5 mil e R$ 7,5 mil. Já 16,7% possuem compromissos superiores a R$ 7,5 mil.
Embora o quadro ainda indique fragilidade financeira, a desaceleração do ritmo de crescimento tem explicações claras, ligadas especialmente ao mercado de trabalho, ao comportamento das famílias e à dinâmica recente do varejo cearense.
Mercado de trabalho ainda aquecido sustenta regularização de dívidas
O primeiro fator determinante é o mercado de trabalho, que segue apresentando números significativos mesmo em um ambiente econômico mais moderado. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) revelam que, de janeiro a setembro de 2025, o Ceará criou 51.118 vagas com carteira assinada.
O número é inferior às 55.064 vagas abertas no mesmo período de 2024, mas ainda representa um volume robusto que contribui diretamente para a manutenção da renda das famílias.
Somente em setembro deste ano foram criadas 10.561 vagas formais, impulsionadas principalmente pelo setor de serviços, responsável por 3.727 novas vagas, e pelo comércio, que abriu 1.458 postos.
A expansão do emprego formal, ainda que em desaceleração, funciona como um amortecedor importante contra a inadimplência, pois melhora a capacidade de pagamento dos consumidores e reduz a necessidade de recorrer a crédito de maior risco.
Em outras palavras, quando o mercado de trabalho continua gerando oportunidades, mesmo que em ritmo mais moderado, as famílias conseguem organizar suas finanças com mais facilidade. Esse movimento alimenta renegociações e regularizações de dívidas, diminuindo a pressão sobre os índices de inadimplência.
Varejo resiliente reduz riscos e melhora ambiente financeiro
Outro ponto central para entender a queda do ritmo de inadimplência é o comportamento do varejo cearense. Embora o setor não esteja crescendo com a mesma intensidade dos anos anteriores, o desempenho permanece positivo.
De acordo com o presidente da FCDL-CE, Freitas Cordeiro, os dados consolidados mostram que, de janeiro a setembro de 2025, o comércio do Estado “continua avançando, ainda que em ritmo mais moderado do que no ano anterior”. Ele destaca que essa trajetória segue alinhada ao movimento nacional, mas reforça que o varejo cearense tem demonstrado “resiliência e desempenho superior ao panorama brasileiro”.
Um comércio resiliente impacta a inadimplência por dois caminhos. Primeiro, sustenta a geração de empregos, especialmente temporários — que tradicionalmente se intensificam no último trimestre do ano. Segundo, cria condições mais favoráveis para renegociação, parcelamento e acesso ao crédito, estratégias essenciais para famílias que precisam reorganizar dívidas sem assumir novos compromissos elevados.
Além disso, a moderada expansão do setor pode estar levando as empresas a adotarem práticas de crédito mais prudentes, o que reduz a chance de novos atrasos e contribui para a desaceleração observada nos indicadores.
Comportamento das famílias aponta maior cautela no endividamento
A desaceleração também reflete um ajuste natural no comportamento dos consumidores. Após anos marcados por juros elevados e restrição de renda, muitos cearenses passaram a demonstrar maior cautela na hora de assumir dívidas. A própria composição das faixas de inadimplência — com forte concentração de débitos de até R$ 500 — mostra que grande parte da população está tentando evitar compromissos de maior valor.
Essa mudança de postura também pode estar relacionada ao aumento das renegociações de dívidas, impulsionado por programas nacionais e estaduais de regularização, além da expectativa de recebimento do 13º salário, fator que tradicionalmente influencia as decisões financeiras das famílias no segundo semestre.
Tendências para o fim do ano
Para os últimos meses de 2025, a tendência predominante é de continuidade da desaceleração da inadimplência. O pagamento do 13º salário, a intensificação das campanhas de renegociação e a própria dinâmica do varejo no período de festas costumam gerar um efeito positivo sobre os indicadores. A renda extra permite que muitos consumidores quitem dívidas antigas, regularizem o nome e iniciem o próximo ano com maior fôlego financeiro.
Ao mesmo tempo, o consumo deve crescer, mas de forma mais cautelosa. As famílias, mais conscientes das limitações orçamentárias, tendem a priorizar compras essenciais ou fortemente descontadas, especialmente em um cenário de juros ainda elevados e renda que cresce de forma moderada.
Por fim, o mercado de trabalho deve seguir desempenhando papel importante. Embora a geração de empregos possa não repetir os números mais fortes dos últimos anos, a perspectiva é de manutenção de níveis suficientes para sustentar a atividade econômica e apoiar a recuperação financeira das famílias.
Portanto, o movimento de desaceleração da inadimplência no Ceará não é um evento isolado. Ele reflete uma combinação de fatores estruturais — como mercado de trabalho resiliente, varejo estável, programas de renegociação e maior cautela das famílias — que vem ajudando a estabilizar o ambiente financeiro no Estado.
Se essas tendências se confirmarem, o fim do ano deve apresentar um cenário mais equilibrado, marcado por consumo moderado, recuperação gradual do crédito e redução adicional da pressão sobre os indicadores de inadimplência. Essa pode ser a sua oportunidade em regularizar sua vida financeira, ou pelo menos, começar a organizá-la.
Pensem nisso! Até a próxima
Ana Alves- @anima.consult